bocadomangue Mário Moscatelli

UM DESTINO PARA AS LAGOAS DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ

Rio, 01/7/02

Que em virtude de nossa herança de colônia de exploração baseada na cultura do pau-brasil, isto é, usar e abusar do recurso natural até o seu esgotamento, continuamos demolindo ambientalmente como parasitas suicidas o que sobrou da cidade do Rio de Janeiro, isso já não é nenhuma novidade. Que apesar de todo o conhecimento científico acumulado no século passado quanto as formas de gerenciamento sustentável dos inúmeros recursos ambientais e econômicos oriundos dos ecossistemas lagunares, continuamos a tratar os mesmos como latrinas, sendo o maior exemplo disso o sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá, isso também infelizmente deixou de ser manchete.

Na verdade o que precisamos para salvar o sistema lagunar é um projeto de recuperação ambiental e de aproveitamento econômico do recurso natural atualmente inutilizado.

Em relação ao primeiro item, a recuperação ambiental deve abranger toda a bacia hidrográfica da região onde programas articulados entre as diversas esferas do poder público executivo com claros cronogramas de execução e participação de toda a sociedade, devem incluir urgentemente e de forma contundente o controle da ocupação desordenada do solo e uma clara política de habitação e planejamento familiar, associada ao reflorestamento dos maciços e faixas marginais de proteção de rios e lagunas. O saneamento básico integral de toda a região, atividades de educação ambiental associadas obrigatoriamente à dragagem e homogeneização da profundidade das lagunas completariam o programa de recuperação emergêncial. Em resumo controle do uso do solo, saneamento básico total, reflorestamento, dragagens, educação ambiental e um trabalho incessante de fiscalização dariam um sopro de vida às lagunas.

No entanto só isso, não é suficiente. O maior apelo pela continuidade dos esforços até então teoricamente desenvolvidos pelo item anterior só serão consolidados através da implementação de um programa de uso sustentável dos inúmeros recursos e potencialidades econômicas da região que se torne de fato o protetor das lagunas.


E como se daria isso? Inicialmente através da constituição de uma entrada segura para embarcações provenientes do oceano para o interior das lagunas e vice-versa. Atualmente a entrada pelo canal da Joatinga é uma aventura onde periodicamente os que se arriscam em ultrapassá-lo, colocam suas vidas em perigo e os naufrágios são corriqueiros. Este risco seria neutralizado com a ampliação do atual quebra-mar bem como com a dragagem do canal de entrada e saída atualmente assoreado. Outro ponto importante, visando permitir a passagem de embarcações coletivas ou individuais de maiores dimensões, seria a elevação do sistema de pontes hoje existentes.

Levando em conta que as lagunas já estivessem dragadas, seria criado um corredor de transporte náutico coletivo/individual dentro do sistema lagunar e deste com a baía de Guanabara. O incremento de serviços e equipamentos náuticos seria paralelo ao aproveitamento do sistema de lagunas da região e da criação de infra-estrutura de apoio náutico, onde pontos de atracação seriam instalados junto aos atuais estabelecimentos comerciais, transformando os atuais fundos, abandonados e usados como depósitos de resíduos, na nova e principal frente dos mesmos, associados com restaurantes e cafés, como observado na maioria das cidades costeiras do mundo.

Passeios, semelhantes aos que costumamos ver nos rios de algumas cidades européias teriam brilho igual ou superior aos daqueles. O aproveitamento econômico sustentável seria o guardião da conservação e progressiva melhora dos recursos naturais locais, principal motivo da visitação e da geração de centenas de empregos, da pesca artesanal ao ecoturismo.

O que falta? Dinheiro, tenho certeza que não há de faltar. Imaginem a valorização imobiliária de toda a região transformando o atual sistema lagunar de latrina e lixão num verdadeiro parque náutico de visitação ecoturística. A vontade política com certeza aparecerá paralelamente com a pressão de nossa sociedade em exigir um basta para ações paliativas em relação ao que sobrou de nossos recursos naturais e demonstrar que aprendemos alguma coisa com quinhentos anos de degradação.

Precisamos reconstruir ambientalmente nossa cidade em moldes de aproveitamento economicamente sustentável. Essa é nossa atual saga e o nosso principal legado às futuras gerações, desta que será novamente a Cidade Maravilhosa.

MARIO MOSCATELLI - moscatelli@biologo.com.br

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