início bocadomangue Mario Moscatelli

DOIS MUNDOS NUM SÓ

Enquanto recolhia os pedaços de jacarés e capivaras que vêm sendo sistematicamente caçados por delinquentes ambientais no Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, me surgiu a oportunidade de visitar um parque particular voltado quase que exclusivamente para répteis que no caso são jacarés e crocodilos no Estado da Flórida - Estados Unidos.

Pois bem, peguei minha máquina fotográfica e lá fui eu visitar como “os caras” ganham dinheiro com a “bicharada”.

Inicialmente há de se destacar que o Estado da Flórida é uma gigantesca Baixada de Jacarepaguá, onde se misturam brejos doces, salgados, manguezais, lagos e lagunas, enfim um verdadeiro paraíso ambiental para uma variadíssima fauna. Por muito tempo, o pessoal de lá andou fazendo muita besteira no século passado, aterrando manguezais, alterando o curso das bacias hidrográficas com as conseqüências ambientais e econômicas inevitáveis associadas com esse tipo de ingerência ambientalmente desastrada. Quando, depois de várias décadas de degradação, notaram que a pesca e o turismo do Golfo do México que rende milhões de dólares estava escoando pelo ralo e conseguiram associar essas perdas à degradação ambiental, sabiamente de olho na grana que estavam e iriam perder, pararam de degradar bem como iniciaram a recuperação / renaturalização de inúmeras áreas. Antes tarde do que nunca!

Chegando ao parque denominado GATORLAND fui recebido pelo simpático gerente (manager) do empreendimento Tim Willians. Destaca-se que o cara foi uma “verdadeira mãe” me levando para conhecer todos os aspectos do parque com extrema paciência diante de meu deficiente inglês.

Por onde você caminhe, a segurança, limpeza, organização, variedade de atrações chamam a atenção, além, é claro dos enormes répteis de diversas espécies e tamanhos, circulando pelas maravilhosas lagoas artificiais, cercadas por exuberante vegetação apinhada de aves que a utilizam como área de nidificação.

Foi incrível passar pelas passarelas suspensas a menos de um metro de dezenas de ninhos de variada avifauna, sem que essa nem tomasse conta de minha presença, completamente certa que as pessoas que por lá passam e a admiram, em hipótese alguma lhe faria qualquer mal.

Nas mesmas passarelas foi emocionante passar pela periferia das lagoas, sendo rodeado por répteis que deviam medir ao menos uns três metros de comprimento. Quando qualquer pessoa se aproxima das lagoas, imediatamente aparece um ou mais jacarés ou crocodilos interesseiros, visto que os mesmos sabem que além de olhar, muitas pessoas vão lá para dar alimento aos animais em forma de salsichas de frango, devidamente vendidas dentro do parque.

Além da observação, que por si só já é um espetáculo, ocorrem shows que variam de funcionários do parque, fazendo “acrobacias” junto dos répteis, que posteriormente podem ser utilizados para se tirar fotos devidamente pagas, ou shows onde os funcionários fazem competições de quem consegue que os répteis saltem primeiro fora dágua com o objetivo de capturar pedaços de frango fixados em cabos de aço.

Vende-se de tudo. Entrada, lembranças, fotos com o jacaré, comida para os animais, guloseimas, refrigerantes, etc, etc. Também atividades esportivas são praticadas em diversas tirolesas que passam por cima das lagoas apinhadas de répteis, ligando inúmeras torres de observação espalhadas pelo parque, completando o pacote de um dia bastante animado, onde se ganha dinheiro em parceria com a fauna local.

A água que é puxada para inundar as lagoas vem do lençol freático em estado cristalino e antes de retornar ao ambiente, passa por tratamento terciário, onde nem bactéria sobra. Outro mundo!

Voltando ao meu mundo, na segunda seguinte ao meu retorno, sou informado que flutua singelamente um cavalo morto nas águas da Laguna do Camorim, além é claro, de outros móveis, lixo doméstico descartados pela nossa tão educada população que usa os valões, anteriormente chamados de rios, como sistema de coleta de lixo.

Na mesma semana sobrevoei os diversos campos de batalha ambiental e notei que as coisas, apesar de algumas melhoras como no caso da estação de tratamento do Arroio Fundo, onde chega pasta de caca e sai água, tudo continua com o time da casa perdendo de goleada do visitante. Lixo e esgoto por todo lado, baías e manguezais detonados, lagunas detonadas, enfim tudo como era no ano passado.

DOIS MUNDOS NUM SÓ
" Lixo por todo lado. Ninguém respeita a Consituição mas todos acreditam no futuro da Nação. Que país é esse?"
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"... reitero que se as obras de recuperação ambiental envolvendo dragagens, saneamento da foz dos grandes valões de lixo e esgoto não forem iniciadas até o segundo dia útil de 2012, prevejo que a dívida ambiental não será resgatada."

Vivemos um período importante para a virada nessa página de degradação, mas reitero que se as obras de recuperação ambiental envolvendo dragagens, saneamento da foz dos grandes valões de lixo e esgoto não forem iniciadas até o segundo dia útil de 2012, prevejo que a dívida ambiental não será resgatada.

Fiquei de dentro do carro, olhando os propágulos de mangue vermelho criando os primeiros pares foliares, o que era só lixo ficando verde, as aves caçando seu alimento onde antes só havia lixo. Dessa forma me acalmei, mas com muito cansaço, o cansaço de quem luta e exausto fui para casa dormir. Dormir um sono pesado pois como meu pai me alertava, não dá para carregar um peso além do que sua coluna é capaz, caso contrário é hérnia de disco na certa.

Paz, saúde e prosperidade

Mario Moscatelli - Biólogo

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