EntomologiaZoologia

Insetos no cardápio

Insetos no cardápio: Com alto valor proteico, grilos, larvas de besouros e formigas conquistam espaço como alternativa alimentar. Brasil dá os primeiros passos para disputar esse mercado.

Insetos no cardápio

15/7/2020 ::  Suzel Tunes  / Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

Um novo ramo do setor agropecuário está se instalando em Piracicaba. Na cidade paulista que é considerada o vale do agronegócio brasileiro por concentrar cerca de 40% das startups do setor está sendo montada uma biofábrica para a criação de grilos.

besouros
Larvas de certas espécies de besouro são adequadas para o consumo humano.

O projeto de um sistema semiautomatizado para a produção em larga escala de Gryllus assimilis foi criado pela startup Hakkuna. O objetivo da empresa é obter matéria-prima em escala industrial para a produção de barras proteicas à base de farinha de grilo, produzidas de forma artesanal pela Hakkuna desde 2015. “A criação de insetos no Brasil ainda é muito artesanal. Nosso projeto busca reduzir o trabalho humano e padronizar a produção”, conta o sócio-fundador da startup, o engenheiro de materiais Luiz Filipe Carvalho.

A bióloga e doutora em entomologia Patrícia Milano, do Departamento de Entomologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), também se prepara para disputar o mercado de insetos comestíveis.

Em 2016 ela criou a Ecological Food, cujo negócio é a venda de insetos para fabricação de ração animal. Com suporte do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresa (Pipe), da FAPESP, e da incubadora EsalqTec, pertencente à Esalq-USP, Milano desenvolveu uma dieta específica para grilos e baratas.

Interesse pelos insetos como alternativa alimentar

Insetos no cardápio
Larvas colhidas em tronco do dendê Africano (Elaeis guineenisis) no Congo. by T.K. Naliaka

“Os resultados foram excelentes. As melhorias no sistema de produção de insetos resultaram em organismos com maior valor nutricional, sem encarecer a produção”, afirma. Agora, Milano pretende dar continuidade ao projeto, aperfeiçoando a metodologia de criação de algumas espécies com vistas à alimentação humana. A Ecological Food fica em Limeira (SP), a cerca de 40 quilômetros de Piracicaba.

Luiz Filipe Carvalho e Patrícia Milano seguem uma tendência mundial. É crescente o interesse pelos insetos como alternativa alimentar.

Segundo o holandês Arnold van Huis, um dos principais pesquisadores no campo da entomofagia (o uso de insetos como alimento por seres humanos), a base internacional de dados Web of Science revela um crescimento exponencial no número de artigos acadêmicos publicados sobre o tema, sobretudo a partir de 2015. Van Huis é professor da Universidade de Wageningen, localizada na cidade holandesa de mesmo nome, e editor da publicação científica Journal of Insects as Food and Feed.

Aumenta também o faturamento das empresas que apostam nos insetos como ingredientes para alimentação animal ou humana. A consultoria Meticulous Research avaliou em US$ 406,3 milhões o valor do mercado de insetos comestíveis em 2018 e prevê que ele deva triplicar até 2023. Um dos negócios mais bem-sucedidos é o da holandesa Protix, que recebeu aportes de investidores de US$ 50 milhões em 2017 para investir na criação de insetos destinados à produção de alimento humano e ração animal.

Insetos integram o cardápio humano há muito tempo. Estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas se alimentem desses animais no mundo
As sociedades das Formigas
Sociedades das Formigas

No Brasil, a Hakkuna e a Ecological Food pretendem surfar nessa onda. O projeto da Hakkuna para produção em larga escala de Gryllus assimilis iniciou sua primeira fase em março e visa desenvolver controles automáticos das condições ambientais da criação dos insetos, como níveis de temperatura e umidade.

O contêiner que a empresa está estabelecendo em Piracicaba também irá dispor de sensores para controle de um alimentador automático – inicialmente, com ração de aves, até que a empresa desenvolva uma alimentação específica.

A Hakkuna, explica Carvalho, nasceu de um interesse pessoal por alimentação esportiva. “Sempre pratiquei esporte e sentia a necessidade de ter no cardápio opções de proteínas mais naturais e saudáveis. Em meados de 2015 comecei a pesquisar o que era feito no exterior e encontrei uma startup norte-americana, a Exoprotein, fabricando barras de proteína com farinha de grilo.

Achei a ideia interessante e fui pesquisar quem fazia isso no Brasil. Não encontrei ninguém”, conta. “Então, comprei um curso on-line de criação de insetos, 100 gramas de grilos vivos e passei a testar produtos e o mercado. Assim começou a Hakkuna.”

Projetos

1. Pesquisa e desenvolvimento de sistema otimizado e semiautomatizado da biofábrica Hakkuna para produção massal de grilos Gryllus assimilis (Orthoptera: Gryllidae) (nº 19/00735-7); Modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe); Pesquisador responsável Marcelo Romano Teixeira (Hakkuna); Investimento R$ 95.004,97.
2. Insetos para alimentação animal e humana: Adaptações e pesquisas para futura criação massal no Brasil (nº 16/00152-3); Modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe); Pesquisadora responsável Patrícia Milano; Investimento R$ 102.225,56.

Artigos científicos

VAN HUIS, A. Insects as food and feed, a new emerging agricultural sector: A review. Journal of Insects as Food and Feed. 27 ago. 2019.
GRABOWSKI, N. T. et alMicrobiology of processed edible insect products – Results of a preliminary surveyInternational Journal of Food Microbiology. 21 fev. 2017.
SCHARDONG, I. S. et alPercepção de consumidores brasileiros aos insetos comestíveisCiência Rural. v. 49 no 10. 23 set. 2019.

Fonte: Revista FapespInsetos comestíveis

Comentários do Facebook