início bocadomangue Mario Moscatelli

UM DIA A CASA CAI....

Durante o almoço, entre uma desgraça e outra, apresentada pelo noticiário da tv, fiquei sabendo do desbaratamento de uma quadrilha envolvendo, servidores públicos ambientais do estado e da prefeitura de Angra dos Reis bem como de empresários locais.

Coisa envolvendo uns OITENTA MILHÕES DE REAIS, onde tinha de obra super-faturada à expedição de licenças ambientais fajutas. Pude reconhecer algumas caras e lembrar de tudo que passei de 1989 à 1991, quando nesse período, época que o assunto ambiental ainda era ligado quase que exclusivamente à Amazônia, ao assassinato do líder seringalista e as ações de alguns grupos ambientalistas, quase que deixei meu couro naquele município com pouco mais de vinte anos..

Sempre vale a pena lembrar que um departamento municipal com apenas quatro pessoas e muita disposição em 1989 conseguiu paralisar toda a especulação imobiliária que destruía manguezais há anos, como fosse a coisa mais normal do planeta. Destaca-se que o aterro e a criação de estradas sobre manguezais, bem como a supressão de costões rochosos ocorria tanto pela apatia dos órgãos ambientais federais e estaduais, como com o consentimento desses últimos, por meio da expedição de licenças fajutas.

O problema é que quando chegavam ao nosso departamento de controle ambiental, as licenças eram praticamente jogadas no lixo, após serem vistoriadas as áreas que se enquadravam na maioria como áreas de preservação ambiental.

De pouco adiantaram as denúncias na mídia, os apoios efetuados ao ministério público contra os empreendedores e mesmo os confrontos diretos com a corja que dominava a estrutura pública ambiental da época. Tudo estava muito bem orquestrado e quem desafinava nessa banda éramos praticamente apenas nós. Felizmente com o apoio da mídia e de alguns leais amigos e amigas, continuei vivo para contar a história e aqui estou brigando em outras frentes.

Enfim, repetindo aquele filminho sem graça, primeiro tentaram corromper, depois meter medo, desmoralizar e finalmente partiram para o tudo ou nada.

Foi um inferno de dois anos e meio. Anos recheados de ameaças telefônicas, fugas de madrugada, perseguições na rodovia Rio-Santos e muitas noites sem dormir e muitos dias vivendo com medo.

Até hoje as marcas daquele inferno estão cravadas na minha memória. Quem diz que viveu algo como eu vivi e diz que repetiria a dose, mente. Ou talvez não tenha vivido e, portanto não sabe a merda que está falando.

Acho incrível como essa corja de servidores e empresários corruptos não tem medo, não toma conhecimento da possibilidade de escutas policiais e da “casa um dia poder cair”. Parece que não têm vergonha, não têm medo, pois acreditam que logo serão soltos e, portanto no mundo de Pindorama, onde a impunidade é a lei que vigora, logo estarão novamente no mercado ambiental poluindo e se prostituindo, vendendo facilidades.

Respiro fundo e lembro de tudo, tendo a certeza que boa parte dessa corja estará nas ruas em breve. Não sou pessimista, apenas acompanho que a polícia prende e a justiça solta em breve. Não sei bem baseada no que? Ou a polícia não investiga direito, ou as leis beneficiam os empresários safados, cafajestes, assassinos, pedófilos, cafetões, políticos corruptos, etc, etc ou a justiça realmente é cega. Pode ser também a mistura das três. Quem sabe? Não sou pessimista não, infelizmente apenas é a constatação dos fatos, onde prende uma semana e solta na seguinte, seja assassino do trânsito ou banqueiro safado. Isso é o que acompanho nos jornais.

De qualquer forma, a prisão temporária dessa corja em Angra dos Reis, servirá pelo menos para colocar um pouco mais de ordem ou no mínimo de medo nesse mercado de meio ambiente que depois de descoberto pelos políticos safados da vez como uma mina de ouro, se transformou num verdadeiro prostíbulo.

Tenham certeza que só existe essa corja, pois muito possivelmente existe bastante gente que prefere pagar a licença e aguardá-la na beira da piscina com um copo de cachaça na mão e um charuto na outra. Esperneiam quando precisam pagar uma equipe para fazer um estudo sério, mas para comprar facilidades, aí a coisa é diferente, entre sorrisos e juras de amor eterno.

Em contra-partida também é imperioso que as regras sejam claras e os prazos de análises por parte dos órgãos ambientais transcorram dentro dessa “encarnação”, visto que quanto mais complicado e longo propositalmente o licenciamento, o mesmo torna-se o ambiente propício para todo tipo de sacanagem, onde pouca coisa acaba sobrando de bom, principalmente para o tal meio ambiente.

Que a Força esteja no coração de todos vocês.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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