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Plantas de ferro

Plantas de ferro: Levantamento aponta 38 espécies vegetais que existem apenas nas chamadas cangas da Amazônia, um tipo de campo rupestre da serra de Carajás.

Plantas “de ferro”

Dez/2019 :: por Rafael Garcia / Pesquisa FAPESP. Licença CC BY-ND 4.0

Um tipo de vegetação que cresce apenas sobre as chamadas cangas, afloramentos rochosos de minério de ferro que formam uma variante dos campos rupestres, guarda uma riqueza de espécies tão grande e particular na Amazônia que merece atenção especial de conservação. A ideia é defendida por um grupo liderado pela botânica Daniela Zappi, do Instituto Tecnológico Vale (ITV) de Belém, que publicou um estudo comparativo em 5 de agosto na revista científica PLOS ONE.

Resistentes como a rocha
Resistentes como a rocha

Zappi e seus colaboradores levantaram a literatura científica sobre as plantas que crescem em 14 cangas da serra de Carajás, no Pará, e em 14 áreas da cadeia do Espinhaço, em Minas Gerais, e da chapada Diamantina, na Bahia, onde também existem campos ferruginosos ou uma vegetação muito similar, que se desenvolve sobre afloramentos rochosos de quartzito.

Os sítios mineiros e baianos estão em áreas de Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Segundo o estudo, que contabilizou 4.705 espécies nas 28 áreas analisadas, as cangas amazônicas têm 38 espécies endêmicas, que são exclusivas da zona de Carajás.

“Em linhas gerais, cada região se mostrou diferente das outras, mas as cangas da Amazônia se sobressaíram”, comenta Zappi (ver entrevista com a bióloga Vera Lucia Imperatriz Fonseca do ITV sobre a biodiversidade em Carajás).

Plantas que crescem no ferro

Plantas de ferro
Serra de Carajás.

A maioria das plantas endêmicas das cangas dessa área de mineração são arbustos ou ervas, como Perama carajensis e Brasilianthus carajensis. Entre as espécies que só existem ali está a flor-de-carajás (Ipomea cavalcantei), arbusto com flores de vermelho intenso que se tornou símbolo da campanha pela preservação da flora local. Outra exclusividade da região é o ipê-da canga (Anemopaegma sp.), cuja imagem de sua semente alada em meio a rochas da canga abre esta reportagem.

Em junho de 2017, o alto endemismo de espécies vegetais motivou a criação de uma unidade de conservação, o Parque Nacional dos Campos Ferruginosos, com o intuito de preservar a biodiversidade local. A unidade abrange uma área de mais de 79 mil hectares  dentro dos municípios de Canãa dos Carajás e Parauapebas.

O trabalho constatou que as cangas de Minas Gerais têm poucas espécies em comum com as de Carajás. Das 830 espécies registradas nos campos ferruginosos do Pará, menos de 180 foram encontradas também nas cangas da cadeia do Espinhaço e da chapada Diamantina. Segundo Zappi, as diretrizes de preservação da flora das cangas amazônicas podem ser aprimoradas sem a criação de novas unidades de conservação exclusivas.

A Floresta Nacional de Carajás, que está aberta à mineração sustentável, tem, por exemplo, planos de manejo que preveem tanto áreas de exploração como de preservação. A própria Vale, que mantém o instituto de pesquisa ITV, reconhece essa limitação. “A companhia está empenhada em manter a mineração fora dessas áreas”, diz a botânica.

>> Para ler todo o texto, acesse o artigo completo da Revista Fapesp > Plantas que crescem no ferro

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