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Retirada do capim-colonião

Retirada do capim-colonião e restauração ecológica das Ilhas Cagarras: Projeto Ilhas do Rio faz controle e levantamento de espécies exóticas no monumento natural das ilhas. Além do estudo inédito de mamíferos terrestres, projeto acaba de concluir a última etapa do replantio para a restauração ecológica das ilhas através da retirada do capim-colonião.

Retirada do capim-colonião
e restauração ecológica das Ilhas Cagarras 

1/7/2021 ::  Por Josué Fontana

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, Espécies Exóticas Invasoras (EEI) representam uma das maiores ameaças ao meio ambiente, causando grandes prejuízos à biodiversidade e aos ecossistemas naturais, além dos riscos à saúde humana.

Retirada do Capim Colonião

É a causa da segunda maior perda da biodiversidade no planeta, perdendo apenas para a destruição dos habitas pelos humanos. No Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MoNa Cagarras), que acaba de ganhar o título de “Ponto de Esperança” concedido pela Mission Blue, estudos do Projeto Ilhas do Rio revelaram a presença do capim- colonião (Megathyrsus maximus), espécie exótica africana que dominou grande parte da vegetação da região.

Também foi registrada a presença de coelhos e ratos que agora estão sendo monitorados através da pesquisa inédita da mastofauna terrestre. Os dados servirão de base para a estratégia de ação de espécie exótica, um dos cadernos que compõem o plano de manejo da Unidade de Conservação, recentemente publicado pelo ICMBio.

Monumento Natural das Ilhas Cagarras

Solucionando problemas ecológicos

Nas ilhas, a presença de EEI pode causar impactos severos, através de fenômenos como exclusão competitiva, deslocamento de nichos, hibridização, predação e extinção. É o caso, por exemplo, do capim-colonião que se instalou na Ilha Comprida e também pode ser visto em outros pontos do MoNa Cagarras. Por isso, desde 2014, o Projeto Ilhas do Rio vem desenvolvendo um experimento pioneiro em ilhas costeiras para a retirada dessa espécie e a restauração de sua flora original coordenado pelo pesquisador Massimo Bovini.

No dia 25 de junho, a equipe de Massimo realizou a terceira e última etapa do replantio onde foram implementados quatro núcleos com quatro novas mudas cada. Cada núcleo recebeu um sombrite (tela especial para sombreamento) para cobrir a área (na etapa anterior, foi utilizada apenas a sombra das próprias árvores que foram crescendo).

“Com o sombreamento artificial será possível descobrir se a sombra total realmente impede de alguma forma o crescimento do capim, facilitando, assim, o crescimento das mudas e dando oportunidade para as sementes das plantas nativas germinarem e crescerem naturalmente no local”, explica o pesquisador. E ressalta “Vale lembrar que todo esse experimento é pioneiro em ambientes insulares”, diz.

Espécies nativas no lugar das exóticas

Massimo Bovini. foto: Caio Salles/Projeto Ilhas do Rio

Ao todo, foram plantadas mais de 350 mudas de quatro espécies nativas. As que melhor se adaptaram foram a aroeira (Schinus terebinthifolius) e a Lonchocarpus virgilioides, ambas hoje atingindo até 3 metros de altura e com presença de flores e frutos. A grande surpresa foi a volta dos pássaros que utilizam as árvores para descanso e ajudam a semear a terra de forma natural. “Nas últimas visitas de monitoramento já encontramos pássaros nos galhos e sementes de pitangas germinando. Isto é, a dinâmica do ecossistema está voltando sem a nossa influência. Isso faz com que o capim vá perdendo sua força, além de auxiliar com a estocagem de Carbono”, comemora Massimo.

Todo o processo de replantio vem sendo feito em parceria com Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As mudas foram doadas pelo Horto Carlos Toledo Rizzini da Prefeitura.

foto: Athila Bertoncini

PESQUISA INÉDITA – Foi durante uma das etapas do experimento, em 2014, que os pesquisadores avistaram pela primeira vez, na Ilha Comprida, a presença de coelhos. Os registros feitos através de fotos e vídeos indicavam ser uma espécie europeia, Oryctolagus cuniculus, considerada exótica invasora. Em outros campos também foi detectada a presença de ratos. Por isso, nessa nova fase, o projeto incluiu a pesquisa inédita da mastofauna, coordenada pela pesquisadora Júlia Luz, com o objetivo de aprofundar o estudo desses animais terrestres invasores, além de outras espécies nativas, como os morcegos, os únicos mamíferos que voam.

Espécies invasoras

A primeira captura de ratazanas no MoNa Cagarras foi feita por Júlia e sua equipe em 2019, também na Ilha Comprida e, logo depois, identificadas como Rattus norvegicus – espécie exótica invasora. No entanto, até o momento, nenhuma espécie de roedores foi encontrada em outras ilhas da UC.

Ratos predam ovos e filhotes de aves marinhas, um grande perigo para atobás e fragatas

“Os ratos, do gênero Rattus, tem grande impacto sobre a biota nativa, especialmente em ambientes insulares. Eles, por exemplo, predam ovos e filhotes de aves marinhas, sendo, portanto, um grande perigo para os atobás e as fragatas do MoNa Cagarras. A boa notícia é que por enquanto eles só foram capturados na Ilha Comprida, o que significa que ainda não chegaram a colonizar as outras ilhas”, explica Júlia.

O mesmo foi observado sobre os coelhos. Até o momento, nenhum animal foi visto em quatro das cinco ilhas amostradas. “O único registro que temos é o de 2014, na Ilha Comprida. Acredito que alguém soltou um coelho lá (ou poucos coelhos) e não foi suficiente para estabelecer uma população”, diz.


Projeto Ilhas do Rio

 Há quase uma década, o Projeto Ilhas do Rio iniciou suas atividades no MoNa Cagarras, Unidade de Conservação (UC) situada no Rio de Janeiro, mais precisamente, a 5 km da praia de Ipanema. Naquele momento, muito pouco se sabia sobre a biodiversidade da região, formada pelas ilhas Cagarra, Filhote da Cagarra, Palmas, Comprida, Redonda e Filhote da Redonda, totalizando uma área de 91,20 ha. Hoje, através do trabalho desenvolvido pelo projeto, mais de 600 espécies de animais e plantas foram registradas, entre elas, algumas raras, endêmicas e também inéditas para a ciência.

PARA SABER MAIS – as principais descobertas e atualizações sobre o trabalho do Projeto Ilhas do Rio no MoNa Cagarras foram apresentadas durante o 2º Seminário de Pesquisa do MoNa Cagarras, realizado pelo ICMBio. O evento contou com a participação de gestores das principais UCs marinhas do país, representantes do poder público, pesquisadores e profissionais da iniciativa privada que fizeram uma imersão nas Unidades de Conservação marinhas no Brasil para discutir pesquisas, preservação e manejo com o poder público, a academia, ONGs e empresas. Todos os vídeos e áudios das mesas de discussões, incluindo debates sobre Espécies Exóticas Invasoras em UCs marinhas do país, estão disponíveis no YouTube do Ilhas e também no formato podcast, para várias plataformas.

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