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Um ecólogo na pandemia

Um ecólogo na pandemia: O gaúcho Guilherme Becker, pesquisador da Universidade do Alabama, fala das dificuldades para manter a produtividade científica trabalhando em casa e cuidando de dois filhos pequenos, e conta que voltou a compor para combater o estresse

Um ecólogo na pandemia

8/62020 :: Depoimento concedido a Fabrício Marques/Pesquisa FAPESP.  CC BY-ND 4.0

“Sou professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, e estudo a ecologia de doenças ligadas a distúrbios ambientais. Atualmente pesquiso uma doença causada por fungos, a quitridiomicose, que está causando declínio na população de anfíbios e tem relação com o desmatamento. Essa pesquisa tem como foco a Mata Atlântica no estado de São Paulo e em parte do Rio Grande do Sul – eu sou gaúcho.

bio-monitoramento
Radio telemetria para rastrear animais.

Vim morar nos Estados Unidos em 2017 e estou naquele período probatório de cinco anos em que o pesquisador precisa se esforçar bastante para conseguir financiamento, publicar e fazer pesquisa de ponta – o desempenho nessa etapa da carreira define se o pesquisador está qualificado para ganhar estabilidade e liberdade acadêmica.

A pressão é enorme. Em casa, vivemos esse desafio em dose dupla. Minha esposa, Mônica Kersch-Becker, também bióloga, é professora no mesmo departamento e está em situação idêntica. Fizemos o mestrado na mesma época na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o doutorado na Universidade Cornell, nos Estados Unidos.

Voltamos para o Brasil para fazer pós-doutorado, ela na Unicamp, eu na Universidade Estadual Paulista (Unesp), mas decidimos voltar para os Estados Unidos e fomos ambos contratados pela Universidade do Alabama.

“A música me ajudou a recuperar o equilíbrio durante a quarentena”.

A pandemia veio em um momento em que estamos trabalhando intensamente com ensino e pesquisa e preparando projetos para apresentar a agências de fomento.

Impacto da maternidade na carreira científica
Impacto da maternidade na carreira científica

Quando nossos laboratórios interromperam suas atividades, transferimos o trabalho para casa e instalamos no quarto os nossos computadores, um ao lado do outro. Mas raramente trabalhamos juntos. De manhã, ela trabalha e eu cuido das crianças.

Temos um garoto de 7 anos e uma menina de 4 e eles exigem atenção praticamente o tempo todo. De tarde, eu é que vou para o computador. À noite a gente tenta complementar o que não conseguiu fazer durante o dia.

Tive a aprovação de dois projetos recentemente e há um terceiro em revisão. Nas últimas semanas, a Mônica tinha dois projetos para submeter e eu passei a cuidar mais das crianças, para maximizar as chances de ela emplacar os grants.

Opção pela biologia
Opção pela biologia

Motivação na ciência

É muito difícil manter o ritmo de trabalho que tínhamos na universidade, por isso estamos ajudando um ao outro ao máximo.

Tenho uma rotina de reuniões virtuais no laboratório. É preciso manter os alunos com foco e motivados. Houve vários projetos de campo cancelados na primavera. Íamos fazer um experimento de simulação de seca na floresta aqui no Alabama, mas tivemos de desistir. O jeito foi mudar a estratégia e colocar os alunos para trabalhar com a análise de bancos de dados.

Esses desafios se somam a outros estresses que todo mundo está passando. Meus pais estão em isolamento em uma cidade pequena da serra gaúcha. Ligo todos os dias, porque conversando virtualmente todos nós nos sentimos menos sozinhos e reduzimos as chances de cair em depressão.

Fonte: Revista Fapesp > “A música me ajudou a recuperar o equilíbrio durante a quarentena”

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