início bocadomangue Mario Moscatelli

CARANGUEJO NÃO VOTA

Pois então, lá fui eu dar uma olhada no manguezal que venho recuperando desde 2002 na foz do rio São João de Meriti, na divisa dos municípios de Duque de Caxias e Rio de Janeiro.

Junto com meu auxiliar que contava que em 150 metros quadrados de manguezal havia sido recolhido um volume de DEZ TONELADAS de resíduos, olhei para a parte externa de nosso sistema de proteção quando notei que não havia mais lama, nem tão pouco qualquer sinal de vida junto aquilo que havia sido lama algum dia. Sem qualquer dúvida junto às próximas centenas de metros cúbicos que eu e minha equipe iremos tirar daquilo que um dia foi um manguezal, eu podia contar dezenas de tubos de imagem, quinze sofás, dez poltronas, dezenas de pneus, isopor em quantidade incalculável, pedaços de cama e centenas de sacos de lixo doméstico todos em conjunto pressionando as árvores que ainda estavam de pé.

Ali estava eu com o pé furado num prego, cercado por todo aquele silencioso resíduo pensando até quando eu iria suportar todo aquele inferno de “secar gelo”.

Eu estava na direção da cabeceira da pista do aeroporto internacional do Rio de Janeiro e a toda hora passavam aeronaves dos mais diferentes países na mesma cidade onde “auturidadis” querem sediar em 20016 as olimpíadas! Mais uma mina de ouro para os espertalhões da vez. Enquanto isso, os rios Farias, Jacaré, Irajá, São João de Meriti, Sarapuí-Iguaçú, transformados em verdadeiros valões de MERDA, onde as “auturidadis du mumentu” garantem que num futuro que provavelmente NUNCA vai chegar aquilo ainda vai virar rio de novo. Piada de gente que não sai de gabinete e não quer sair!

Passa na minha frente por baixo de um isopor um caranguejo marinheiro perdido e atordoado, procurando alguma brecha entre os escombros para se proteger. Coitado procura em vão.

Enfurecido com o pé latejando vou até a ponte onde deveria estar funcionando uma ECOBARREIRA da SERLA, mas a mesma vaza lixo de uma das extremidades bem como do meio da dita “barreira”, uma verdadeira peneira. Com apenas um funcionário num barco tirando devagar, devagarinho aquilo que dá para tirar, de preferência as pets que podem ser vendidas, a maior parte dos resíduos vaza em direção à baía e aos manguezais.

Em outros dias, sempre um no máximo dois funcionários tiram o que de imediato a corrente do rio, digo valão, conduz mil vezes mais em direção à baía.

Faço matéria no jornal denunciando, mas a indolência governamental continua a mesma, pois provavelmente pouca gente lê jornal. Até que por fim além de falar consigo mostrar em cadeia de tv a causa da degradação e a conseqüência da indolência, e é quando descubro que a tal barreira já estava arrebentada OFICIALMENTE há pelo menos 60 DIAS. Acho pouco!

Na mesma matéria é veiculado que o órgão “responsável” estaria a partir daquele momento providenciando o conserto da barreira nos próximos quinze dias. Tenham certeza que eu e meu pé furado vamos cobrar!

CARANGUEJO NÃO VOTA
"...O que você está fazendo para isso tudo que eu mostro, mudar?"

Moral da história se não houvesse a denúncia PÚBLICA NUM MEIO DE MÍDIA pode ficar esperando deitado que a ineficiente barreira iria continuar arrebentada sabe-se lá por quanto tempo, visto que guaiamum, marinheiro, aratú, maguari, savacu, tainha etc, não votam, e em país onde quem vota geralmente é tratado como merda, após as eleições é claro, imaginem os bichos que não podem votar e manter essa famosa corja de classe política mamando de nossos impostos.

Pois bem, para relaxar fui prestigiar a inauguração de uma nova elevatória da Barra da Tijuca. Fala com um e com outro, aproveito e solicito ao senhor presidente da estatal de água e esgoto quando é que sua empresa iria finalmente fiscalizar as conexões clandestinas de esgoto nas galerias de águas pluviais da região. Sem pestanejar o mesmo retrucou gerando-me um verdadeiro “D éjà vu”, mais do que conhecido das “auturidadis púbicas” de minha cidade, que por ser de responsabilidade da prefeitura, as galerias de águas pluviais deveriam ser fiscalizadas pela fundação Rio-Águas.

Sob esses argumentos, os mesmos que na lagoa Rodrigo de Freitas durante 1999-2002 geraram a morte de QUATROCENTAS TONELADAS de peixes, que não votam, percebi que o único caminho mais uma vez seria o Ministério Público.

Cheguei em casa e encaminhei minha representação ao MP Estadual visando apurar responsabilidades e exigir providências. Logo recebi a resposta do mesmo MP me informando que já existe inquérito ou coisa que o valha em trâmite no MP sobre o assunto.

Diante disso o que me restaria fazer além de tapar o nariz?

Primeiro continuar pagando impostos municipais, estaduais e federais para sustentar autoridades do executivo que pouco estão se importando com a merda que é lançada diariamente, anualmente no sistema de águas pluviais e nas lagoas, até porque água não vota.

Segundo, continuar solicitando ao MP no que vai dar a tal apuração já em andamento, visto que não sei o falta para enquadrar tanto a CEDAE como a Fundação Rio Águas no sentido de ambas fazerem o serviço para o qual existem e são pagas com dinheiro público.

Destaco que não estou pedindo favor nenhum aos dois órgãos e nem estou sendo abusado, pois estou pagando e não estou levando, ou melhor pago por água limpa e recebo merda na praia e cheiro de podre nas ruas.

Terceiro, preciso viajar para Bostolândia, pois lá tudo é pago, e bem caro, nada funciona, todo mundo sabe das safadezas e maldades do “puder púbico” mas por ter na cabeça o que camarão também tem, todos continuam felizes sem reclamar pelo estelionato diário implementado pelo “cuverno lucau” que “ultimamenti” já gastando por conta do tal pré-sal, já considera todos os “prubremas du país rezulvidus”, da “educassão” ao “submarinu nucrear”.

Aí que saudade de Bostolândia, lugar onde até camarão vota. Mas só camarão.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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