bocadomangue Mario Moscatelli

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Ando estressado, mau humorado, deprimido, enfim não estou me sentido bem. Motivos para isso, tenho de sobra, e continuo não seguindo a recomendação de alguns amigos, isto é, parar de ler jornal. Parece que nem um vício que você sabe que não vai lhe fazer bem, mas é mais forte que você, é um verdadeiro vício. E progressivamente aumento a leitura não só de jornais como também revistas e enfim chego a conclusão que temos pela frente à curto, médio e longo prazo, este último até 2040 ou coisa que o valha, uma verdadeira corrida de obstáculos onde tanto a nossa espécie como as demais arriscam de serem riscadas do mapa desse belo mas tão degradado planeta.

À curto prazo temos aí batendo às nossas portas o temível H5N1, simples, ínfimo mas mortal. A data já está até marcada, por volta de setembro é que nosso indesejável hóspede pode chegar pela América Latina. Aí eu fico pensando, se nossas “profissionais auturidadis” não dão conta nem do dengue que como já se sabe, bate em nossas portas e janelas em todos os verões, imagina com o H5N1, que nem cura tem direito! Imagino ainda nossos “ótimos hospitais públicos”, “bem equipados”, “com grande número de enfermeiros e médicos”, oriundos dos milhões de reais confiscados diariamente pela CPMF, todos prontos e ansiosos por prestar aquele serviço de qualidade que todos nós sabemos que não existe. Vai ser um INFERNO! Melhor vai ser o CAOS, onde com certeza as “auturidadis” terão suas doses de TAMIFLU bem guardadinhas e nós largados à própria sorte. Estou exagerando? Imaginemos se o tal H5N1, resolvendo se vingar de tanta besteira que temos cometido com o planeta resolve sofrer uma alteração genética, sendo que sua transmissão passe a ser de humano para humano, aí as estimativas conservadoras, apontam para umas baixas planetárias de 50.000.0000 de pessoas mortas, aproximadamente como na segunda guerra mundial.

Se você olhar um pouco mais adiante temos notícias do tipo que o degelo na Groelandia está numa taxa 150% acima do normal, o que ocasionará possivelmente interrupção da distribuição de calor para parte do hemisfério norte pela Corrente do Golfo, congelando literalmente a Inglaterra e parte dos EUA, igualzinho como no filme O Dia Depois de Amanhã. Além disso, aqui por baixo, o Brasil deve assar, com a Floresta Amazônica virando Cerrado, o Cerrado virando Caatinga e a Caatinga virando Semi-deserto. Nas cidades o caos climático promoverá chuvas torrenciais constantes, o que já está previsto para a área do Golfo do México que inicia sua estação de furacões, prevista como pior da que a do ano passado.

Podemos também imaginar que todo esse degelo com água escoando da Groelandia, Himalaia, Andes e até de nossas geladeiras, vai progressivamente influenciar a elevação dos oceanos em até sete metros na situação mais radical. Ou seja, todas as cidades costeiras debaixo d'água, salinização dos aqüíferos, perda de terras agricultáveis, fome, guerra e tudo que possamos imaginar de ruim por toda nossa incapacidade de ver e agir contra tanta irresponsabilidade criminosa antes que fosse tarde demais.

Adicionando mais um pouco de informação proveniente das conversas, reuniões e demais formas de contato que vêm de Curitiba, onde ocorreu em março/2006 o encontro internacional sobre a biodiversidade global, as informações são estarrecedoras.

O Brasil grande por natureza e megadiverso conhece de fato 1% de sua biodiversidade apesar de concentrar em seu território cerca de 20% da biodiversidade planetária. Na velocidade com que nossas “auturidadis” investem em conhecimento nessa área, estima-se que congelando hipoteticamente nossa biodiversidade agora, nesse exato momento, daqui há uns oitocentos anos, em nossa nona ou décima reencarnação, saberemos o que Pindorama tem de riqueza natural. É sempre bom lembrar que enquanto procuramos vida fora de nosso oásis planetário, globalmente conhecemos apenas 1.700.000 espécies das possíveis 14.000.000 espécies existentes. Queimamos criminosamente em nome do crescimento econômico para poucos o futuro da humanidade e dos demais organismos vivos dos quais dependemos, multiplicando por 1.000 o processo natural de extinção. Criamos com nossa mania humana de crescimento econômico sem limites num planeta de recursos naturais finitos, um HOLOCAUSTO AMBIENTAL SEM PRECEDENTES, apenas comparado com a trombada que o planeta recebeu há uns 60.000.000 de anos atrás e que reduziu drasticamente o número de espécies existentes, acabando de vez com a era dos grandes répteis.

Como maior produtor de água, o Brasil também se transformou num expert na transmutação do líquido básico para a vida em esgoto, visto que nossas lideranças políticas não dão a menor pelota para os itens saneamento básico, planejamento familiar, educação, transporte, moradia e saúde, preferindo torrar dinheiro público em propaganda e naquilo tudo que temos acompanhado apaticamente através dos meios de comunicação.

Enquanto isso o dono do pedaço, cristão fervoroso e dono do maior arsenal atômico planetário, caga e anda para Kioto e para todas as evidências climáticas bem como alertas da NASA e dos 97% dos especialistas que afirmam que os modelos matemáticos e demais indícios climáticos exigem alterações imediatas nas políticas ambientais dos principais poluidores, visando pelo menos reduzir a resposta ambiental que será dada pelo planeta em virtude do uso e abuso que temos cometido contra o mesmo.

Enquanto isso, olho para o céu límpido da madrugada, lembro de uma notícia perdida na coluna Ciência e Vida que informava sobre o alerta de astrônomos que segundo avaliações estimavam que outro pedaço de pedra tinha a possibilidade 4 (dentro de uma escala de 10) de colidir com nosso planeta e reeditar um novo armagedon até 2040. Lembro de frases “....Estrelas caindo do céu, a Lua manchada de sangue e o Sol enegrecido....”, suspiro, lembro do Iraque, de nossas favelas, das crianças fazendo sexo oral por R$ 0,50, da convocação extraordinária que nos custou R$90.000.000,00, onde a maioria de nossos ungidos não deu nem as caras, lembro da reboladinha sem graça da deputada federal em pleno Congresso, sinto angústia, muita angústia.

Você que lê este artigo, o que anda fazendo para alterar alguma coisa desse quadro político e ambiental completamente enlouquecido? Você tem filhos, netos, alguém que você goste e que seja mais jovem? O que você pretende deixar para eles? Um inferno? Pois bem, continue então só lendo e não fazendo NADA, pois é isso que ele quer que você faça.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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