início bocadomangue Mario Moscatelli

DESEJO DE MATAR



Nos anos setenta houve uma série de muito sucesso estrelada pelo artista Charles Bronson que, em resumo, teve a família chacinada por uns delinquentes e a Justiça, surda, cega e muda, pouco ou nada fez para aplicar a justiça esperada.

Como o protagonista não tinha sangue de barata, resolveu fazer “justiça com as próprias mãos” e saiu dando “téco” em bandido a torto e a direita. Não sobrava ninguém. Esse enredo gerou inúmeras continuações, uma pior do que a outra como também séries de tv.

É claro que tamanho sucesso por “obras” cinematográficas de gosto duvidoso tem um motivo: A sociedade que pensa e acompanha toda a sacanagem que rola na justiça de uma forma geral anda de saco cheio de tanta brochura e das leis que beneficiam assassinos, ladrões de colarinho branco, pedófilos, motoristas embriagados, traficantes e alimenta seu imaginário com um herói com consciência do tipo capitão Nascimento que faz acontecer o que todo cidadão e cidadã de bem gostaria de fazer não só com os malandros como e principalmente com a maioria dos políticos.

Mas o desejo de matar que eu acompanho vai muito além. Toda a degradação que eu acompanho do monitoramento ambienta aéreo, reflete o mais claro desequilíbrio da Força, onde o lado sombrio da espécie humana deseja e executa com requintes de crueldade a chacina dos recursos naturais da minha cidade e das regiões circunvizinhas. Com um sorriso patético, produzido para os eventos especiais, políticos se revezam em palanques, rasgando elogios uns para os outros nas obras inauguradas que imediatamente depois serão abandonadas à própria sorte. Com uma platéia convidada a dedo, as palmas se repetem a cada final de discurso que não diz nada de novo naquele patético show de representação de última categoria.

É de dar nojo, os segredinhos e sorrisos trocados ao pé do ouvido, acenos para escolhidos na platéia como se tivessem encontrado algum grande amigo onde em cada inauguração e reinauguração, visto que há alguns anos a mesma obra inacabada é reinaugurada inúmeras vezes até ser abandonada mais uma vez, materializa um patético circo de horror de última categoria.

Enquanto a suruba ambiental continua a todo vapor junto ao frenesi de inaugurações e conchavos pré-eleitorais onde se faz articulação com espectros políticos que envolvem de Deus à Satanás, eu observo e redijo representações ao ministério público estadual para a doutora Rosani Cunha, a promotora com a qual tenho o privilégio de obter resultados práticos das horas que gasto sobrevoando, fazendo relatórios e encaminhando os mesmos, pedindo providências.

Infelizmente nem sempre é assim, pois para alguns representantes do Ministério Público, se encaminham graves denúncias ambientais que caem no limbo do esquecimento enquanto os problemas denunciados vão se agravando dia a dia e as respectivas autoridades, sabe-se lá o que fazem com as denúncias encaminhadas, É claro que quando acontece alguma catástrofe e muitos holofotes da mídia ficam a disposição, provavelmente deve ter até briga por quem irá conduzir o caso, mas passa o tempo, quase nada se resolve, ninguém é punido e todos recebem seus salários sem serem incomodados, a não ser o meio ambiente que foi liquidado e os pobres coitados que morreram por conseqüência desse ou daquele desastre. Estou errado? Então me digam quem foi punido nos seguintes casos:

-Mortandades de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas?
-Mortandades de peixes na Lagoa de Marapendi?
-Lançamento de esgoto nas praias de Botafogo, marina da Glória, sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá?
-Vazamentos de óleo em manguezais e no espelho dágua na Baía de Guanabara nos anos 1997 e 2000?
-Vazamentos de metais pesados efetuados pela empresa Cataguazes?
-Vazamentos de óleo provocados pela empresa Chevron?
-Aterros em manguezais no município de Paraty?

NINGUÉM FOI, ESTÁ OU SERÁ PRESO! ISSO É CERTO COMO A NOITE! Pois como já disse inúmeras vezes no BRA$IL O MAL AMBIENTAL COMPENSA! É o desejo de destruir por ação e omissão, como se aquela merda de água das baías, aquela merda de manguezais, aquela merda de costões rochosos, restingas e lagoas não valessem bosta nenhuma, apesar de protegidos de mentirinha por leis que pegam e não pegam dependendo de quem seja o degradador.

Agredimos com prazer mórbido o planeta que nos gerou, tal como aqueles adolescentes sem causa que odeiam os pais que tudo lhe deram, mas que por estarem na adolescência precisam canalizar sua energia para algum alvo. Alguns canalizam para o estudo, para a evolução do intelecto, para os menos favorecidos, para o físico, mas uma grande maioria canaliza para a violência, para a autodestruição. E é isso que afinal vive a espécie humana, seu período de adolescência efervecente, certa que nunca irá morrer, levando ao extremo a adrenalina e a maravilha e o horror de estar vivo.

DESEJO DE MATAR
Foto: O "grande exemplo" da política de habitação da cidade do Rio de Janeiro: Rio das Pedras.

Numericamente isso é facilmente perceptível pelos gastos em armas estimados por ano jogados na vala da morte dos Siths: UM TRILHÃO DE DÓLARES! Enquanto isso, outro lado da humanidade, liderada por Jedis, mendigam recursos voltados para manter vivos milhões de seres humanos situados muito abaixo da linha da pobreza mais miserável possível e imaginável. O que eles conseguem aos trancos e barrancos: UM BILHÃO DE DÓLARES!

Pois é, e assim é o mesmo pensamento de quem não trata o esgoto que nós contribuintes pagamos para a estatal CEDAE. Vou explicar: quando a CEDAE pega um “gato dágua”, faz um verdadeiro circo. Chama a imprensa, dá o nome do ladrão, enfim só falta dar um pau-de-arara no salafrario. Isso tudo se deve ao roubo de um produto que custa caro, água que precisou ser depurada, esterelizada e conduzida por meio de encanamentos e bombas até a casa da “dona Maria”. Em contrapartida os “ratos de esgoto”, rolam soltos sem serem incomodados pela mesma empresa. Mas qual seria o motivo? Algum preconceito faunístico?

Fácil de responder: quando se recebe a conta da CEDAE, metade da conta é água e a outra metade é o suposto tratamento do esgoto, o mesmo que jorra em baías, rios e lagoas. Portanto na medida em que jorra no meio ambiente, a toda poderosa CEDAE, gera um superávit, um estelionato ambiental e, portanto gera um grande lucro com isso, pois não recebendo o esgoto pelo qual ela cobra o tratamento que não faz, ela economiza energia e demais produtos em seu sistema de bombeamento e tratamento. É um verdadeiro negócio do BRA$IL $IL. Não é à toa que a CEDAE é a toda poderosa empresa estatal que é tratada com tanto zelo, mimo, ternura e corporativismo pelo resto da estrutura pública estadual.

Está explicado o assunto dos corpos d'água da cidade do Rio de Janeiro terem sido transformados num pinico estatal, adicionando-se que na cabeça de nenhum presidente ou diretor da CEDAE passa mas nem de longe em encruzilhada em sexta-feira 13 que algum dia poderá ser alcançado pelas trêmulas mãos da justiça, cega, surda, muda e ultimamente tetraplégica e aí deita-se e rola diante da degradação gerada. Literalmente com aquele sorriso que apenas os ungidos políticos acima do bem e do mal possuem, apenas faltam dizer em alto e bom som, FODAM-SE e continuem pagando suas continhas bem quietinhos seu bando de BABACAS!

No entanto, acreditando sempre em fadas, ainda espero a chegada dos reforços alienígenas ou de algum portal espaço-temporal para colocar ordem parte dessa bacanal nos próximos quatro anos, onde essa batalha final, traçará com aquilo que teremos de conviver pelas próximas décadas na cidade que já foi maravilhosa.

Mario Moscatelli - Biólogo - MSc. em Ecologia

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