Manejo adaptativo é um termo pouco conhecido pelos profissionais brasileiros da área ambiental, mas é bastante utilizado em países da América do Norte e Europa, geralmente na implantação de políticas ambientais.
Ecologia Hoje #6 :: Branca Medina
Manejo adaptativo
Desenvolvido nos anos 70, este conceito está relacionado com o aprendizado através da prática: é um processo sistemático de melhorar continuamente as políticas e práticas de manejo, aprendendo com os resultados dos programas operacionais.
Sua forma mais ativa emprega programas de manejo planejados para comparar experimentalmente políticas ou práticas selecionadas, avaliando hipóteses alternativas sobre o sistema a ser manejado. As etapas necessárias para colocar esta prática em funcionamento, que as diferenciam das demais práticas existentes, são:
- acessar o problema– deve ser sabido que há incerteza sobre qual política ou prática é “melhor” para um assunto particular do manejo;
- planejar– seleção criteriosa das políticas ou práticas a serem aplicadas;
- implementar– o plano de ação deve ser planejado cuidadosamente para revelar os conhecimentos críticos que estejam faltando;
- monitorar as ‘respostas-chave’ dos indicadores ambientais (obs.: atenção para a definição de indicador!)
- avaliar– a análise dos resultados deve levar em consideração principalmente os objetivos iniciais;
- ajustar– incorporação dos resultados nas decisões futuras e
- voltar a 1. o aspecto cíclico deste processo é fundamental para o desenvolvimento e sucesso dos programas de manejo.
Resumindo: Manejo adaptativo
O manejo adaptativo é aprender a manejar para manejar o aprendizado. O aprendizado sobre a vida e o seu meio ambiente. Assim, as políticas são tratadas como experimentos científicos, tentando-se sempre aprender a partir dos próprios resultados.
Em se tratando de estudos sobre o ambiente, os planos de manejo devem reconhecer e incorporar o fato de que os conhecimentos biológicos sempre apresentam um grau de incerteza. A única maneira de lidar com esta incerteza é manter o conhecimento científico em contínua transformação e desenvolvimento. Como é a própria dinâmica da vida em sua essência.
Este novo conceito da ecologia e conservação é “bio-regional” no escopo, colaborativo no nível governamental e, é claro, adaptativo e particularmente plástico na perspectiva do manejo em si.
O conceito vêm ganhando cada vez mais força e adeptos por causa de: 1) crescente aceitação do fato de que as espécies e os processos ecológicos valorizados só podem ser preservados em ecossistemas grandes e; 2) reconhecimento de que muitos ecossistemas de biodiversidade elevada são e continuarão a ser habitados por nós seres humanos. Essa é a base para a conciliação entre conservação ecológica e desenvolvimento (sustentável?).
Planejamento das políticas ambientais
O planejamento das políticas ambientais passa a levar em conta, principalmente, as quatro dimensões a seguir:
a) sondagem conceitual: a idéia faz sentido? Aprendendo através da experimentação.
b) técnica: a idéia traduz-se bem em prática? Qual o custo da informação? Neste ponto é importante salientar a importância crescente da ampliação da escala dos estudos no nível de mapas e sistemas de informação geográfica (GIS).
c) ética: quem perde e quem ganha? Levar sempre em consideração que o manejo envolve inúmeras partes (governo, proprietários, comunidades locais…) e que todas devem participar do processo
d) pragmática: isso funciona? O manejo adaptativo está em fase de experimentação. Os resultados ainda estão vindo. Alguns positivos, outros dúbios. Que continuem os experimentos!
Enfim, o manejo adaptativo é uma questão de urgência: atua-se sem saber o suficiente, aprendendo com a experiência. O que não pode acontecer é o que mais acontece atualmente: ficar parado justificando-se que nada se sabe e que é tudo muito complexo ou tirar conclusões precipitadas por falta de conhecimento ou experiência, e parar por aí.
O manejo adaptativo veio para acabar com as ‘desculpas esfarrapadas’ e para organizar e desenvolver as formas de se manejar o meio ambiente. Então, mãos à obra!
Leitura sugerida:
Lee, K. N. 1999. Appraising adaptive management. Conservation Ecology 3 (2): 3. [online] URL: http://www.consecol.org/vol3/iss2/art3/
Branca M. O. Medina – branca@biologo.com.br – Bióloga Mestre e Doutoranda em Ecologia, Consultora Ambiental e de SIG.