início bocadomangue Mario Moscatelli

VONTADE POLÍTICA

Vontade é a típica coisa que dá e passa. Exemplo disso é passar na frente de uma loja e daí dar a vontade de comprar algo. Passou o tempo e a vontade desaparece, vai embora.

Pois bem, nesse contexto da volúpia dos sentimentos e desejos humanos aparece a perversa e mais nociva das vontades, a amoral vontade política.

Dessa tal vontade e principalmente da falta dela é que surgem as maiores desgraças municipais, estaduais, federais e planetárias. Dependendo dela ou da ausência da mesma, países declaram guerra, invadem outras nações, promovem ou deixam acontecer genocídios, tudo em virtude do desejo, da vontade daquele grupo de políticos que no momento dominam o picadeiro político dessa ou daquela nação.

No Brasil de forma extremamente pedagógica em tempo real temos exemplos dos mais variados tipos e matizes.

Apesar da choradeira generalizada de ongueiros e demais militantes internacionais da “cousa verde”, a saída da ministra, atual senadora, teve um efeito devastador na “burrocracia verde” do ministério do meio ambiente, onde o atual ministro tem mostrado uma vitalidade em fazer acontecer e de fato usar seu poder de polícia, como nos passados cinco anos e meio de gestão nunca tinham acontecido. Forma de gerenciar? É pode ser, mas na minha opinião, respeitada a biografia de cada um, tem gente que é boa na parte de pensar, discursar e outras tantas em agir e muito poucas em pensar e agir. No caso da pasta do meio ambiente precisamos desse terceiro caso. Vamos ver quanto tempo a sua disposição e a vontade política do atual ministro vai conseguir afrontar os currais eleitorais de alguns “mudernos sinhozinhos” míopes do agronegócio bem como de toda a máfia que existe onde o poder público nunca existiu.

Outro exemplo, mas de falta de vontade política, tem sido o caso da estação de tratamento do valão de merda do Arroio Fundo. Colocada para funcionar a toque de caixa para o “maior evento das Américas”, os jogos Pan e Para Pan Americanos, a mesma se calou e foi deixada abandonada desde o final dos eventos, onde até hoje moribunda, flutuando às vezes, encalhada na maior parte do tempo no meio do lixo e da merda que deveria estar tratando, aguarda candidamente a retomada das obras. Enquanto isso, o ministério dos esportes e a prefeitura do Rio de Janeiro, vão jogando a batata quente um para o outro, ganhando e desperdiçando o tempo que o sistema lagunar não tem mais para esperar.

Talvez na próxima segunda-feira, dia 14 de julho, dia da queda da bastilha, quando vou participar de uma reunião no Ministério Público Estadual com ambos os protagonistas de mais essa triste ópera buffa, eu tenha de fato uma resolução para a questão ou a consolidação que sou o mais completo idiota, ao tentar lidar com esse tipo de gente.

Já sob a nova agenda das Olimpíadas, novos legados são defecados boca à fora por políticos e assessores do COB, enquanto o único legado ambiental do Pan ainda nem finalizado foi. Mas a falta de vontade política de finalizar essa obra não inviabiliza mais alguns oitenta milhões do “guvernu federau” visando viabilizar as olimpíadas, enquanto a estação do arroio Fundo, naufraga na falta de vontade política. Sua prima rica a Cidade da Música vai de vento em popa, tragando milhões de reais para o deleite musical de nosso prefeito escatológico, numa cidade onde falta tudo, do asfalto, à saúde e a vergonha na cara.

Se falta vontade política para votar importantes projetos de lei para a segurança e todas as demais matérias pendentes, em nosso congresso nacional não falta vontade política para seus políticos aumentarem a mamata de auxiliares sem concurso público, onde cada novo aspone de cada senador da república irá faturar por mês coisa de DEZ MIL REAIS! Num total mensal de aproximadamente NOVECENTOS MIL REAIS/mensais mais demais encargos contratuais!

VONTADE POLÍTICA
"...Terminado o experimento, o equipamento composto por dois barcos, dois motores de popa quatro tempos de 25 hp, dois compressores, um gerador..."


Com vontade política do governo Italiano foram doados ao governo do Estado do Rio de Janeiro equipamentos que visavam a melhoria de substratos anóxicos da baía de Guanabara. Terminado o experimento, o equipamento composto por dois barcos, dois motores de popa quatro tempos de 25 hp, dois compressores, um gerador elétrico etc, etc, etc, ficaram tomando sol, chuva e maresia por quase, salvo engano meu, DEZ MESES!

Quando se tentou buscar uma solução para a recuperação dos equipamentos, descobriu-se que os equipamentos haviam sido patrimoniados erroneamente pela UERJ. Aí demorou para se resolver a questão, mais TRÊS MESES pois a falta de vontade política da funcionária da instituição universitária em resolver a questão obrigou os equipamentos torrarem debaixo de sol e chuva mais um tempinho que apenas foi apressado quando informei que denunciaria publicamente a falta de interesse da mesma. Aí a vontade política apareceu do nada.

Enquanto isso por falta de vontade política, o único laboratório do Rio de Janeiro que recebia córneas viabilizando transplantes, fechava as portas por falta de verbas, bem como no Pará não parava, até a semana passada, de morrerem crianças recém-nascidas em hospital local.

O grupo dos oito países mais desenvolvidos, representados na maioria pelos que saquearam por quase trezentos anos todas as riquezas de suas colônias espalhadas pelo mundo principalmente entre os séculos  XVI e XIX, continuam conversando de como lidar com o aquecimento global e a falta de alimentos no mundo. A falta de vontade política gera discussões intermináveis onde não se chega a lugar nenhum e quando se chega se prometem ações para daqui QUARENTA E DOIS ANOS! Não vai dar mais tempo!

Mais uma vez enquanto isso, novamente a revista Science, alerta que os recifes de corais estão marcados para morrer (O GLOBO 11/07/08). Detalhe, mais de 25% das espécies marinhas tem como habitat os recifes de coral. Mais essa morte anunciada, segundo os pesquisadores é fruto de um conjunto de fatores que tem como carro chefe o aquecimento global, a pesca predatória e a contaminação das águas costeiras furto da ocupação desordenada da zona costeira. Em resumo agimos como uma força devastadora que por onde passa elimina a biodiversidade e gera o CAOS.

No final de semana, durante uma abordagem dantesca mais um pequeno carioca de três anos foi trucidado pela polícia militar nas ruas do bairro da Tijuca. O pequeno reagiu à ordem de prisão? Houve ordem de prisão? O pequeno com três anos era traficante? O pequeno era um político ou um poderoso banqueiro corrupto? Não, nada disso. Simplesmente foi mais uma vítima da histórica falta de vontade política de políticos escrotos, despreparados, incompetentes, enlouquecidos pela facilidade de não fazer, do manto da impunidade institucionalizada pelos foros privilegiados e pelas leis apodrecidas, que os mesmos criam a seu próprio favor e a de seus amigos. A morte desse pequeno carioca como de tantos outros e outras vidas recentemente, anualmente desperdiçadas, interrompidas, são o fruto da macabra falta de vontade política de uma classe que como já disse, é a ESCÓRIA DA HUMANIDADE, onde o pior da espécie Homo sapiens se traduz na vitória dos mais básicos instintos reptilianos sobre o mamífero superior. Tudo de ruim que você pode associar ao ser chamado humano está nele, se não de forma exposta, más de maneira latente, sempre pronta para usurpar da maioria o que poderia salvar vidas, milhares de futuros interrompidos para sempre.

Dormem tranqüilos, esses escrotos, em seus apartamentos funcionais, com suas e seus amantes, transitando em seus veículos, tudo pago com dinheiro que poderia estar sendo investido de fato para reverter esse caos local e global que insistimos em desatar irreversivelmente.

Ouvi-los no rádio dá nojo. Vê-los na televisão em seus paletós engomados, com suas testas cheias de botox é de arrepiar. São figuras sinistra. Isso que aí está não é DEMOCRACIA. Isso é uma perversão escatológica do que se imaginou de melhor para representar o que a suposta maioria desejaria. Nada do que aí está me representa!

Enquanto a dor mais profunda de mais um casal lateja em minha cidade, tenho certeza que a falta de vontade política vai continuar trucidando mais inocentes, seja na Tijuca, nas favelas, em todos os cantos desse projeto de nação caricaturado e os escrotos e mórbidos políticos vão continuar se alimentando de nossa apatia.

Enquanto bilhões de dólares são despejados anualmente na compra de novas armas e desviados em transações e especulações econômicas amorais em resposta à vontade política da corja da humanidade, pela falta de vontade política, milhões continuaram morrendo de fome, falta de água, falta de saneamento e guerras. Por seu lado os gases que sufocam o oásis continuaram sendo regurgitados pelas economias que não podem parar de crescer, num planeta de recursos ambientais finitos.

Hoje estou de saco cheio dessa corja engomada, dessa escória purulenta chamada classe política e de todos os seus aspones, discursos e leis vazias como também da apatia da sociedade omissa da qual eu faço parte, medrosa, que paga para apanhar e ser trucidada, emburrecida, pagando para ter migalhas dos que são pagos e muito bem pagos.

Merecemos o que está para nos acontecer. Todos exigimos punição para nós e para o futuro de nossos filhos e filhas. Essa será nossa sina.

OBS: Dêem uma olhada como equipamentos doados pelo governo italiano foram bem “cuidados” por quem deveria tê-los tratados com o devido respeito. As fotos foram tiradas no mês de março de 2008.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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