bocadomangue Mario Moscatelli

PERDEU, MAIS TRINTA TONELADAS...

 

Era de manhã desta sexta (21/10/05) quando passei pela lagoa de Marapendi e senti aquele futum típico de mortandade de peixe no ar e vi os urubus e garças se aglomerando nas margens da lagoa. Parei o carro e lá estavam boiando paratis, savelhas, bagres, corvinas, carapicus e tudo aquilo que dependesse de oxigênio na coluna dágua. Espalhei a notícia pelos meios de comunicação para ver se alguém se mexia. Como de praxe quem apareceu foi o eficiente pessoal da COMLURB que tentava não deixar as ilhas de peixes mortos se alastrarem da lagoa e canal de Marapendi em direção à lagoa da Tijuca e dessa para a praia da Barra. No resto do dia, a não ser pelos barcos da COMLURB, os verdadeiros rabecões ambientais das lagoas do Rio de Janeiro, não vi mais ninguém nas águas pútridas recheadas de peixes mortos.

Incrível numa Área de Proteção Ambiental de tutela municipal, onde há pouco tempo, ambientalistas enfurecidos, bradavam em defesa da APA, e mais adiante outros até queriam transformar toda a APA numa área de preservação permanente, isto é numa Reserva Biológica, nem os tais “ambientalistas” nem a secretaria municipal de meio ambiente deram às caras.

Parece que boa parte da rapaziada que arrota “ambientalismo” em ambientes refrigerados e bem cheirosos, não gosta de cheiro de peixe podre, esgoto in natura, dos acessórios tais como moscas, urubus, bem como de sair literalmente na porrada técnica contra os burrocratas, “auturidadis” de plantão e aspones baba ovos das estruturas “púbricas”. Só para variar, durante mais esse genocídio ambiental, o protagonista foi colocado de lado pelas “auturidadis” estaduais, que de seus gabinetes refrigerados, por meio de suas assessorias de imprensa, colocaram como de praxe a culpa em fenômenos ambientais, tais como a entrada de frente fria e ou ressacas, a culpa da mortandade. Infelizmente esqueceram de explicar, que a merda que é precariamente tratada pelas estações de tratamento, consomem diariamente boa parte do oxigênio da coluna dágua, levando o organismo lagunar a trabalhar no limite.
Quando ocorre alguma alteração ambiental adicional no ecossistema, tal como na entrada de mais água salgada do que na média, o fundo remexido da lagoa libera gás sulfídrico e metano, sub produtos da decomposição do esgoto na ausência do oxigênio, bem como espalha a matéria orgânica em toda a coluna dágua que fica sem oxigênio e aí, salve-se quem puder. No entanto o que deve ficar claro para todos é que o protagonista deste filme de terror de terceira categoria é a ausência de saneamento básico, monopólio do governo do Estado do Rio de Janeiro, diretamente responsável de degradação do sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá.

Associe-se a isso a incipiente ação do poder municipal em colocar ordem na casa da mãe Joana que está se transformando a ocupação da baixada de Jacarepaguá, onde as políticas de meio-ambiente, planejamento familiar e transporte continuam no mundo da teoria. A União não se sabe bem por onde anda, nem o que faz pelo meio ambiente da região metropolitana, onde apesar de informada pelo menos por quatro vezes da situação da baixada de Jacarepaguá, a então senadora e posteriormente atual ministra, até o momento não deu sinal de vida.

Finalizando, as lagoas de Jacarepaguá, Camorim e Tijuca não querendo ficar de fora da festa do holocausto ambiental, patrocinada pelas ações, omissões e confusões geradas pelo “puder púbrico” executivo, está lançando a “festa da microcistina”, onde todos estão convidados a experimentar o suco de microcistis produzida abundantemente para os fígados de nossos atenciosos burrocratas, tomadores de indecisões. Pois é, fica o sabor amargo de um inimigo que se sente acima do bem e do mal, e que sabe que por enquanto continua longe da justiça dos homens, mas com certeza não da Natureza.

Prezados leitores comecem a cogitar o seguinte raciocínio: Penso, logo existo, resisto, reajo e mudo o que está errado, independente da magnitude do inimigo. Despertem e reajam enquanto há tempo, pois enquanto nos rios da Amazônia falta água, por aqui falta nas lagoas vergonha na nossa cara para dar um basta a toda essa desordem.

Que Deus nos perdoe por tanto descaso.........

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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