SEM SAÍDA
Eu tenho acompanhado e vivido os problemas ambientais de lagoas costeiras, manguezais, praias e baías muito de perto, exigindo o cumprimento das leis, exigindo o cumprimento dos acordos e dos respectivos investimentos bem como trabalhando na recuperação e no gerenciamento dos ecossistemas degradados. Assistindo a todo tipo de calhordice que envolve os licenciamentos ambientais, onde abunda aquela famosa malevolência onde o tempo é infinito e tudo pode esperar, pois “eu não ganho para isso”, tenho podido presenciar tanto de um lado a histeria verde, onde toda e qualquer intervenção humana é considerada perniciosa ao meio ambiente, ou melhor dizendo, aos interesses particulares de cada um como de outro a lentidão criminosa dos que deveriam fiscalizar e atuar na recuperação e pouco fazem.
2- Os manguezais do sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá são verdadeiros depósitos de lixo e tudo aquilo quer vocês puderem imaginar. Mais uma vez entramos no sentido de resgatar o gigantesco passivo ambiental, onde até “arqueologia” você acaba fazendo tal o tempo que o lixo vem se depositando nessas áreas. É claro para quem de fato trabalha e conhece os processos que geram o caos ambiental da região, produto da irresponsabilidade gerencial do poder público, é que se precisa atacar ou ao menos estancar as fontes de poluição/degradação que no caso são o aporte constante de resíduos trazidos pelos diários movimentos de maré. Neste sentido criam-se barreiras físicas onde são mantidas aberturas nas mesmas que possibilitam a passagem de quem quiser se arriscar a trabalhar na latrina que o poder público criou na região. Tudo ia bem, tanto nas cercas como no trabalho de limpeza e recuperação quando vândalos destroçaram as cercas e um volume gigantesco de resíduos e gigogas invadiram as áreas que previamente haviam sido recuperadas. Depois de um tempo, aparece uma denúncia que as cercas estariam impedindo a passagem de pescadores, sendo que nas imagens da reportagem, a embarcação denunciante passa pelas cercas! Coisa Kafkaniana! Finalizando aparece o poder público afirmando que deverão ser removidas as cercas por isso e por aquilo, pela lei tal etc etc. “Tá” tudo ótimo, só faltou dizer por que aquelas áreas de manguezais até o dia em que iniciamos o trabalho de recuperação eram verdadeiros chiqueiros, onde até material hospitalar era facilmente encontrado. Por que as autoridades que agora lembram das leis NUNCA apareceram nos manguezais degradados? Estão duvidando? Pois agora nesse exato momento peguem um barco e vão ver o estado dos manguezais. Eu duvido que, à exceção das áreas onde trabalhamos os mesmos não sejam o reflexo da impunidade e incapacidade gerencial do poder público. Se eu tiro o sistema de cercas, após retirar uma, duas, cinco toneladas de resíduos por dia, amanhã na primeira preamar a área será novamente invadida por lixo, gigogas e todo o resto que puder boiar. E aí eu pergunto às “auturidadis” e experts, quanto tempo vou ficar enxugando gelo? Quanto tempo à iniciativa privada vai ter saco para pagar por um serviço que não vai ter fim? 3- Em outro caso, venho recuperando a margem de um rio, um verdadeiro depósito de lixo, fezes e cadáveres, bem diferente dos ambientes refrigerados que nossas “auturidadis” costumam despachar. Enfim estabiliza talude daqui, tira lixo de lá, monta cerca para proteger os plantios e da outra margem do rio é aquela zona de sempre. A “comunidadi”, a favela, a ocupação subnormal ou a porra de nome que vocês quiserem chamar para aquela zona, diariamente além de ocupar a faixa marginal de proteção integralmente, usa as margens do rio como depósito de lixo em diversos pontos. É até engraçado, para não dizer cômico, isto é, nós do nosso lado cumprindo a risca a lei, limpando e recuperando e do outro aquela casa da mãe Joana. Fiscalização, se existe eu NUNCA vi e assim a vida continua..... 4- Tenho sido responsável nos últimos oito anos pela recuperação da maior área de manguezais da baía de Guanabara, totalizando 200.000 metros quadrados de manguezais recuperados, onde antes havia só lixo e árvores mortas. Enquanto nos esforçamos na ampliação das áreas recuperadas, por um lado madeireiros que usam a madeira de mangue para currais na baía de Guanabara ou para o escoramento de lajes, cortam tranqüilamente o mangue como se fosse a coisa mais normal do mundo. De outro lado caranguejeiros de Magé, destroem parcialmente os plantios visando criar a armadilha de laço, forma completamente predatória visando capturar caranguejos uçá, dentro e fora da época de defeso e finalmente na retaguarda dos manguezais, lixões progressivamente vão engolindo os manguezais, ampliando suas áreas o que no futuro se transformarão em terrenos comerciais ou em novas favelas. Fiscalização eu também NUNCA vi por lá. 5-
Finalizando esse artigo, fui dar uma palestra
no Clube de Observadores de Aves quando um dos
ouvintes de forma democrática afirmou
que era contra os manguezais na Lagoa, que não
via resultados práticos na sua presença
etc, etc. Com muita diplomacia, o que não é de
meu feitio, expliquei tudo o que já comentei
anteriormente para os leitores da boca do mangue,
sobre as referências bibliográficas,
sobre as conseqüências na biodiversidade
local, dos trabalhos de poda etc, etc. No entanto
complementei com a seguinte questão: Qual
o motivo que algumas pessoas alimentam tamanha
preocupação com o mangue, mas NADA
faziam, absolutamente NÃO SE MEXIAM em
relação à atuação
CRIMINOSA do poder público estadual que
através da CEDAE não cumpre os
Termos de Ajustes de Conduta e consecutivamente
extravasa continuamente esgoto para as águas
da Lagoa e praias? Concluo que se os peixes mortos
não fedessem as pessoas não se
incomodariam com as mortandades e que o lançamento
de merda nas águas lagunares poderia se
dar de forma OFICIAL onde contribuintes, urubus,
ratos e “auturidadis” felizes poderiam
usufruir da vista do espelho dágua plastificado
por peixes mortos. Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
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