início bocadomangue Mario Moscatelli

UM FORTE DISTÚRBIO NA FORÇA

Não dá para negar que a cada dia fico mais de saco cheio com a pouca vergonha da classe política brasileira e com a brochura da sociedade.

Sinto asco, nojo, repulsa tanto da suruba na qual administradores públicos chafurdam com nosso dinheiro como pela apatia dos cornos mansos que caracterizam nossa ordeira sociedade embecilizada. É brochura demais para qualquer um que tenha um neurônio!

O caso mais recente foi o associado ao massacre das duas últimas maiores espécies animais da Baixada de Jacarepaguá, jacarés e capivaras, que vêm sendo dizimadas por caçadores que agem sem qualquer repressão há pelo menos dois anos.

São jacarés e capivaras esquartejados à vontade e eu e meu pessoal assistindo ao genocídio solicitando providências do tal “puder púbico” que na maioria de sua instâncias não esteve nem aí para a tal “hora do Bra$il”, visto que para o “puder púbico” o espaço-tempo é diferente dos demais mortais pagadores de impostos, capivaras, jacarés e cia. O tempo das “auturidadis” é infinito, não tem início nem tão pouco fim e, portanto as medidas à serem tomadas estão sempre no tal amaldiçoado tempo do gerúndio! Estamos pensando, avaliando, organizando, cagando e andando, até porque no final do mês com ou sem resultados práticos das demandas apresentadas, não tem chefe para cobrar produtividade e quase tudo fica o dito pelo não dito.

Não tenham dúvidas de que antes de botar a boca no trombone por meio da mídia eu já gastei muita saliva e telefone tentando convencer o lado negro da Força à colaborar, mas infelizmente de uma forma geral quando sentados na situação, todo o vigor da oposição se esvai por algum ralo do pragmatismo conformista. Aí só sobra o confronto por meio da denúncia e da pressão da sociedade, a mesma que quase sempre está adormecida ou preocupada com o próximo feriado ou com o que comprar para a próxima data comercial festiva num círculo vicioso sem fim!

Mas o tal consumismo, está em nosso sangue, em nosso cérebro, na mecânica que move o mundo do Homo sapiens (ou nem tanto sapiens) e disso eu não tenho muita vontade de falar e nem esperança de mudar.

Enfim, enquanto dois botes novinhos do INEA (órgão ambiental estadual) continuam tomando chuva e sol no tempo, igualzinho como aconteceu com equipamentos doados pelo governo italiano, abandonados na Ilha do Governador ao Deus dará e que devem ter virado sucata, eu continuo diplomaticamente tentando dar uso prático para os equipamentos conversando com quem ao menos eu tenho confiança. Mas confesso que a confiança é uma coisa que também se desgasta com o tempo e acaba desaparecendo quando enquanto você tenta colaborar, o tempo passa, nada muda e você percebe que está fazendo papel de bobo.

Além da caça, o lixo, sempre ele continua sendo tratado como um assunto de alta complexidade como ele realmente é. No entanto as estratégias visando combatê-lo nos ecossistemas continua sendo uma matéria para astrólogos e místicos em geral, visto que as estruturas existentes, as ecopeneiras, nunca funcionaram e nem vão funcionar do jeito que foram criadas, visto que como já disse n vezes, as mesmas não dão conta da diversidade e quantidade de resíduos que são lançados nos valões de esgoto e lixo no qual foram transformados os rios.

Não tem como escapar, visando resolver o problema de não permitir a exportação do lixo para as baías, lagunas, manguezais e praias, é fundamental a criação de ECOBARREIRAS estruturalmente eficientes com sistemas de recolhimento mecânico visto que com a população sem serviços de coleta de lixo como também culturalmente porca, essa guerra será perdida com ações estruturais bucólicas.

Quando estive andando pelo manguezal que gerencio na foz do Rio São João de Meriti, senti um forte distúrbio na Força. Não havia mais um centímetro quadrado de lama exposta. Tudo coberto por vários centímetros de plástico, sofás, tubos de imagem, dois grandes colchões flutuando, quando pensei: O que eu estou fazendo aqui? Vou mandar tudo isso à merda, aliás isso já é uma merda! Vou sumir e esperar a resposta do planeta. Foi quando me surpreendi com uma imagem de madeira de nada menos de São Francisco, pendurado num galho de árvore de mangue branco. Olhando tudo aquilo em silêncio. Imediatamente entendi a mensagem. Recolhi minha tristeza e desesperança e comecei a matutar uma estratégia para tirar toda aquela tralha de dentro do mangue que por mais protegido que esteja continua sendo bombardeado.

Mais uma vez consegui manter o lado sombrio controlado. Mas por quanto tempo? Quando tudo conduz ao lado mais sombrio da Força, segundo alguns a verdadeira natureza da Força.

De qualquer forma mais um dia se passou no meio de entulhos, sendo que para equilibrar o forte distúrbio iniciei um novo plantio no Canal do Fundão com 200 torrões de grama de mangue, transformando o inferno que encontrei há dois anos no paraíso que existiu há apenas 200 anos atrás naquela mesma região. Destaco que apenas consigo fazer isso por meio do projeto de revitalização ambiental do Canal do Fundão capitaneado pela Secretaria Estadual de Ambiente, porque afinal, nem tudo está perdido.

UM FORTE DISTÚRBIO NA FORÇA
"Foi quando me surpreendi com uma imagem de madeira de nada menos de São Francisco, pendurado num galho de árvore de mangue branco. Olhando tudo aquilo em silêncio. Imediatamente entendi a mensagem. Recolhi minha tristeza e desesperança e comecei a matutar uma estratégia para tirar toda aquela tralha de dentro do mangue que por mais protegido que esteja continua sendo bombardeado."

Fiquei de dentro do carro, olhando os propágulos de mangue vermelho criando os primeiros pares foliares, o que era só lixo ficando verde, as aves caçando seu alimento onde antes só havia lixo. Dessa forma me acalmei, mas com muito cansaço, o cansaço de quem luta e exausto fui para casa dormir. Dormir um sono pesado pois como meu pai me alertava, não dá para carregar um peso além do que sua coluna é capaz, caso contrário é hérnia de disco na certa.

Paz, saúde e prosperidade

 

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