bocadomangue Mario Moscatelli

CLOACA MASSIMA

 

Assistindo ao history channel que abordava o Império Romano e suas magnificas construções e posteriormente pesquisando no endereço www.pt.wikipedia.org/wiki/Cloaca_Massima me deparei com a história da construção do sistema de esgoto nos finais do século VI a.C. pelos últimos reis de Roma, Tarquínio Prisco ou Tarquínio, o Soberbo, que teve por finalidade a drenagem das águas residuais e o lixo de uma das mais populosas cidades do mundo antigo, Roma, para o rio Tibre, que atravessa a cidade, em direção ao Mar Tirreno, alguns quilômetros à oeste.
Segundo as informações pesquisadas a Cloaca Massima ou Grande Esgoto foi mantida em bom estado durante toda a idade imperial. Há notícia, por exemplo, de uma inspecção e trabalhos de manutenção sob a alçada de Agripa, a 33 a.C.. Os traços arqueológicos revelam intervenções em épocas distintas, com diversos materiais e técnicas de construção. O seu funcionamento prosseguiu durante bastante tempo após a queda do Império Romano.

Aí fiquei pensando em nossa baixada de Jacarepaguá e em seu sistema lagunar que em pleno século XXI vive pelo menos DOIS MIL E SETECENTOS ANOS de atraso da “novidade” gerada em Roma no século VI a.C., isto é, algum tipo de “encaminhamento técnico” do esgoto gerado por núcleos populacionais humanos.

É incrível como no Brasil a maioria desses “avanços tecnológicos” chega relativamente atrasado.

E alí estava eu navegando pelo mar de merda no qual se transforma o canal de Marapendi à cada maré baixa, onde um monte de gente paga os tubos para comprar um imóvel na Barra, próximo da praia, paga mais outros tubos de IPTU para alimentar a voracidade do poder público municipal e finalmente desfrutar o cheiro de gás sulfídrico e metano (ovo podre) que exala das águas pútridas dos corpos dágua da região. Enfim é podridão por todo lado, onde não falta a descida constante de resíduos domésticos, sofás, poltronas, pneus, garrafas, muitas garrafas pets que alegremente vão rodopiando, flutuando e afundando naquilo que em 1936 era chamado por Magalhães Corrêa como parte do “Sertão Carioca”. Apesar de sua preocupação já na época, Magalhães nunca teria tido a capacidade de imaginar o grau de miopia e irresponsabilidade destrutiva e de aniquilação que os administradores públicos desenvolveriam em nossa cidade nas décadas seguintes.

Neste contexto, aproveitando um sobrevôo, lá fui ver o estado da pobre lagoinha das Taxas, o pinico localizado no parque Chico Mendes. Como era de se esperar, a pobre laguna, adubada diariamente em suas duas extremidades pelo canal das Taxas e por uma série de galerias de águas fecais por doses cavalares de esgoto puro, progressivamente tem seu espelho dágua retomado pelas “ninfomaníacas” gigogas que alimentadas pela overdose de nutrientes se multiplicam numa verdadeira bacanal ambiental. Associe-se à bacanal, cores psicodélicas esverdeadas e amarronzadas, provavelmente associadas ao despejo de algum resíduo misturado com algas tóxicas. Não seria pior, se a SERLA não tivesse abandonado o serviço de remoção das gigogas, digamos “pela metade”, visto que quando os equipamentos foram embora, ainda flutuavam no espelho dágua da pequena laguna coisa de 30% do total removido, o que por sua vez facilitou o mais recente ataque ao espelho dágua. Mas quer saber, DANE-SE a lagoinha, DANE-SE o jacaré, DANE-SE o contribuinte, até por que QUASE NINGUÉM reclama, denuncia, chama a polícia ou a ONU. Deduz-se então que QUASE NINGUÉM se importa com aquele cloacão e portanto limpando ou deixando do jeito que está, não dá nem tira voto!

Enfim, é duro de engolir tanta irresponsabilidade, sendo paga à peso de ouro. Tanto estelionato ambiental, onde parece que o carioca se acostumou à viver no meio do lixo e do esgoto. Vai ver que daqui há alguns anos vai surgir na cidade do Rio de Janeiro uma nova espécie humana, o Homo fecalis, aquele que só pensa, só fala e só faz merda!

Dá tristeza, depressão de ver um patrimônio ambiental como o da nossa cidade sendo administrado como se fosse a Geni. Muita promessa, pouca vergonha na cara, muita pompa, pouca estratégia, nenhum gerenciamento ambiental à médio e longo prazo, tudo como muito confete e serpentina na inauguração disso e daquilo, mas quase nenhuma continuidade. Palavra que é um palavrão no dicionário da classe política brasileira. Tudo do antecessor deve ser destruído, esquecido, a não ser que sejam ações de natureza assistencialista e populista, bem do jeito que o povão gosta, naquele processo de usar e mamar até acabar ou secar.

Tinha esperança nesse tal de jogos Pan Americanos, só que erraram no nome do mascote, Em vez de Cauê, tinha de ser Cadê? Cadê o saneamento? Cadê a melhoria do transporte? Cadê a melhoria na segurança? Cadê a melhoria na saúde? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? CADÊ? E mais uma vez tudo leva à crer que fomos feitos de OTÁRIOS.

Enquanto isso o COB após participar ativamente das inúmeras festanças que celebram semanalmente a chegada dos jogos em eventos de inclusão social, emocional, sexual, etc, etc, parece ter esquecido do pobre do meio ambiente que só é usado de palanque para os eventos gestados por “competentes” administradores públicos.
Enquanto isso, QUATRO MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE LAMA E LIXO repousam na laguna da Tijuca, TODO O ESGOTO IN NATURA PRODUZIDO na baixada de Jacarepguá é despejado sem dó no sistema lagunar, A OCUPAÇÃO DESORDENADA COME SOLTA e no horário eleitoral continuamos vendo quase que as mesmas caras fazendo as mesmas promessas, apresentando as mesmas soluções que NUNCA foram colocadas em práticas pelos seus antecessores, padrinhos, parentes, amigos e ou inimigos de ocasião e portanto também não deverão ser colocadas em prática pelos salvadores da pátria da vez.

Há DOIS MIL E SETECENTOS ANOS os Romanos já sabiam o que fazer com seu esgoto. Nós em pleno século XXI, enquanto outras nações planejam colonizar outros planetas, convenhamos, tarefa bem mais complexa, nossa catatônica sociedade com seus espertalhões administradores “públicos” continuam sem saber o que fazer com a nossa caca de cada dia. Aliás sabem sim, jogam sua fezes e resíduos variados nos corpos dágua como também o faziam os exploradores europeus no século XVI.

Finalizo sugerindo para as “autidadis” que tiverem algum interesse em se aprofundar no assunto da CLOACA MASSIMA e aprender alguma coisa sobre senso de responsabilidade, planejamento e gerenciamento ambiental, mesmo que o exemplo venha de muito tempo atrás, que acessse o GOOGLE. É fácil e rápido!

Temos a cidade que merecemos ter. Essa cidade não merecia ser tratada da forma que a tratamos. A natureza não vai se proteger mas ela com toda a certeza vai se vingar, muito em breve, por tanto desprezo e arrogância.

SORRIA VOCÊ ESTÁ NA BARRA (devem estar de sacanagem!)

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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