bocadomangue Mario Moscatelli

o Boi Voador Ambiental...

Aproveitando a quase que finada onda carnavalesca, fico imaginando quantos bois voadores ambientais, temos visto voando nos céus do Estado do Rio de Janeiro nos últimos anos. Não é um, nem dois, mais uma verdadeira manada desembestada de antigas novidades que teoricamente iriam resolver uma dezena de velhas chagas ambientais que devido aos mais variados motivos, continuam lá sangrando nas Baías de Guanabara e Sepetiba, nas Praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra, nas lagoas Rodrigo de Freitas e Baixada de Jacarepaguá em mais esse triste final de verão sem perspectiva real de solução.

Enquanto os habitantes das metrópoles entram em fase de TPM (tensão pré-municipal), nós moradores das colônias que temos os dois direitos básicos concedidos aos colonos, isto é, não ter direito algum e ter direito de ficar de boca fechada, assistimos de forma catatônica, durante as derramas mensais, os eventos bombásticos produzidos pela corte das metrópoles.

Ascensão e queda de novos PCs, Waldomiros, CPIs com gosto de pizza, fecha e abre bingo, bombeiros sem equipamentos, hospitais em decomposição e cada vez mais o aparente desvio de verbas públicas, ditas carimbadas para determinados fins, não chegando ao seu destino.

Em conversa com deputados estaduais, os mesmos me explicaram didaticamente que existem verbas, percentuais acertados na constituição de cada estado para cada determinada finalidade. Ou seja, não é facultativo ao administrador público querer ou não querer usar, ele é obrigado por lei a usar o dinheiro público para as finalidades indicadas por lei. Tanto para saúde, tanto para o bombeiro, tanto para o meio ambiente, tanto para a conservação das estradas e por aí vai.

Só que não é de hoje que as verbas aparentemente não chegam aos seus destinos, como se acompanha pelos noticiários dos grandes jornais bem como parece que pouca gente das cortes anda interessada que essa grana seja usada para a finalidade a qual foi destinada. Enfim, estamos mais uma vez ferrados, principalmente se você algum dia precisar de algum dos serviços bancados por essas verbas extraviadas.

Falando em ferrados, infelizmente os peixes do canal, digo Valão de Marapendi, que precisam de oxigênio para respirar mesmo dentro daquele valão de esgoto a céu aberto, cometeram segundo fontes extra-oficiais palacianas "suicídio coletivo" um pouco antes do carnaval. Para quem conhece o valão não é nenhuma novidade a situação desesperadora da bicharada aquática que depende de oxigênio, visto que tem pouca água para tanto esgoto que é lançado naquele corpo dágua. Exemplo escancarado do CAOS é a transformação do sistema da rede drenagem das águas pluviais do Jardim Oceânico em rede de esgoto. Jorra esgoto dia e noite no sistema de drenagem que por sua vez é lançado em dois pontos do Valão de Marapendi para quem quiser ver e ou sentir o "futum", o ano inteiro, 24 horas por dia. Fica a pergunta, será que é difícil resolver esse problema em especial?
Acho que não!

Vou dar uma receita: 1-Informe aos condomínios por meio da mídia, que o poder público irá em 30 dias usar seu poder de polícia para fiscalizar todos os condomínios da região e que os síndicos tem esse intervalo de tempo para verificar se suas caixas de gordura e sistemas de fossa-sumidouro estão utilizando a rede de águas pluviais como rede de esgoto, providenciando caso necessite os necessários reparos e ou adequações. 2- No término desse período iniciar um levantamento sistemático rua por rua, visando identificar quem joga esgoto e multando os porcalhões. 3- Criar um planta cadastral da atual situação e atualizá-la periodicamente por meio de fiscalizações aleatórias associadas à criação de um sistema de monitoramento da qualidade da água que saí do sistema de drenagem, tanto para o Valão de Marapendi como para a Laguna da Tijuca. 4- Avaliar tanto quantitativamente como qualitativamente o que saí de uma grande galeria que desemboca no Valão de Marapendi, junto da ponte que passa por cima do dito valão, que por acaso fica na direção de uma construção da estatal CEDAE.
Será que o que estou sugerindo é muito difícil de efetuar? Precisa de verba internacional? Permissão da ONU? Autorização de alguma entidade sobrenatural?

Falando em sobrenatural, eu gostaria de solicitar aos deputados federais da bancada do Estado do Rio de Janeiro, que independente da sigla partidária fizessem em bloco uma gentileza aos colonos da Barra: Solicitar uma posição oficial, isto é, um sim ou não do governo federal quanto à possibilidade do Município do Rio de Janeiro, poder contrair empréstimo nipônico para os projetos de recuperação ambiental da Baixada de Jacarepaguá. Pois entra ano e saí ano, saí presidente e entra presidente e o sistema lagunar continua aquele vaso sanitário à espera de vontade política e dinheiro para ser salvo.

Acordem palacianos, 2007 está chegando, e o que precisamos fazer para recuperar de fato e não apenas "acochambrar" para gringo ver e não sentir o cheiro de podre, leva tempo, e o tempo não para.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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