início bocadomangue Mario Moscatelli

E A BAÍA SUMIU E COM ELA TAMBÉM A LAGOA...

Fico olhando para a tela e para o teclado do computador, perdido em como iniciar mais essas linhas. Estou desanimado e cansado, direito de quem luta. Quem não luta, não tem direito a nada! O tempo de chuva, cinzento lá fora tem tudo haver comigo, neste dia 14 de maio de 2012.
Semana passada cansei de mostrar pela enésima vez a vergonha ambiental na qual o sistema de lagoas da baixada de Jacarepaguá está chafurdado, aproveitando o gancho da RIO+20. Apareceram matérias na televisão e no jornal mostrando que além de falar muito, nossas autoridades, até momento não fizeram o mínimo para alterar o quadro de destruição observado.

Não há dúvida que quem degrada e deixa degradar, principalmente os que estão no poder público, estão acima do bem e do mal, além de não temerem qualquer ação da parte da justiça brasileira tetraplégica, surda, cega e muda.

O Yoda me olha e parece entender todo o meu desconforto apesar de não aprová-lo, pois se está acontecendo é porque infelizmente faz parte do processo e se estou sofrendo, isto demonstra por sua vez, quanto longe estou de entender de fato o todo, me apegando aos aspectos poucos significantes do resultado final.

Mas filosofias à parte, a baía de Guanabara situada frontalmente aos mangues que sobraram do município de Duque de Caxias simplesmente sumiu. O sumiço se deve à uma gigantesca ilha de lama e lixo, produzida pela foz dos rios Sarapuí e Iguaçu, imensos valões de esgoto e lixo que transportam de tudo para as águas da baía.
Numa estimativa aérea a ilha de lama deve estar com seus 15 MILHÕES DE METROS QUADRADOS, separando os mangues de Duque de Caxias da ilha do Governador apenas pelo lamaçal e por um tímido canal!

Sobrevoando o grande baixio de lama, observa-se que a foz dos rios Sarapuí e Iguaçu avançaram 2.000 metros para dentro da baía de Guanabara formando um verdadeiro bostuário (estuário+bosta) na mesma. Bem na minha frente vejo sem qualquer efeito computadorizado a baía desaparecendo e mostrando como irá ficar daqui há poucos anos se nada mudar no gerenciamento da bacia hidrográfica local.

Bandos de garças, biguás, marrecas caminham no meio daquilo que foi baía, visto que a profundidade nos pontos onde ainda há água deve ser no máximo de 10 cm.
Sem dúvida um espetáculo belíssimo para quem chega no aeroporto internacional Tom Jobim vendo toda aquela merda, misturada com lixo e lama, bem na cabeceira da pista, tendo a certeza que acabou de chegar na tal cidade maravilhosa.

Em relação à Cloaca da Glória e a Enseada de Bostafogo, nossas atentas autoridades não deram a menor atenção à matéria de um mês atrás a respeito dos despejos de esgoto in natura que ocorrem noite e dia naqueles cartões postais fecais de nossa cidade. Literalmente não é nem com eles. Não é assunto que lhes diga respeito, apesar de cobrarem pelos serviços que não prestam. Literalmente, cagam e andam, para a imprensa, para o Ministério Público, visto que são seres ungidos pelo toque da impunidade e de resto que se danem os otários que pagam impostos.

Na baixada de Jacarepaguá, nada diferente dos demais anos e a lagoa da Tijuca sucumbe em meio a intenção dos projetos de recuperação. Segundo nossas autoridades, em novembro de 2012, começam as dragagens e até 2016 mais quatro unidades de tratamento de rios estarão filtrando toda a merda e retendo todo o lixo trazido pelos rios para as lagoas.

As dragagens durarão dois anos. Eu particularmente considero que esse pessoal continua brincando com o tempo. Lembro bem a história do Pan Americano, quando o único legado ambiental do evento, funcionou precariamente durante 60 dias e depois acabou sendo abandonado pelo ministério dos esportes e pela prefeitura.

A obra da unidade de tratamento de rio do Arroio Fundo apenas foi retomada, exclusivamente devido a intervenção do Ministério Público Estadual que acolheu minha representação contra as duas esferas do poder executivo por abandono de obra pública. Enfim, depois de muita conversa o tal legado foi inaugurado em 2010!

DESEJO DE MATAR
"O sumiço se deve à uma gigantesca ilha de lama e lixo, produzida pela foz dos rios Sarapuí e Iguaçu, imensos valões de esgoto e lixo que transportam de tudo para as águas da baía".

É bom ficar de olho no tal cronograma físico-financeiro, pois caso contrário a explicação de praxe será que os resultados ambientais não foram melhores devido à famosa falta de tempo, muito comum nas obras do poder público tupiniquim e aí já era.

Já era, pois quando terminar todo esse circo de grandes eventos virá a ressaca dos verdadeiros resultados, ou malditos legados que nunca se consolidam na área ambiental.

Seria ótimo que nossas autoridades ambientais apresentassem quais os resultados esperados pela execução das obras, quais os parâmetros ambientais de melhoria esperados. Caso contrário, mais algumas centenas de milhões de reais vão escoar pelo ralo da incompetência administrativa, dos factóides sem escrúpulos, dos números e percentuais inconsistentes e continuaremos com a baía de Guanabara e as lagoas de Jacarepaguá podres à custo de ouro

Mario Moscatelli - Biólogo - MSc. em Ecologia

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