início bocadomangue Mario Moscatelli

RIO, OUTUBRO DE 2008

Enquanto muito se fala na copa do mundo que será realizada em nossa colônia, enquanto se trabalha para a candidatura de nossa cidade para as Olimpíadas de 2016, inclusive até andei dando minhas sugestões ambientais para o COB, enquanto o gelo do ártico desaparece e a culpa do homem fica cada vez mais evidente (O GLOBO 21/10/2008), enquanto o departamento de oceanografia da UERJ informa serem irrecuperáveis quatro das cinco lagunas do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá (O GLOBO-Barra, 02/11/2008), enquanto bilhões de dólares são usados para salvar o sistema financeiro internacional e seus banqueiros inescrupulosos com dinheiro público, enquanto todas as promessas feitas pelo futuro prefeito do Rio de Janeiro devem custar uns quinze bilhões de reais para saírem da teoria para a prática (O GLOBO, 02/11/2008), enquanto meus cabelos caem, eu fui dar uma volta sobre a cidade maravilhosa.

Bom, sem muitos rodeios acompanhei sem grandes novidades ou sobressaltos:

  1. A APA de Marapendi, o “santuário” dos ecologistas de plantão, continua sendo invadida por amendoeiras e casuarinas;
  2. A APA de Marapendi o defecatório dos moradores do Recreio, continuar a ser transformada em latrina;
  3. O canal de Sernambetiba defecando suas águas pútridas provenientes de Vargem Grande e Pequena invade a praia da Macumba;
  4. Os aterros engolindo os Campos de Sernambetiba, abrindo espaço para novas favelas que apesar de denunciadas não param de crescer;
  5. A favela do rio Cabuçú-Piraquê avançando sobre apicuns e manguezais sem ser incomodada pelo “puder púbicu”;
  6. O rio Cabuçú-Piraquê reiterando sua vocação de valão de merda. Merda drenada da região de Guaratiba e que escoa bucolicamente para as águas da baía de Sepetiba;
  7. O ponto de captação da estação de tratamento de água do Guandu, de onde vem aquela aguinha que você bebe em casa, sendo devidamente regada a merda e florações de algas, visto que a transposição prometida pela CEDAE há um ano, dos rios de fezes que adubam a região, ainda não saiu da teoria;
  8. O maciço do Mendanha continua sendo desmontado por algum empreendedor de nossa cidade que tira na cara de quem quiser ver pedaços de rochas para suas finalidades comerciais;
  9. A tragédia anunciada que se chover forte vai ter barraco com vidas humanas sendo carregadas pelas “águas” do canal do Cunha;
  10. A estação de tratamento da Alegria, que continua uma tristeza, pois lá do alto nada de novo se observa, parecendo que a obra não saí do estágio que está há um ano;
  11. A Marina da Glória continuando sendo adubada com merda proveniente de galeria de “águas pluviais”, transformando a marina num pinico que quando escoa na maré baixa contamina a praia do Flamengo;
  12. A favela do Pavão-Pavãozinho contrariando as leis da física agora além de desmatar o que sobrou de vegetação inicia uma nova fase de empreendedorismo construindo direto na pedra;
  13. A favela do Pavão-Pavãozinho junto com a inoperância do “puder púbico” e a apatia da sociedade risonha continua transformando uma das encostas do maciço voltado para a “princesinha do mar” como lixão;
  14. O sistema lagunar a latrina de sempre, reiniciando sua fase mais produtiva, com a multiplicação de cianobactérias pelas lagunas de Jacarepaguá, Camorim e destas para a praia da Barra pela laguna da Tijuca;
  15. O valão de merda do arroio Fundo continua escoando seu conteúdo pútrido em direção a laguna do Camorim pois a obra da estação no mesmo arroio que agora tem dinheiro do Ministério das Cidades para ser reiniciada, não é reiniciada pois algum “burrocrata” do Ministério dos Esportes está sentado, deitado em cima de algum documento que impede o início da obra, enquanto isso foda-se a cidade do Rio de Janeiro até sua excelência se mexer;
  16. O rio Itanhangá o mais novo valão de merda da porção final da laguna da Tijuca continua escoando sua caca para as águas de pobre laguna, junto com a drenagem superficial e ninguém faz nada contra;
  17. A praia da Barra continua sendo contaminada a cada maré baixa.

Enfim tudo na mais clara normalidade. Nós pagando, eles recebendo para fazer e não fazendo quase porra nenhuma. A Cidade da Música lá, aquela coisa de concreto que eternizará o nome de nosso atual prefeito, como aquele que podia como os outros más não fez,também como os outros, e o comércio esperando vender mais 800% a mais que o ano que vem para as festas natalinas e as escolas de samba esquentando os batuques  pois o carnaval já está aí.

RIO OUTUBRO DE 2008
"...Enquanto a favela cresce o lixo continua se acumulando morro abaixo..."

Tudo como sempre esteve, só não sei de onde o departamento de Oceanografia da UERJ tirou a conclusão da tal irrecuperabilidade do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá, visto que existem várias propostas e projetos dizendo justamente o contrário de tal afirmação acadêmica. Destaco que longe das conclusões “científicas” do “estudo” de onde vem tal irrecuperabilidade eu próprio na prática tenho recuperado áreas degradadas não só do sistema lagunar como na baía de Guanabara tão ou mais degradadas.

Enfim seria bom que antes de afirmarmos qualquer irrecuperabilidade tivéssemos certeza do que afirmamos. Para mim não passa de um irresponsável factóide acadêmico.

Até o próximo vôo.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o global

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