início bocadomangue Mario Moscatelli

O LIMITE DA CIDADANIA

Deverei sobrevoar mais uma vez a região metropolitana do Rio de Janeiro, pelo projeto OLHOVERDE, durante a semana na qual se “comemora”, não sei bem o motivo de fato, a tal semana do 1/8 de ambiente.

Não preciso esperar para dizer o que vou encontrar, pois mês após mês, praticamente faço as mesmas fotografias da degradação generalizada sob diferentes ângulos fotográficos, cores, matizes e magnitudes. É esgoto, lixo, sedimento, assoreamento, ocupação desordenada para cima e para os lados, lixões, contaminação do ar, da terra e da água, apesar das otimistas notícias oficiais.

Para incrementar o período teremos a RIO+20, onde todos estarão falando, pensando, criticando, expurgando, discursando, filosofando, defecando sobre 1/20 de ambiente.

Teremos experts e políticos por todos os lados se apresentando preocupadíssimos do alto dos palanques sobre a questão ambiental. Vamos ouvir muito, mas se levarmos em conta o que aconteceu desde a Eco 92 observaremos que tanto globalmente como e principalmente localmente, falamos e gastamos muito dinheiro, mas resultado prático mesmo, muito pouco diante da dinheirama que supostamente vem sendo destinada para projetos ambientais estruturais como a questão do saneamento básico em determinadas regiões de Pindorama.

Neste contexto de tsunamis generalizados de excrementos humanos que tomam de assalto todos os corpos dágua da “cidade maravilhosa”, devidamente denunciados por meio dos mais diversos meios de mídia e ao ministério público Estadual e Federal bem como por meio de relatórios técnico-fotográficos, encaro de frente o resultado prático de todo esse esforço quase que solitário: QUASE NADA!

Os que hoje estão na situação, antes leões na oposição, quase nem miam! Os que degradaram no passado e ou que continuam degradando por ação e ou omissão continuam livres, leves e soltos. Não conheço um caso ao menos, onde presidente, governador (a), secretário (a), técnico (a) que tenha de fato sido condenado (a) por alguma ação ou omissão que tenha gerado algum crime ambiental, seja ele enorme ou pequeno. Nunca tive conhecimento de NENHUMA CONDENAÇÃO. No máximo processos que se arrastam por alguns anos até que ocorra o arquivamento e absolvição dos envolvidos e no máximo algumas cestas básicas.
Portanto, continua-se cobrando por serviços não prestados, degradando recursos naturais, expondo a saúde da população à doenças de veiculação hídrica, cometendo estelionatos ambientais e fica tudo por assim mesmo visto que se não pagar a conta, a “água é cortada”.

A todo momento ouço as centenas de milhões de reais investidos aqui e acolá, mas o resultado prático de toda essa enxurrada de dinheiro na Natureza, eu não encontro em nenhum dos lugares nos quais eu trabalho. Deve ser falta de sorte minha, trabalhar em lugares que nunca melhoram apesar das centenas de milhões de dólares que dizem estar investindo. Digo “dizem”, pois reitero que o resultado prático ambiental esperado até o momento, quase nenhum. A foz dos rios Jacaré, Irajá, São João de Meriti, Sarapuí-Iguaçú apresentam 0 mg/l de oxigênio dissolvido, mesmo tendo sido gastos UM BILHÃO DE DÓLARES no famigerado Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). Agora vem mais QUINHENTOS MILHÕES DE DÓLARES sob a nova denominação de Programa de Saneamento Ambiental (PSAM) e se a gestão pública dos recursos continuar ruim e viciada do jeito que historicamente é, associada a certeza da impunidade na suruba com o dinheiro público, podem ter certeza que toda essa grana também não vai dar num NADA AMBIENTAL!

Vai ver que sou apressado, mal acostumado com os manguezais que dando-lhes tão pouco, os mesmos agradecidos, se encarregam de novamente devolver a vida às áreas degradadas. Vai ver que sou um pessimista!
Mas na verdade não é bem assim. Acompanho de perto os resultados práticos das intervenções executadas que nos custam muito dinheiro, e o resultado ainda é muito aquém do volume de dinheiro gasto.

Sinto-me no limite de minha cidadania como morador, otário pagador de impostos que mantém os ungidos pelo voto, acima do bem e do mal, biólogo que acompanha a destruição criminosa dos recursos naturais e da impunidade quase que generalizada, pois de vez em quando alguma coisa acontece.

Recupero áreas degradadas, monitoro, denuncio, produzo relatórios dos crimes que estão acontecendo na cara de todos, comprometendo nossa qualidade de vida, nossa saúde e NADA praticamente acontece estruturalmente, principalmente na velocidade que deveria acontecer no sentido de obstruir o crescimento do passivo ambiental.

O LIMITE DA CIDADANIA
"... centenas de milhões de reais investidos aqui e acolá, mas o resultado prático de toda essa enxurrada de dinheiro na Natureza, eu não encontro em nenhum dos lugares nos quais eu trabalho."


marrecos e lixo

Cheguei ao limite do qual não estou disposto a passar, pois ir além comprometeria uma importante parte de minha vida com pessoas as quais não pretendo magoar. No entanto fica muito claro que meu limite, muito em breve, em conseqüência da certeza da impunidade dos que degradam e do consentimento dos que quase nada fazem para detê-los irá gerar inevitavelmente uma reação individual e coletiva da próxima geração em formação, principalmente dos que ainda sonham e sentem bater forte o coração pelo planeta que os acolhe.

A GreenWar se aproxima muito rapidamente, e com ela o radicalismo que norteará as ações contra todo o processo de degradação que se consolida sob os auspícios de um poder público em quase todos os setores imobilizados pela corrupção, malevolência e pelo tráfico de influências. A reação, a vendetta será proporcional ao descaso evidenciado à cada desastre ou agressão ambiental não devidamente apurado, julgado e sentenciado.

A era dos termos de ajuste de conduta, inúmeras vezes, extremamente amigo dos degradadores,  que muitas vezes apenas servem para legitimar o ilegitimável irá acabar sob intensa e furiosa reação.

O movimento de extremistas verdes, que já podem ser identificados de forma bem clara em alguns pontos do planeta, irá se multiplicar exponencialmente com o agravamento das condições de sobrevivência, solapadas pela economia de crescimento sem limites, expoliadora dos recursos naturais finitos e gerenciada por uma classe política natimorta, que apenas tem compromisso com seu próprio umbigo.

Caiu a ficha que cheguei ao meu limite, dentro do que é determinado pelas forças no poder como legal. Além disso, passo para a ilegalidade segundo as regras de quem degrada e deixa degradar e como já disse não estou disposto na altura desse campeonato à avançar mais.
Continuarei a fazer o que faço, muito além do limite efetuado pela maioria, aguardando o que está por vir. Apenas espero ter mais tranqüilidade ao continuar acompanhando tudo o que eu vejo tanto lá do alto como nas áreas que eu gerencio.

Enfim agora é agüentar a enxurrada de notícias ambientais por todo o mês de junho e esperar que para os próximos meses de 2012, a imprensa, a última trincheira a qual os degradadores e políticos corruptos têm ainda algum medo, não esqueça que a questão ambiental é uma pauta permanente e não apenas restrita aos grandes eventos do tema e às grandes tragédias.

Que a Força esteja com todos que amam esse planeta, suas filhas e filhos, uni e pluricelulares.

Mario Moscatelli - Biólogo - MSc. em Ecologia

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