#9 - Araticum Annona crassiflora Mart. Também é conhecido por marolo ou bruto.
Araticum é nome dado à diversas espécies da família Annonaceae, mesma da fruta-do-conde (Annona squamosa), conhecida também como ata ou pinha, dependendo da região. Pio Corrêa relata que a primeira muda desta espécie foi plantada no país pelo Conde de Miranda, na Bahia no ano de 1626. Segundo professor, da Universidade de Brasília-UnB, em Guia de Campo para árvores do cerrado, o nome araticum é derivado do tupi, podendo significar árvore de fibra rija e dura, fruto do céu, saboroso, ou ainda fruto mole. Trata-se de uma árvore (Fig. 1A), sem exsudação de látex no caule ou ao se destacar a folha, com ramos e brotos com pilosidade ferrugínea; tronco pode alcançar cerca de 40 cm de diâmetro, o ritidoma (casca) é bege ou cinzento, com fissuras e cristas estreitas, descontínuas e sinuosas (Fig. 1C); suas folhas são simples, alternas, de 5-16cm de comprimento e 3 a 12 de largura, possuem as margens lisas e nervações bem marcadas na face superior; sua consistência é bem firme (coriácea). Flores de até 4cm de comprimento, com seis pétalas livres entre si, de coloração creme ou verde ferrugínea, consistência carnosa, que pouco se abrem (Fig. 2A); são três pétalas maiores, dispostas externamente, e três menores internas; seus frutos alcançam mais de 15 cm de diâmetro e 2kg de peso, contendo muitas sementes com cerca de 1,5cm de comprimento.
Ocorre em cerrados e cerradões, ao longo de todo o bioma Cerrado. Sua floração se dá predominantemente de setembro a janeiro e frutifica de outubro a abril (principalmente de fevereiro a março), sendo a dispersão das sementes realizada pela própria gravidade ou por animais. Na Caatinga foi constatada a dispersão de araticum (Annona coriaceae) por formigas (Pheidole sp.) e no Mato Grosso, sementes (A. crassiflora) foram encontradas nas fezes da rapozinha-do-campo (Lycalopex vetulus), o menor canídeo das Américas, mesmo em área sem a ocorrência da árvore. Um quilo contém aproximadamente 1400 sementes, que perdem rapidamente a viabilidade se armazenadas. A germinação do Araticum pode ser antecipada em até 36 dias e concentrada em até 3 meses após a semeadura, com o uso de ácido giberélico (GA3). Recomenda-se colocar as sementes imersas numa solução contendo 1g de Ácido giberélico por litro de água, por um período de 24h, antes da semeadura (Melo, 1993, apud Silva et al. 2001) Quando aberto, o fruto oferece uma polpa cremosa de odor e sabor bem fortes e característicos. A polpa pode ser consumida ao natural ou na forma de batidas, bolos, biscoitos e bolachas, picolés, sorvetes, geléias e diversos doces.
Receita de doce pastoso de Araticum: Ingredientes:
1 medida de polpa de araticum, 1 medida de açúcar, 1 e
meia medida de leite.
Resultados preliminares de pesquisa conduzida por duas universidades, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Católica de Goiás (UCG), revelam que o araticum e o pequi possuem fatores antioxidantes, sendo fortes aliados da população na prevenção de doenças degenerativas.
O araticum integra a medicina das populações tradicionais da região da Chapada dos Veadeiros, Goiás, que o utilizam como regulador de menstruação, para reumatismo, feridas, úlceras, câncer de pele, fraqueza no sistema digestório, cólicas e contra diarréia.
Referências
e sugestões bibliográficas sobre o Araticum: Agostini-Costa,
T. & Vieira, R.F. Frutas nativas do cerrado: qualidade nutricional
e sabor peculiar. Almeida, S.P. 1998. Cerrado: Aproveitamento Alimentar. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. 188p. Almeida, S.P.; Proença, C.E.B.; Sano, S.M.; Ribeiro, J.F. , 1998. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: EMPRAPA-CEPAC. Altiplano.
Frutos do Cerrado: Aliados da Saúde. Alves
Filho, M. 2005. Pesquisadores mapeiam propriedades funcionais
de frutas nativas do Cerrado. Jornal da Unicamp. Attuch, I.M. 2006. Conhecimentos Tradicionais do Cerrado: sobre a memória de Dona Flor, raizeira e parteira. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social pela Universidade de Brasília, UnB. www.unb.br/ics/dan/Dissertacao205.pdf Bettiol
Neto, J. E. et al. Enraizamento de estacas dos porta-enxertos
Araticum-de-terra-fria (Rollinia sp.) e Araticum-mirim (Rollinia
emarginata Schltdl.) para Anonáceas. Braga
Filho, J. R. et al. 2005. Danos de Telemus chapadanus
(Casey 1922) sobre o florescimento do Araticum (Annona crassifolia
Mart.) no Estado de Goiás. Costa
e Silva, S. M. et al. Insetos que atacam as sementes de Araticum
(Anonna crassiflora Mart.) nos Cerrados de Goiás. Cunha, A.G. da, 1998. Dicionário Histórico das palavras portuguesas de origem tupi; prefácio-estudo de Antônio Houaiss. 4 ed. São Paulo: Companhia Melhoramentos; Brasíla: Universidade de Brasília. Dalponte, J.C. & Lima, E.S. 1999. Disponibilidade de frutos e a dieta de Lycalopex vetulus (Carnívora – Canidae) em um cerrado de Mato Grosso, Brasil. Leal, I.R.
Dispersão de sementes por formigas na Caatinga. Lorenzi, H. 1998. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, vol. 2. 2ªed. Nova Odessa, SP. Meira Neto, J.A.A.; Saroretti Junior, A.W. 2002. Phytosociological parameters of a cerrado in "Serra Do Cipó" national park, Minas Gerais, Brazil. Rev. Árvore., Viçosa, v. 26, n. 5, Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-67622002000500015&lng=en&nrm=iso Rodrigues, V.E.G; Carvalho, D.A. de. 2001a. Levantamento Etnobotânico de Plantas Medicinais no Domínio do Cerrado na Região do Alto Rio Grande – Minas Gerais. Ciênc. Agrotec. , V.25, n.1, p. 102-123. Lavras. www.editora.ufla.br/revista/25_1/art13.pdf Rodrigues, V.E.G e Carvalho, D.A.de; 2001b. Plantas medicinais no domínio dos cerrados. Lavras, 180p. Rosa, J.G. 2006. Grande sertão: veredas. 1 ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira (Biblioteca do Estudante). Silva Júnior, M.C. et al. 2005. 100 Árvores do Cerrado: guia de campo. Brasília, Ed. Rede de Sementes do Cerrado, 278p. Silva, D.B. da; et al., 2001. Frutas do Cerrado. Brasília: Emprapa Informação Tecnológica. Sirtoli, L.F. et al. Superação de Dormência em sementes de araticum-cagão (Anona cacan Wern.). www.ppg.uem.br/Docs/pes/eaic/XI_EAIC/trabalhos/arquivos/11-1873-0.pdf WWF – Notícias. Aproveitamento de frutos estimula a conservação do cerrado. www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambiente_brasil/educacao/educacacao_news/index.cfm?uNewsID=1480 |
Fernando
Tatagiba, Msc. - tatagiba@biologo.com.br Biólogo/botânico. |
imprimir |
Plantas do Cerrado: início | o cerrado | espécie anterior
eventos | ongs | botânica | página inicial
Todos os direitos reservados © 2013