Ornitorrinco: mamífero fascinante por suas características peculiares, o Ornithorhynchus anatinus é um animal semiaquático nativo da Austrália e Tasmânia. A população vem declinando e hoje encontra-se quase ameaçado de extinção.
Ornitorrinco: um mamífero venenoso que põe ovos, quase ameaçado
03/8/2022 :: por Marco Pozzana, biólogo
Espécie descrita pelo zoólogo George Shaw em 1799, o ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) é o último representante vivo da família Ornithorhynchidae, embora diversas espécies relacionadas sejam conhecidas por registro fóssil.
São animais de hábitos crepusculares e noturnos. A dieta é preferencialmente carnívora, consistindo em sua maior parte de crustáceos de água doce e insetos.
Esses mamíferos tem muitas características únicas que os tornam particularmente interessantes no estudo da biologia evolutiva. No entanto, ameaças climáticas e ambientais estão colocando em perigo a sobrevivência da espécie.
Ornithorhynchus anatinus (Shaw, 1799)
Trata-se de um animal tão singular que, na ocasião da descoberta da espécie, nem mesmo com um exemplar vivo, os europeus não acreditaram na existência de um animal tão estranho. A aparência incomum de um mamífero que põe ovos, com um bico de pato, cauda de castor e patas de lontra, os surpreenderam. Julgaram se tratar de uma suposta fraude, com vários animais costurados juntos.
O ornitorrinco macho possui um esporão na pata traseira que libera um veneno, capaz de causar fortes dores aos humanos. Esta característica o coloca entre as poucas espécies de mamíferos venenosos. O veneno é usado principalmente para defesa territorial e contra predadores.
Juntamente com as quatro espécies de equidna, são as únicas espécies existentes da ordem dos monotremados, os únicos mamíferos que põem ovos em vez de dar à luz filhotes vivos. Como outros monotremados, ele é capaz de detectar a presa por meio de eletrolocalização.
A cor do ornitorrinco é âmbar ou marrom escura no dorso, e acinzentada e castanho amarelada no ventre. O corpo é hidrodinâmico e comprimido dorsoventralmente.
Os membros são curtos e parrudos e os pés possuem membrana interdigital. Tanto o peso quanto o tamanho corporal variam entre os sexos, sendo o macho maior que a fêmea. O corpo e a cauda são cobertos por uma densa pelagem, que protege o animal das variações de temperatura.
Mudança climática, uma ameaça crescente
De acordo com um estudo de 2020 publicado na revista Biological Conservation, condições severas de seca e calor, combinadas com a perda de habitat e outros impactos das atividades humanas, estão colocando uma das espécies endêmicas mais enigmáticas e icônicas da Austrália, em risco de extinção.
Os devastadores incêndios florestais na Austrália, que ceifaram a vida de mais de um bilhão de animais, segundo estimativas, é um dos efeitos das mudanças climáticas que a vida selvagem do país está enfrentando.
Por isso, a partir de 2020, o ornitorrinco foi finalmente considerado como uma espécie legalmente protegida em todos os estados onde ocorre. Consta como uma espécie em extinção no sul da Austrália e Victoria.
Até o início do século XX, os homens caçavam o ornitorrinco por sua pele, mas o animal hoje está protegido por lei em toda a sua extensão. Os programas de criação em cativeiro tiveram um modesto sucesso.
A espécie é classificada como espécie ‘quase ameaçada’ pela IUCN, mas um relatório de novembro de 2020 recomendou que seja atualizada para ‘ameaçada’ sob a Lei EPBC federal, devido à destruição do habitat e números em declínio em todos os estados.
O ornitorrinco tornou-se um dos símbolos da fascinante fauna da Austrália, figurando como mascote em eventos nacionais e presente no verso da moeda australiana de vinte centavos. É importante para vários povos aborígenes da Austrália, que também costumavam caçar o animal para se alimentar.
Fontes e referências:
- Severe drought and other climate impacts are driving the platypus towards extinction – 29 January 2020 – Mongabay.com (em inglês).
- Platypus – Wikipédia.org (em inglês).
- Shaw, George; Nodder, Frederick Polydore (1799). “The Duck-Billed Platypus, Platypus anatinus”. The Naturalist’s Miscellany. doi:10.5962/p.304567 (em inglês).
- Zarrelli, Natalie (21 April 2016). “Why 19th-Century Naturalists Didn’t Believe in the Platypus”. Atlas Obscura. (em inglês).
- Bino, G., Kingsford, R. T., & Wintle, B. A. (2020). A stitch in time–Synergistic impacts to platypus metapopulation extinction risk. Biological Conservation, 242, 108399. doi:10.1016/j.biocon.2019.108399
- Woinarski, J. & Burbidge, A.A. 2016. Ornithorhynchus anatinus. The IUCN Red List of Threatened Species 2016: e.T40488A21964009. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2016-1.RLTS.T40488A21964009.en. Accessed on 02 August 2022. (em inglês).