bocadomangue Mario Moscatelli

ESGOTO, GIGOGAS, MOSQUITOS E METAIS PESADOS

 

Os itens acima parecem ser assuntos desconexos, mas todos têm o mesmo pano de fundo, isto é, a certeza da IMPUNIDADE GOVERNAMENTAL.

A situação do arrastado Programa de Saneamento da Baixada de Jacarepaguá e do cumprimento do termo de ajuste de conduta firmado entre a CEDAE e o Ministério Público Estadual para as obras da lagoa Rodrigo de Freitas até agora já atrasado dois anos, mostra bem como o executivo estadual e seus respectivos representantes pouca importância dão aos cronogramas e documentos que assumem. Alie-se a isso, a vergonhosa interferência politiqueira de uma esfera administrativa nas ações da outra, no jogo do quanto pior, melhor.

Claro exemplo recente disso, foi a inconseqüente ação municipal no que diz respeito ao impedimento da passagem dos dutos de esgoto em pequeno trecho de via, sob a alegação que tal obra causaria transtornos ao trânsito. Mesmo sob as mais variadas opções apresentadas pelo Estado, o Município, protegido sob a suposta preocupação técnica com o trânsito, transformou mais esse triste capítulo, em mais uma longa novela. Enquanto os tecnocratas e aspones se masturbavam durante meses, milhares de metros cúbicos de esgoto continuavam sendo lançados no sistema lagunar, adubando as gigogas. Finalmente, via decisão judicial, o Município foi intimado a permitir a obra e a mesma vem sendo executada sem que eu saiba, ter trazido qualquer temido engarrafamento. Fica aqui uma importante situação para a atuação do CREA: Qual foi o técnico, provavelmente especialista em engenharia de trânsito, que deu argumentos ao Município para impedir a obra por tanto tempo, quando havia uma solução simples e que foi colocada em prática pelo Estado, contornando todos os problemas? Os técnicos não podem, sob o risco de se colocarem sob a interferência dos caprichos de políticos amorais, criar obstáculos para obras fundamentais sob o ponto de vista sócio-ambiental.

Agora já existe o próximo capítulo que é o da construção da elevatória junto ou na faixa marginal de proteção da laguna de Marapendi, dentro da APA de mesmo nome. Aí todo mundo que quer criar dificuldades, aspones e ambientalistas de auditório, lembram que aquilo é uma faixa marginal de proteção e que aquilo é uma APA e que tem aquela vegetação, aquele bicho e por aí vai. Infelizmente, como já tenho dito muitas vezes, ninguém lembra que aquela APA, praticamente vive abandonada pelo Município que a criou, bem como a área pretendida para a construção não tem qualquer importância ambiental e mesmo que tivesse, que não é o caso, valeria sim a supressão de pequena parte da vegetação nativa em benefício da retirada de milhares de metros cúbicos de esgoto de dentro do sistema lagunar.

Incrível mesmo é o Comitê Olímpico Brasileiro, salvo engano1, querer que provas de esqui aquático sejam efetuadas na lagoa da Tijuca! Alerto aos organizadores do Pan, caso isso seja verdade, que mesmo após as obras de dragagem em andamento bem como a redução do lançamento de esgoto que se espera concluído até 2007 acha muito pouco provável que aquele atual pinico e lata de lixo se transforme numa sala de estar, capaz de ter condições de balneabilidade para o desenvolvimento de esportes onde o contato com a água é permanente. No mínimo os atletas que se aventurarem vão correr o claro risco de pegarem uma bela de uma hepatite naquele patê de fezes.

Enquanto isso, se espera que o Estado, cumpra finalmente o que acertou com o Ministério Público, referente à recuperação do sistema de saneamento completamente sucateado existente ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas. Obras que, salvo engano2, deveriam ter sido finalizadas em Janeiro/Fevereiro de 2004, que foram prorrogadas para Janeiro/Fevereiro de 2005 e finalmente mais uma vez prorrogadas para Junho/Julho de 2006.

Realmente como contribuinte, gostaria de ter essa moleza, esse tratamento carinhoso e privilegiado de atrasos constantes sem qualquer prejuízo para o meu bolso, isto é, não pagar os tributos devidos e poder pagar quando puder, algum dia, quem sabe, quando eu estiver mais folgado, sem qualquer ônus.

Quanto as gigogas, as mesmas vêm se reproduzindo descontroladamente há décadas em virtude do esgoto que o monopólio estatal vergonhosamente vem lançando nas águas lagunares e que eventualmente eram regurgitadas para as praias da Barra e da Zona Sul. Isso não é de hoje, visto que tenho arquivadas inúmeras matérias abordando o assunto em anos anteriores. Só que a atual invasão se deu em pleno verão e o que aconteceu foi uma verdadeira enxurrada de gigogas durante inúmeras semanas, provocadas tanto pela suspensão do Município das atividades de contenção e remoção dos vegetais sem que essa atividade fosse transferida profissionalmente ao Estado, como assim se esperaria, associado às fortes chuvas e padrões de vento e aí o resultado tem sido isso o que temos acompanhado pessoalmente e pelos meios de comunicação.

Sempre é bom lembrar que as gigogas são vegetais nativos das lagoas de água doce e que seu descontrole populacional é apenas fruto do descompasso entre discurso de palanque de nossos administradores públicos e a realidade da ocupação desordenada sem infra-estrutura sanitária da baixada de Jacarepaguá.

Quanto à mosquitada que vem espalhando mais uma vez o pavor do dengue em nossa cidade, mais uma vez parece que apenas os mosquitos é que sabem que é no verão que o perigo dessa moléstia se intensifica seja pela atitude inconseqüente da população como do descaso das “auturidadis”. Lembro de alguns poucos meses atrás, a imprensa denunciando carros abandonados que deveriam ser usados no combate do denque. No que deu aquela denúncia eu não sei. Apenas sei que enquanto as “auturidadis” falam, a mosquitada voa solta, tem gente adoecendo e morrendo e mais uma vez o que poderia ser evitado não foi. Estamos todos mais uma vez, de parabéns!

Finalizando em relação ao vazamento dos metais pesados da empresa Ingá, eu mesmo há uns 30 dias atrás, na coluna de cartas do leitor do jornal O Globo, alertava às “sempre atentas auturidadis” e aspones de plantão que se chovesse forte, não precisava bola de cristal nem ser especialista em merda nenhuma para saber que aquela porra toda ia extravasar mais uma vez em direção à Baía de Sepetiba. Pois bem, caíram àqueles intensos temporais e aí 15 milhões de litros de águas contaminadas por metais pesados vazaram da piscina de rejeitos da falida e nefasta empresa Ingá, enquanto provavelmente seus antigos donos devem estar curtindo seu patrimônio em algum lugar mais civilizado do que a nossa colônia, como por exemplo, em lugares que independente de sua posição sócio-econômica e política, se pisar na bola vai é em CANA.

Aí se fica sabendo que salvo engano3, União, Estado e Município não vem repassando o dinheiro estabelecido para os serviços de limpeza e manutenção que vinham sendo executadas por equipe da UFRJ, em virtude de, salvo engano4, de liminar suspendendo os repasses.

Pois bem, fica aí então meu convite para as “auturidadis” da União, Estado, Município e responsáveis da massa falida, de comerem diariamente por uns cinco anos, moluscos filtradores, crustáceos e peixes provenientes das áreas banhadas pelas águas contaminadas. Coloquem seus familiares na mesa, no almoço e no jantar e se entupam com os chamados “frutos do mar” devidamente condimentados com cádmio, zinco e chumbo. Aí eu quero ver como vossas excelências, dentro de seus articulados discursos vazios, vão estar daqui há uns anos com seus excelentíssimos sistemas nervosos e demais ógãos contaminados por vossa excelentíssima incompetência. Pois como dizem no dos outros é refresco!

Desculpem-me senhoras e senhores leitores, mas diariamente os “administradores públicos” dessa colônia, declaram claramente à população em alto e bom som, por meio das suas ausências no Congresso Nacional devidamente pagas, nos escândalos que se sucedem sem chegar aos culpados, nas filas intermináveis dos hospitais sucateados, é que a maioria deles querem que nós todos nos DANEMOS, não esquecendo é claro, de pagar os impostos religiosamente que sustentam a corte dos ungidos.

Enquanto isso os tamborins vão esquentando, as rainhas de bateria requebrando, depois vem o coelhinho da Páscoa, semana Santa e aí Copa do Mundo e finalmente a eleição, e é aí que podemos dar o troco democraticamente à boa parte dessa corja de parasitas.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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