Há algo errado no paraíso

Lembro bem lá pelos anos oitenta, eu próximo ao vestibular, clima de reabertura política, uma porção de gente voltando do exílio e as primeiras eleições para governador. Lá fui eu votar no tal Brizola, era o voto de esquerda, aguerrido. Enquanto isso a Monique entre um trago e outro de cigarro dentro da sala de aula do Sagrado Coração de Maria, trazia estampada numa camisa o dizer OPTEI, onde sempre que podia escancarava sua posição engajadíssima num tal de PT.

Pois é, de lá para cá, já se vão vinte e um anos, e nosso querido estado do Rio de Janeiro foi presenteado depois do Brizola, com o Moreira Franco, Brizola, Marcelo Alencar, Garotinho, Benedita e Rosinha. Por essa constelação de pessoas já se começa a entender o resultado ambiental que nós observamos em nosso estado. Não há meio ambiente que agüente!!!!

Longe de procurar esqueletos no armário, não dá para esquecer alguns números que se não completamente verdadeiros, pelo menos mostram a falta de uma política ambiental coerente, com início, meio e fim em nosso estado. Então vamos a alguns deles:

- UM BILHÃO E CEM MILHÕES DE DOLARES ENFIADOS NO PROGRAMA DE DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DA GUANABARA SEM RESULTADOS AMBIENTAIS RELEVANTES;

- DE 1.8 A 2.0 TONELADAS DE ESGOTO LANÇADOS POR SEGUNDO NAS LAGOAS DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ;

- 16 MILHÕES DE COLIFORMES FECAIS POR 100 ML DE ÁGUA NA LAGOA DA TIJUCA, 1.600 VEZES ACIMA DO LIMITE MÁXIMO LEGAL;

- 6 MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE SEDIMENTOS DEPOSITADOS E ASSOREANDO A LAGOA DA TIJUCA.

E aí estão satisfeitos? Aí cabe a pergunta para a atual diretoria de nosso boteco, qual é a política de meio ambiente do estado do Rio de Janeiro? Já estamos no sexto para o sétimo mês e NADA, ou melhor, pior do que nada! Recentemente nossa governadora e seu prestigioso staff, partiram com a idéia de cobrir os rombos do caixa com dinheiro do pobre do FECAM, que já vinha sendo utilizado para cobrir rombos das estradas com asfalto já de outros carnavais.

Pois é, enquanto tudo anda uma verdadeira maravilha ambiental, num estado sem qualquer problema nesta área, durante os dias 01 de junho a 13 de junho, as "auturidades de saniamento" resolveram inovar na semana do meio ambiente através de um novo processo de adubação induzida das águas da Lagoa. Trocando em miúdos, por quase quinze dias, vazou MERDA na Lagoa para quem quisesse ver e sentir o futunzinho que se sentia na bucólica lagoa. Os canais de drenagem de águas pluviais situados na Av. Lineu de Paula Machado, Av. General Garzón, Jóquei e Visconde de Albuquerque foram praticamente incorporados pelas "auturidades de saniamento" como parte da rede de esgoto, também conhecida de "queijo suíço".

Pois bem, nesse clima de confraternização de "auturidades" e coliformes, durante a baixa-mar de sizígia, todo aquele patê no qual se transformaram as águas da Lagoa, fluíram alegremente para a praia do Leblon e de Ipanema.

Aí o pessoal do jornal me perguntou o que era aquele troço que saía da Lagoa, o que de imediato respondi, com aquela famosa convicção que apenas os loucos e os jovens tem de afirmar o que vêem. Em seguida, no segundo round, só para variar, quando não é excesso de peixe, as algas levam a culpa do que anteriormente era da inversão térmica da década de setenta e oitenta.

É incrível que para se proteger como alguns setores administrativos tentam atribuir à conseqüência as culpas que deveriam recair sobre a causa. Não entenderam? Explico didaticamente a comédia:

Ato 1 - MERDA em abundância por aproximadamente treze dias atirada nas águas da Lagoa.
Ato 2 - As "auturidades" buscam de quem é a MERDA. Essa MERDA não é minha, é sua! Minha não é, é sua... E por aí vai por treze dias.
Ato 3 - Com a overdose de nutrientes, em pleno outono/inverno, sem chuvas, explode um bloom de algas.
Ato 4 - As águas transformadas em patê vazam para a praia.
Ato 5 - A culpa é das algas!!!!

Uma comédia curta, sem graça, que a todo o momento a gente vê e com o final tragicômico de sempre, isto é, as culpadas são as algas ou os peixes tarados!

Pois é assim que acabamos de colocar abaixo o que sobrou desta cidade, outrora ambientalmente maravilhosa.

Aí você para e pensa, porra esse cara em todos os artigos mete o pau, grita, xinga e daí?
Daí Cara Pálida, eu convido deputados, procuradores, presidentes de associações de moradores, imprensa e ultimamente até a polícia a visitarem as nossas privadas ambientais. Elaboro relatórios fotográficos que são encaminhados às autoridades com as quais ainda posso contar, enfim ponho o meu na reta e quando é preciso parto para o confronto com as "auturidades".

E você o que faz, além de ler esses artigos?
Estou meio grosseiro? Estou sim, não com você em particular, mas com uma cambada que gosta de arrotar meio ambiente sem nunca ter pisado ou sentido o cheiro de MERDA e LIXO que você sente e se afoga trabalhando seja na Baía de Guanabara, na Baía de Sepetiba ou na Baixada de Jacarepaguá em seus rios mortos e manguezais podres.

Ando cheio de tanta burocracia, discursos politicamente corretos, aspones e baba-ôvos, enquanto o pau come solto aqui fora sem que, no entanto as sacrossantas "auturidades" junto com suas cortes dêem alguma resposta às nossas preces.

E aí, tá satisfeito com a vida que você leva? Tá satisfeito com sua qualidade de vida? Se estiver, ótimo! Se não, acorda e muda alguma coisa!

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br