início bocadomangue Mario Moscatelli

AVANTE SUCUPIRA!

Pois então aqui chegamos ao amargo e azedo centésimo artigo.

A Boca do Mangue nasceu fortuitamente de um encontro meu com o Marco, então aluno de biologia, que me perguntou na fotocopiadora da universidade Santa Úrsula se eu toparia escrever uns artigos para o site que ele andava organizando.

Topei inicialmente por educação, mas há algum tempo o espaço criado na Boca do Mangue tem sido uma forma produtiva e saudável, pelo menos para mim, de expor toda a minha indignação diante de tudo que vejo em nossa colônia.

O título “Avante Sucupira” está associado com a primeira novela em cores da TV Globo chamada “O Bem Amado”, lá nos anos setenta em plena ditadura. A mesma fazia um retrato dos políticos, de suas ações e pilantragens numa cidade do interior, a famosa Sucupira. Passados mais de trinta anos, seu contexto continua infelizmente atualíssimo na atual “vida” política brasileira.

Mas vamos para “os finalmente”, como diria o prefeito Odorico Paraguassú.

Pois bem, e o centésimo artigo não poderia estar mais recheado de cagadas oriundas do “puder púbico” de nossa colônia ou de nossa republiqueta de bananas. Nosso cardápio vai variar dos ataques pessoais de autoridades públicas até o gasto faraônico em obras municipais como o abandono de outras. Tem para todos os gostos. Mas então vamos aos pratos:

1- Está no jornal O GLOBO(13/02/08) que a mirabolante, extasiante, apoteótica obra denominada Cidade da Música, como de praxe, estourou todas previsões orçamentárias. O custo final do mimo do prefeito vai sair para o morador da sucateada, incendiada cidade do Rio de Janeiro, coisa de QUATROCENTOS e SESSENTA MILHÕES DE REAIS! Dinheiro suficiente, por exemplo:

*Para a recuperação de toda a bacia hidrográfica e lagunas do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá orçado em QUATROCENTOS E QUARENTA MILHÕES, que continua sendo em 2008 uma gigantesca privada;

*Daria para construir mais uma linha amarela orçada em QUATROCENTOS MILHÕES DE REAIS;

*Muito provavelmente melhorar o ensino e construir cinco grandes hospitais tal como o Hospital Ronaldo Gazzola em Acari concluído em 2004, mas até hoje fora de funcionamento;

*Conservar as ruas esburacadas, recuperar a iluminação precária, conter 32 pontos críticos em 28 favelas orçadas esta última em VINTE E SEIS MILHÕES DE REAIS;

*Iniciar o saneamento da baía de Sepetiba e o gerenciamento de fato das unidades de conservação e todo o resto que cansamos de pagar sem nada receber.

É incrível para não dizer completamente improvável como essa administração municipal, comandada por “Nero”, “erra” nas contas. Foi assim no Pan, e agora se repete na Cidade da Música. Eram para serem gastos OITENTA MILHÕES e acabou ficando por enquanto em QUATROCENTOS E SESSENTA E UM MILHÕES.

SUCUPIRA
"...o centésimo artigo não poderia estar mais recheado de cagadas oriundas do “puder púbico” de nossa colônia ou de nossa republiqueta de bananas."

 

Dentro do contexto não apoteótico, mas escatológico e caótico da mente de nosso administrador municipal, investe-se tudo que se tem e sabe-se mais lá o que num “equipamento único em toda a América Latina”!

Continuamos numa cidade musical tomada por merda por toda parte e com aquele recalque do grande, do maior, do imenso. Somos melhores nisso e naquilo. Temos a maior ponte, a maior floresta urbana, a maior biodiversidade, os maiores canalhas, o maior apetite sexual, as maiores bundas. Somos os maiores espertalhões, onde “fazemos todos de otários”. Enfim aquela mania típica de recalcados, onde o peso do subdesenvolvimento não sai de nossa retórica nacionalista!

Pode escrever que daqui há alguns poucos anos aquele elefante branco estará abandonado e o dinheiro público, mais uma vez jogado no lixo como com tudo que eu vejo em nossa cidade!

2- Falando em lixo, a estação do arroio Fundo apodrece. Tendo sido investidos DEZ MILHÕES DE REAIS só para que os “atretas” não sentissem o cheiro de merda que exala do valão, após o fim dos jogos Pan Americanos, aqueeeele dos legados, a estação parou e desde então esta lá largada.

Faltam treze milhões para terminar aquele monumento à má gestão e à certeza da impunidade, sendo que agora a história, segundo me contaram é a seguinte:

No ano passado a União não queria repassar os treze milhões restantes ao município pois esse último, não estaria cumprindo sua contra-partida no convênio com a União, isto é, a duplicação da avenida Ayrton Senna. E assim o tempo passou, os meses passaram, o lixo se acumulando o esgoto escoando, as cianobactérias se reproduzindo e chegamos em 2008 e a estação, apodrecendo.

Nesse ano (2008) surge outra historinha contada por “quem não quer aparecer”.

Parece, salvo engano, que sobrou dinheiro repassado da União para a prefeitura, associado com as obras do Pan. Coisa que hoje totaliza uns OITO MILHÕES DE REAIS. Só que, a prefeitura alega não poder usar esse dinheiro em 2008 porque o convênio entre ela e a União caducou em setembro-outubro do ano de 2007. Por sua, vez a União diz que pela prefeitura ter esses OITO MILHÕES, não vai receber mais dinheiro por enquanto e essa masturbação se arrasta sem fim e sem orgasmo!

Ficam as seguintes perguntas:

Se de fato a prefeitura tinha esse dinheiro em 2007, qual o motivo dela não ter utilizado o mesmo pelo menos visando dar andamento na obra do arroio?

Qual foi o motivo que os “burrocratas” encontraram para não renovar o convênio entre município e União, visto que a obra iria só ser finalizada em 2008?

Salvo engano das informações repassadas por pessoas que “não querem aparecer”, o resumo da história é que a festa acabou e fodam-se os otários que compraram os apartamentos na tal Vila Pan Americana, bem como com os demais contribuintes que são achacados pelos impostos, pois o nosso dinheiro, até o momento está boiando no lixo e se não quiserem sentir cheiro de merda, que comprem máscaras de oxigênio!

Incrível é como diante de tamanho descaso, ninguém do ministério público, mesmo após repetidas denúncias pela mídia, não toma qualquer providência! É IN CRÍ VEL !

3- Viajando, recebi a notícia que segundo uma “auturidadi”, eu estaria devido minha posição técnica, causando um “desserviço” ao meio ambiente, bem como “comprometendo minha biografia”.

Destaco que ter opinião técnica diferente de uma suposta maioria em nossa colônia é praticamente um crime inafiançável. Tem sido assim por onde tenho atuado desde 1987, tanto em Angra dos Reis, na lagoa Rodrigo de Freitas, nas lagoas da baixada de Jacarepaguá, Gramacho e agora em outros municípios. Destaco que o tempo nas primeiras quatro áreas citadas me deu completo ganho de causa.

Lembro até hoje quando me confrontei com a estrutura corporativista da estatal de águas e esgoto e a omissão dos demais órgãos estaduais durante 1999-2002, nas grandes mortandades de peixe da Lagoa, quando sem o aplauso de qualquer “ambientalista” fui à polícia federal denunciar os desmandos da estatal ainda enquanto assessor do secretário de meio ambiente do estado e, consecutivamente atacado pela estrutura corporativista afirmando, mais uma vez, que eu seria candidato a algum cargo público.

Sempre quando desapontado por alguma posição que não se encaixe nos seus interesses pessoais, ideológicos ou corporativistas, o péssimo administrador público mimado, geralmente perde a compostura e parte para o ataque pessoal, fruto provavelmente daquela famosa falta de “berço”.

Chamado praticamente de mercenário, mesmo sem ter tido a curiosidade de saber o que foi escrito em documento técnico gerado sobre o assunto, o administrador se viu no direito de dizer publicamente o que bem queria de minha pessoa. Em outro país civilizado teria sido processado por calúnia e difamação. Mas por aqui é comum achincalhar o nome dos outros sem que aconteça nada com o difamador.

Visando reverter o aparente mal entendido por email, acabei tomando mais algumas desrespeitosas afirmações, fruto no meu entender de recalques pessoais inconfessáveis.

Enquanto isso, extensas áreas de manguezais são loteadas e ninguém aparece por lá, justamente por onde trabalho, como sempre costumo dizer, no meio do lixo, esgoto e cadáveres. Por lá dificilmente encontro os tais “ambientalistas” de plantão que segundo a autoridade tanto o cumprimentaram por suas difamatórias afirmações.

Mas como sempre digo a mim mesmo, o tempo dirá quem tem razão.

SUCUPIRA

4- No dia 11 de fevereiro de 2008 no jornal Estado de São Paulo, página A12, a manchete sobre a Amazônia era que projeto que tramita na terra da fantasia, digo Brasília, tem por objetivo legalizar DUZENTOS E VINTE MIL QUILÔMETROS QUADRADOS JÁ DEVASTADOS.

Entre a comemoração da bancada ruralista, a sugestão de demissão da ministra indicada por senador do Amazonas, as explicações do secretário-executivo do ministério do meio ambiente e dos desmentidos da ministra nos dias seguintes, fica a clara sensação que a grande floresta, independente de qualquer protocolo internacional e discursos de boa intenção do governo brasileiro, vai continuar ardendo em chamas e com ela toda sua biodiversidade em pleno processo de aquecimento global.

Tenho certeza que pela nossa mania de grandeza, nossas “auturidadis”, principalmente as legislativas federais, irão se esforçar em almejarmos o primeiro lugar como emissores de gases associados ao aquecimento global. Afinal, já somos os quartos da fila!

Reitero que se não houver por um lado alternativas econômicas viáveis para a população local e por outro o braço forte do poder público por meio das forças armadas, estas últimas também mantidas a pão e água, não adianta, o massacre vai continuar.

5- O mais completo estudo desenvolvido sobre os oceanos foi publicado na prestigiada revista Science. O mesmo sentencia que a espécie humana acabou com a existência de qualquer provável paraíso perdido nos oceanos.

Nossas ações tanto nas regiões costeiras, em última análise nossas grandes latrinas, como nas áreas mais afastadas da presença humana estão de uma ou outra forma, comprometidas seja em sua biodiversidade como no equilíbrio de seus ecossistemas.

Não é para menos, pois a sociedade humana tira em recursos naturais 25% mais do que o planeta tem condição de repor. Exemplo típico disso é a eliminação das espécies dos grandes peixes do Atlântico Norte. Os cardumes praticamente foram DIZIMADOS, e o que se encontra atualmente ou é economicamente inviável ou são peixes de dimensões reduzidíssimas quando comparadas com os indivíduos pescados há décadas atrás.

Nossa região sudeste é indicada no estudo como uma área altamente impactada por MERDA E RESÍDUOS que devem variar dos resíduos químicos tais como metais pesados como resíduos sólidos (lixo).

Sim Cariocas do século XXI, conseguimos após os últimos duzentos anos de pilhagem e malandragem transformar nosso litoral num dos litorais mais detonados do planeta.

Parabéns, pois continuamos crescendo desordenadamente com centenas de favelas só na cidade do Rio de Janeiro, aterrando manguezais (maternidades e filtros costeiros), despejando água de lastro contaminada por organismos exóticos de outras regiões em nossas baías, despejando esgoto onde haja água, e votando quase sempre em péssimos, populistas, assistencialistas administradores públicos que encarnam o verdadeiro cenário do apocalipse!

Não é uma constatação religiosa e sim técnica, pois a realidade superou há anos a ficção em nosso país!

6- Quanto aos cartões corporativos não vou me alongar, pois a podridão aí está e não é de hoje. Pode remexer o quanto quiser, pois o cheiro de merda vai continuar aparecendo e os “aloprados”, os “meninos”, a “base aliada”, a corte e a pqp vão continuar mamando, pois o espírito de sobrevivência das corporações parasitas do “puder púbico” fala mais alto do que qualquer divergência pessoal, disputa partidária, onde tudo acaba se acertando, com um “ministériozinho” aqui e acolá, umas emendas liberadas para o curral eleitoral, uma ou mais presidências de estatais, um segundo e terceiro escalão e vamos que vamos, pois as eleições já vem chegando.

Estou completamente e irremediavelmente desiludido com tudo que vejo. Não vejo saída. Continuo com meu trabalho, plantando manguezais, recuperando lagoas, apoiando os poucos e raros administradores públicos que existem em nossa cidade, mas com a amarga certeza que vamos pagar por todas nossas omissões muito mais do que já pagamos.

Tomara que eu esteja enganado.

Enquanto entre certezas e dúvidas, nossa cidade arde e com ela a maior floresta planetária.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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