BEM AVENTURADO O QUE SUPORTA OS INFORTÚNIOS COM FÉ
(mas até quando?...)
Olho para as águas da laguna de Marapendi transformadas mais uma vez num depósito de fezes pela estação da CEDAE de mesmo nome, situada em suas margens. |
||
Não adianta absolutamente NADA dizer que o governo “investiu quinhentos, seiscentos, um bilhão de reais em saneamento”, quando o gerenciamento dos recursos resultam em resultados ambientais pífios. Não são apenas os valores, mas principalmente o gerenciamento dos mesmos irão gerar dentro de um planejamento estratégico técnico e geográfico e não apenas midiático, os resultados ambientais esperados. Lembrando do óleo, o rio Iguaçu, um dos enormes valões de esgoto e lixo que desova sua putridão na baía de Guanabara, continuava sendo asfaltado por alguma coisa que no meu planeta natal, chamamos de óleo, mas por aqui, onde predomina o mundo dos “malfeitos e dos aloprados” não há ainda uma denominação exata, um vazio forçado pela peleguismo ambiental vermelho em detrimento de outra mais do que poderosa estatal, a PETROBRÁS e sua refinaria REDUC. Mas nesse quadro de degradação, pintado em marrom, cinza, negro, há também espaço para o verde abacate das cianobactérias que a cada maré de sizígia invadem a praia da Barra. Vou acompanhando os infortúnios da mãe Natureza, tratada com desprezo e suas respostas silenciosas. Como já disse, desde que o inferno e Deus se tornaram politicamente corretos o Homo fecalis e o Homo corruptos , deitam e rolam visto que no inferno não há mais vagas e Deus em sua misericórdia infinita aceita à todos de braços abertos. Um dia antes, eu recebia da secretaria municipal de meio ambiente da cidade do Rio de Janeiro, o diploma de honra ao mérito – parceiro ambiental em conseqüência de “minhas iniciativas que contribuem para um Rio mais sustentável”. Enquanto a homenagem acontecia e meu ego se sentia agradecido, eu me perguntava, por que eu estava recebendo tal homenagem? O que eu fazia que me distinguisse dos demais cariocas? Logo percebi que eu estava lá não pela homenagem em si, mas para trazer no pouco mais de um minuto diante de autoridades e um público associado às questões ambientais o grito das lagoas, manguezais e baías de minha cidade na qual trabalho. Talvez reflexo de algum tipo de egocentrismo mas nos poucos momentos que estive com o microfone, pude informar mais uma vez o estado de profunda degradação no qual meus amigos e amigas vivem e perecem numa cidade em constante transformação. Um dia depois do vôo acompanhado pelo Cônsul Geral da Itália que me acompanhou no vôo do projeto OLHOVERDE, sinto um peso enorme sobre as costas. Meu corpo moído, sono durante boa parte do dia, pálpebras pesadas, como se não tivesse dormido durante a noite anterior. Praticamente nada do que eu havia presenciado e encaminhado à imprensa e às autoridades geraram reação ou divulgação proporcional ao caos que eu havia observado. Era como se tudo fosse para ser daquele jeito mesmo. “Tudo tão errado que até parece certo”, como dizia a letra de uma música dos anos oitenta. O caótico processo de degradação, suas conseqüências ambientais e na saúde pública não geram mais manchetes nem notas de rodapé, visto que se tornaram lugar comum. Pode ser que algo mude, visto que o importante é continuar “jogando os dados”, esperando que de onde menos se espere surjam os reforços contra os destruidores de mundos. Enquanto isso, continuo fotografando e denunciando num planeta de surdos, mudos, cegos e sem olfato. Mario Moscatelli - Biólogo - MSc. em Ecologia |
política de privacidade | meio ambiente | ongs | universidades | página inicial
A
opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade dos mesmos