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Microplásticos em toda parte

Microplásticos em toda parte: Fragmentos de plásticos com dimensões micrométricas estão em todos os lugares e impõem desafios ao seu controle.

Microplásticos em toda parte

17/8/2020 ::  Frances Jones/Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

Da fossa das Marianas, no oceano Pacífico, aos Alpes, das praias de Fernando de Noronha às grandes metrópoles, os microplásticos estão em toda parte, em geral sem serem vistos.

Vapi, Índia – Poluição na água
As cidades mais poluídas do mundo. Vapi, Índia

Análises cada vez mais detalhadas apontam para o caráter onipresente desses fragmentos, esferas, pedacinhos de filmes ou de fibras de plástico com até 5 milímetros de diâmetro ou extensão e frequentemente micrométricos.

Eles já foram encontrados não apenas no ar que se respira, em ambientes terrestres, marinhos e reservas de água doce, mas também na água de torneira e engarrafada, no sal marinho, no mel, na cerveja, nos frutos do mar e em peixes consumidos pelo homem e, por consequência, nas fezes humanas.

Um problema moderno

Microplásticos como tema de estudo é algo relativamente novo e ganhou impulso somente neste século, com mais força nos últimos anos. Embora sua presença nos oceanos seja conhecida desde os anos 1970, apenas em 2004 o termo foi incorporado na literatura científica pelo pesquisador britânico Richard Thompson, professor de biologia marinha da Universidade de Plymouth, na Inglaterra. Vem das investigações sobre a biota e o ambiente marinho a maior parte dos estudos até agora, já que os oceanos são o repositório de boa parcela do microplástico produzido em terra, ao receberem a água de rios, riachos e esgotos.

“Os microplásticos têm grande potencial para alterar a biota e o ecossistema oceânico do nosso planeta como um todo”, diz o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais. “Esse tipo de poluição tem efeitos ainda não totalmente entendidos e quantificados. Precisamos de muita pesquisa científica para caracterizar o material e estudar a extensão de sua distribuição, suas concentrações, seus efeitos nos ecossistemas e sobre os seres vivos e como removê-lo do meio ambiente.”

A ameaça dos microplásticos

Uma iniciativa conjunta de instituições europeias e brasileiras disponibilizará € 10,5 milhões a partir do ano que vem para pesquisas em quatro grandes temas relacionados às fontes, à distribuição e ao impacto dos microplásticos no ambiente marinho. A chamada de propostas é resultado de uma parceria do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e da plataforma intergovernamental JPI Oceans, ligada à União Europeia (UE). Além do Brasil, participam do esforço 14 nações europeias. A FAPESP prevê dispor de até o equivalente a € 600 mil para os projetos, ainda não selecionados.

“Os grandes desafios dos oceanos não podem ser resolvidos por um único país”, diz a bióloga marinha Isabelle Schulz, do JPI Oceans e do Consórcio Alemão para a Investigação Marinha, lembrando que as águas oceânicas conectam todos os continentes. “É importante ter uma abordagem integrada para pesquisa e monitoramento dos microplásticos. Essa chamada conjunta promove a saúde e a produtividade de mares e oceanos e lida com as pressões dos impactos humanos e da mudança climática sobre esses ecossistemas”, diz a pesquisadora alemã. “O conhecimento obtido poderá ser traduzido em políticas públicas e produtos e serviços profícuos.”

Fonte: Revista FapespA ameaça dos microplásticos

Artigos científicos

TURRA, A. et al. Three-dimensional distribution of plastic pellets in sandy beaches: Shifting paradigmsScientific Reports. 27 mar. 2014
MONTAGNER, C. Microplásticos: Contaminantes de preocupação global no Antropoceno. Revista Virtual de Química. 2018.
DE ORTE, M. et al. Response of bleached and symbiotic sea anemones to plastic microfiber exposureEnvironmental Pollution. 6 mar. 2019.

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