oceano .Planeta Oceano Agenor Cunha da Silva

O MAR ATUAL (Perspectiva e Realidade)

O presente artigo aborda aspectos sobre a evolução tecnológica que atualmente atinge níveis de desenvolvimento totalmente incoerentes com o conceito de "mentalidade marítima" que se deseja para as populações que habitam as faixas costeiras do nosso planeta. Em vista do que se pretende, verifica-se que apesar de toda tecnologia disponível, os princípios preservacionistas quase sempre acabam relegados a planos bem inferiores aos que são propalados pelos governantes, políticos e ambientalistas. O artigo mostra que: Exaurir os recursos dos ambientes marinhos é romper um tênue equilíbrio; é colocar em risco não apenas esta, mas também as futuras gerações.

Por muitos séculos as bases científicas e tecnológicas avançaram para o desenvolvimento de novas conquistas dos mares. Nos últimos vinte e cinco anos adquirimos um conhecimento sem precedentes dos oceanos. Chegamos a observar que alguns avanços foram registrados também nas relações entre os homens e os mares. Tais avanços, certamente decorrem das conquistas em diversas áreas do conhecimento. A descoberta de novos materiais, com o desenvolvimento de equipamentos eletrônicos miniaturizados, e de técnicas acústicas voltadas para a pesquisa do fundo dos oceanos, constituem conquistas consideráveis na evolução das tecnologias.

O século XXI desponta com a perspectiva de novas conquistas na área de tecnologia e de novas pesquisas dos mares, mas no horizonte da realidade conseguimos vislumbrar apenas um quadro bastante desolador. A falta de sensibilidade no trato da ecologia faz convergir as ações onde a humanidade, ao agredir a natureza, indiretamente cultua uma situação de autoflagelamento. Certamente, esta situação é induzida pela ganância do poder econômico, em nome do qual todo o tipo de ações danosas ao ambiente são "permitidas". Agressões são cometidas em nome de um falso desenvolvimento imediato. A utilização de novas ferramentas não constitui garantia da alteração deste cenário. Usar novos satélites, providos de sensores cada vez mais sofisticados e de alta capacidade de discernimento, capazes de efetuar o monitoramento global do planeta, não garante que as agressões ambientais sejam evitadas. Nem mesmo atenuadas. Elas continuam. A cada ano, novas áreas são devastadas. Florestas desaparecem e regiões pesqueiras são exauridas. Partes dos continentes e dos oceanos paulatinamente vão virando verdadeiros desertos.

Questões ambientais ligadas aos Oceanos começam a tomar vulto. Novas leis já começam a ser elaboradas para preservar a vida e os recursos dos mares. Uma tênue luz começa a aparecer. A cadeia alimentar, cuja base reside nos Oceanos, talvez ainda possa vir a ser preservada. Neste contexto, observa-se que mais recentemente outros conceitos sobre as leis que regem a vida nos oceanos começam a ser mais bem compreendidas. Algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) voltadas para questões ambientais, ainda conseguem se manter independentes e permanecem sem grandes compromissos com as mazelas políticas.

Num viés particular, elas começam a sensibilizar e a induzir a opinião pública, não apenas para seus direitos, mas principalmente para sua maior obrigação; a de cobrar das autoridades ações mais imediatas na preservação dos recursos marinhos.

Por conta disso, a ocupação da faixa costeira, em quase todos os litorais do mundo, já vem sendo objeto de preocupação por parte das autoridades públicas, no sentido de que a questão ambiental seja tratada o mais racionalmente possível, evitando agressões e preservando importantes recursos para esta e para futuras gerações.

Deve-se ter em mente, que as limitações dos altos custos das pesquisas marinhas são evidentes. Para as nações menos ricas, qualquer deslocamento de plataformas de observação e para a coleta de dados oceanográficos geralmente extrapola seus orçamentos. Acompanhar o desenvolvimento de novas teorias é quase impossível. A Tectônica de Placas, origens das Fontes Hidrotermais e teorias sobre as interações e trocas que ocorrem entre os oceanos e a atmosfera, comumente estudadas pela comunidade científica mundial, são campos restritos para muito poucos. Curiosamente, sobre nosso planeta alguns conceitos ainda necessitam ser reformulados. A necessidade de se harmonizar tais conceitos é uma questão fundamental. Há de se buscar, de imediato, o equilíbrio no crescimento sustentável, tanto em termos ambientais quanto nas questões sociais. Neste quadro, encontramos todos os tipos de agressões como a poluição, superexploração dos recursos marinhos, pressões populacionais nas zonas costeiras, explosão de algas, perda da biodiversidade marinha, impactos com a amplificação de processos erosivos, que geralmente resultam em evidentes prejuízos para a saúde das populações litorâneas. Junta-se a isto, a necessidade da geração de mais energia, produção de mais alimentos e mais produtos marinhos para atender à crescente demanda da população mundial.

Como desafio global, emergem novas questões que ao longo do tempo poderão se firmar como novos campos de pesquisa definindo novos critérios e procedimentos, com regras rígidas para a exploração racional dos oceanos. Neste sentido é importante, por exemplo, que os processos que regem as interações oceano-atmosfera sejam efetivamente conhecidos, já que elas afetam diretamente o clima, bem como a freqüência das oscilações que ocorrem nas regiões equatoriais. Nelas os fenômenos El Niño e La Niña vem representando um desafio na compreensão das mudanças climáticas associadas aos eventos de aquecimento global e a variação do nível dos mares.

O aspecto holístico, interdisciplinar e mais internacionalizado, é para onde, atualmente convergem as questões ligadas aos oceanos, estabelecendo novas diretrizes que devem ser adotadas em praticamente todos os níveis. Se todos pagam impostos, novas posições podem ser exigidas dos governantes, obrigando-os a ter uma capacidade instalada de preservação, condizente com as necessidades das suas populações. Por ter mão dupla, os deveres do Estado, devem ter uma contrapartida das populações mais diretamente ligadas aos mares. Assim, autoridades portuárias, armadores, comandantes de navios, pescadores e todos aqueles que se utilizam dos oceanos, têm, no mínimo, a obrigação de não apenas usa-los, mas principalmente de preservá-los. A dimensão dos efeitos ambientais causados pela introdução de poluentes no mar não depende, exclusivamente do volume e da composição do material despejado, mas sim, da interelação desses e de uma série de outros fatores, tais como a localização geográfica e suas variáveis biológicas, oceanográficas, meteorológicas. Nos vazamentos de óleo, por exemplo, de navios ou industrias, além desses fatores, as propriedades físico-químicas do óleo também são determinantes da magnitude dos efeitos gerados, tanto pela contaminação quanto pela própria poluição. Há que se aproveitar os novos meios de comunicação para divulgar em todas as camadas das populações alguns conceitos fundamentais para as questões ambientais. É necessário, por exemplo, divulgar que a contaminação em meios aquosos é a presença de concentrações elevadas de substâncias na água, de material orgânico, ou não, cujas presenças superam os níveis naturais para uma determinada área e um organismo específico. E que poluição marinha: é a introdução pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias ou energia no ambiente marinho (incluindo estuários) que resultem em efeitos danosos para os recursos naturais e para a saúde humana, bem como, no impedimento das atividades econômicas, tais como a pesca e o turismo; na diminuição da qualidade da água para seu uso, na redução das belezas naturais e na própria qualidade de vida das populações.

Outra questão fundamental, que devemos ter em mente, é a da cobrança que se deve fazer aos governantes espúrios. Muito deles vislumbram nos oceanos apenas a possibilidade do enriquecimento próprio. Prova disto, é a imposição de Projetos e Programas pictóricos, que aparecem como paliativos. Propõem a restauração de áreas costeiras, sem os devidos investimentos que se fazem necessários. Não são feitos estudos, nem levantamentos. A falta ou o desvio de recursos para o desenvolvimento de pesquisas mais detalhadas, como exigem as questões ambientais, é patente. A omissão dos meios de comunicação e a falta de divulgação da mídia, para problemas deste tipo, expressam bem o lado ruim da globalização que claramente tende para a alienação. Na realidade este é o quadro que atualmente permeia a falta de consciência para os problemas ambientais, mormente quando interesses econômicos estão em jogo, ou quando falta seriedade por parte dos políticos.

No Brasil, pelas características do nosso litoral, julgo ser ainda possível a adoção de procedimentos que poderão salvar os programas de preservação e exploração racional dos oceanos. Neste sentido, Programas de caráter regional e local devem ser priorizados para serem aproveitados pelo governo na implementação de Projetos com a participação das comunidades. De certa forma, isto já vem sendo feito, em relação aos Programas que são aplicados com sucesso em algumas áreas costeiras. Um exemplo disto é o Programa de Gerenciamento Costeiro (PGC), levado a cabo com o apoio de Universidades e da Marinha do Brasil. Ressalta-se, por suas características, que as populações costeiras são as que realmente possuem a capacidade de melhor assimilar as práticas protecionistas, principalmente aquelas voltadas para a preservação do ambiente marinho. Desenvolver a mentalidade marítima construtiva é tão fundamental quanto preservar os recursos do mar. O aspecto social, além de resgatar o orgulho das populações ligadas ao mar, certamente despertará novos conceitos que irão incentivar as novas gerações. Ao se divulgar que dos oceanos emana a vida como fonte de sustento, as perspectivas de despertar uma consciência voltada para o mar podem ser promissoras.

Todavia, a realidade é outra. As ações de efetiva preservação dos nossos ambientes, terrestres ou marinhos, devem ser imediatas. Somente assim, as novas gerações poderão adquirir a tão sonhada "mentalidade marítima". Ao preservar os recursos naturais, preservarão não apenas o ambiente marinho, mas principalmente os recursos ainda disponíveis do nosso Planeta Oceano.

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MSC. Agenor Cunha da Silva - agenor@biologo.com.br
31/08/03 - USU/ICBA - RJ

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