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Anticorpos Neutralizantes

Anticorpos neutralizantes: A imunidade esterilizante é induzida por vacinas que bloqueiam a ação do vírus, impedindo-o de infectar a célula do hospedeiro.

Os Preciosos Anticorpos

5/5/2021 ::  Por Yuri Vasconcelos/Fapesp

A dificuldade em formular vacinas com potencial esterilizante reside no fato de que elas precisam estimular nosso sistema imune a produzir grandes quantidades de um tipo específico de anticorpo, conhecido como neutralizante.

Evolução do vírus
Evolução do vírus SARS-CoV-2

Esses anticorpos têm a capacidade de se ligar a pontos-chave das proteínas situadas nas superfícies virais que, normalmente, são as mesmas regiões que o patógeno usa para entrar na célula do hospedeiro ou onde há a promoção dos mecanismos de ingresso do vírus na célula.

“Anticorpos que se liguem especificamente em sítios-chave dessas proteínas de adesão ou em proteínas acessórias que medeiam a entrada do vírus na célula acabam neutralizando a infecção viral, impedindo que o vírus passe do líquido extracelular para o interior da célula”, explica o virologista Fernando Spilki, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS).

“Com isso, inibem completamente a replicação viral. Em consequência, promovem uma imunidade que é efetivamente esterilizante, pois evitam que a infecção se dissemine no organismo e sejam produzidas partículas virais em grandes quantidades, o que está associado à doença e ao contágio.”

Imunidade esterilizante e Anticorpos Neutralizantes

O sistema imunológico

No caso da Covid-19, destaca Caddy, para promover a imunidade esterilizante as vacinas deveriam induzir a produção de anticorpos neutralizantes que se liguem à proteína da espícula viral (as projeções que revestem o microrganismo), também conhecida como proteína S (de spike). E principalmente, complementa Spilki, a um ligante denominado RDB (receptor binding domain ou domínio de ligação ao receptor). “Esse objetivo, embora difícil de se alcançar [bloquear o RDB e conferir imunidade esterilizante], está na base do desenho das vacinas de vetores adenovirais, da AstraZeneca, e de mRNA, da Pfizer e Moderna”, ressalta o pesquisador da Feevale.

Os preciosos anticorpos
Aplicação em massa de imunizantes permitirá saber se, além de proteger contra a doença, eles também serão capazes de evitar a infecção pelo Sars-CoV-2

Em junho de 2020, a equipe do imunologista brasileiro Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, em Nova York, nos Estados Unidos, publicou um artigo na revista Nature mostrando que nem todos os doentes de Covid-19 analisados no estudo conduzido por seu grupo produziram os mesmos anticorpos, e que aqueles conhecidos como neutralizantes eram raros e achados em maiores quantidades apenas em algumas pessoas. O estudo concluiu que uma vacina eficiente seria a que estimulasse a produção desses anticorpos.

Sob o ponto de vista estrutural e de classificação, anticorpos neutralizantes integram as mesmas classes e subclasses das imunoglobulinas IgG, IgM, IgA, IgE e IgD, que compõem nossa imunidade humoral (ver Pesquisa FAPESP n° 294), mas pertencem principalmente à classe IgG e, em menor quantidade, à IgM.

Especialistas comentam que também seria importante que as vacinas induzissem a produção de anticorpos neutralizantes do tipo IgA, encontrados nas superfícies das mucosas das vias respiratórias, portas de entrada do vírus no organismo. “Para ter uma resposta mais robusta e bloquear a infecção, provavelmente vamos precisar de diferentes classes de anticorpos com capacidade de reconhecer o vírus”, conclui a pesquisadora de Cambridge.

Estudos:

ROBBIANI, D. F. et alConvergent antibody responses to Sars-CoV-2 in convalescent individualsNature. 18 jun. 2020.

Fonte: O esperado efeito das vacinas/Revista Fapesp  CC BY-ND 4.0

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