início bocadomangue Mario Moscatelli

V-VENDETTA

V pode iniciar várias palavras ou até números. Pode representar o famoso V de vitória, tanto utilizado em guerras, revoluções e eleições. Pode ser o V da paz e do amor dos anos sessenta e setenta, onde por meio desses dois sentimentos, esperava-se associado com variados alucinógenos mudar o mundo. Pois é, os alucinógenos ficaram e se diversificaram e a paz nem o amor se consolidaram, muito pelo contrário.

O V pode também ser da vendeta ou vingança. Sentimento poderoso, oriundo do lado sombrio da Força, com grande capacidade de gerar mudanças tanto para o mal como às vezes para o bem, dependendo do ponto de vista e de quem estiver atuando no comando da vingança, visto que tudo é muito relativo, principalmente de quem estiver contando a história.

O V também inicia outra palavra poderosa, a verdade. Pobre coitada escorraçada quase o tempo todo de todos os lugares onde tenta criar raízes. Geralmente é substituída por outras que vêm sustentando desde a expulsão do paraíso o macaco louco em suas aventuras e desventuras neste planeta. Daí o sucesso estrondoso das diversas mitologias.

V também inicia uma palavra fundamental para qualquer tipo de mudança: vontade. Vontade de mudar a si mesmo como o que está comprovadamente errado tal como a destruição dos recursos naturais, a extinção em massa das espécies que compartilham o direito de existir neste pequeno planeta, a exploração de uma nação pela outra, a matança pelos motivos mais absurdamente fúteis, a certeza da impunidade que corrói qualquer esperança num futuro melhor.

De qualquer forma, depois de mais de três décadas voltei à terra de meus pais. A Itália e diversas de suas cidades são literalmente cidades cinematográficas, onde dois mil e quinhentos anos de história estão lá na cara de quem quiser ver. A presença humana e seus feitos estão lá, bem como as conseqüências visíveis em cada canto do planeta.

Caput mundi , cidade capital do mundo, Roma é eterna, onde camada após camada de terrenos escavados pelos mais variados motivos, expõem a linha da história dos últimos dois mil anos, onde as constatações mais evidentes são:

1-Que nada dura para sempre, nem mesmo o mármore.

2-Que por maior e poderoso seja o império, um dia ele ruirá.

3-Que a única coisa que é eterna, é a mudança.

4-Que quando o ser humano decide ser ruim, não há páreo entre as demais espécies.

5-Que mesmo no autodenominado primeiro mundo, ainda existem lixões.

Sim, em Roma, capital da Itália, existe o maior lixão da União Européia, onde a lambança é comparável com nossos lixões tupiniquins de Duque de Caxias, onde o lixo todo misturado é depositado em áreas sem qualquer preparo e onde o lençol freático acabou ficando totalmente contaminado. Não é possível! Pior do que isso, são os vários casos de tumores, potencialmente associados com moradores da periferia do tal lixão. Que dureza!

Falando em lixo, infelizmente a tão bela cidade de Roma é bem sujinha. O volume de gente nas ruas é enorme e tanto turistas quanto moradores aparentemente não aprenderam normas básicas de comportamento civilizado, visto que a imundície nas ruas e monumentos é impressionante. Parece que por vezes não existe serviço de limpeza pública.

De qualquer forma, independente deste triste aspecto, Firenze e Venezia, cidades nas quais também visitei, são estonteantes em sua beleza. Em Veneza o que me surpreendeu foi que apesar do pesado volume de embarcações não constatei qualquer expressivo volume de lixo boiando nos canais que cortam aquele verdadeiro parque temático anfíbio nem tão pouco quaisquer manchas de óleo nas águas. Tem um lixinho aqui e acolá, mas nada, absolutamente nada comparado com aquilo que me deparo na baía de Guanabara. O que também me impressionou, foi que não senti, mesmo na maré mais baixa, nos locais onde circulei qualquer cheiro mais intenso de metano proveniente dos canais. Queria saber como os venezianos fazem o tratamento de seu esgoto naquelas condições de inundabilidade quase permanente de toda a parte histórica, principalmente nos períodos de maré morta quando a renovação das águas não se dá de forma tão intensa e o metano em contrapartida deve surgir de forma mais intensa.

No entanto o que fica bem evidente é que as cidades italianas, apesar de dependerem do dinheiro proveniente do turismo, não têm capacidade de receber tanta gente. Reitero que é impressionante o volume de turistas e os estragos que sua presença e atitudes pouco civilizadas fazem ao patrimônio e ao espírito. Destaco a mais que completa falta de educação e civilidade da maior parte dos visitantes, independente de sua origem dentro dos templos religiosos, que em certos casos como na famosa capela Sistina, mais parece um mercado.

V-VENDETTA
"Em Veneza o que me surpreendeu foi que apesar do pesado volume de embarcações não constatei qualquer expressivo volume de lixo boiando nos canais que cortam aquele verdadeiro parque temático anfíbio nem tão pouco quaisquer manchas de óleo nas águas."

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Outro ponto interessante da viagem foi conversar com a italianada e sentir que tanto como nós, a classe política italiana é outra merda, igualzinha a nossa. Chego a conclusão que estou ferrado mesmo, pois tanto lá como cá, esses caras não tem qualquer salvação. Acho até que nós estamos “menos ruins” com nossa presidenta, pois a cara e as atitudes do premier setentão garanhão italiano, são de doer.

Mas bom mesmo foi ter podido participar bem de longe, como expectador, das marchas contra o governo e contra a ordem econômica mundial. Com o meu aguçado sexto sentido carioca de roubada, logo percebi que a tal marcha pacífica dos excluídos e indignados ia acabar em merda e não deu outra. Porrada, carros incendiados, corre-corre, quebra-quebra, enfim tudo que se espera de um poder público que joga no quanto pior melhor e na santa ingenuidade dos organizadores da turma do paz e amor. Pelo menos para mim é muito claro que não tem lugar para amador no amoral jogo político e os governos corruptos, que são a maioria no mundo, jogam pela teoria do terror para gerar maior controle sobre os movimentos genuinamente que querem mudanças.

Quem viu ótimo, mas quem não viu, veja o filme V-Vendetta com a “belezura” de atriz Natalie Portman, a Padmé de Star Wars. No V-Vendetta fica bem explicitado como funcionam alguns governos e sua classe política amoral, onde o medo é a principal ferramenta para manter a sociedade controlada, bem calminha sob a proteção do todo poderoso Estado. Aliás, na Vingança dos Siths, mais uma vez a vingança, da saga Star Wars é baseada no medo gerado pela incapacidade da república lidar com os burocratas, dos Jedis incapazes de lidar com as novas estratégias siths, e o sistema acaba virando o tal Império Galático, sob intensos aplausos dos apavorados e corruptos representantes do congresso galático. Pode mudar de país ou de galáxia mas se o lado sombrio estiver no comando, pode contar que a ditadura explícita ou acobertada irá botar as manguinhas de fora e aí de quem contrariar.

Muito legal foi ver muita gente durante as manifestações usando a máscara que representava Guy Fawkes no filme V-Vendetta que resume todo o ódio crescente que as sociedades, pelos menos naquelas que ainda pensam, vêm nutrindo pela amoral classe política local e mundial.

Além das lamentáveis ações criminosas do tal movimento BLACK-BLOCK que aproveitando no meu entender da intencional apatia das forças policiais italianas, mais preocupadas em proteger os prédios do governo, pintaram e bordaram, quebrando lojas e colocando fogo em automóveis, foi ver associado a idéia e o símbolo anárquico com toda aquela ação criminosa. Destaca-se que o Anarquismo, nada tem haver com zona, quebra-quebra, mas apenas com a negação do tal Estado, onde presume-se teórica e utopicamente que a sociedade em determinado momento evolutivo não precisará de regras nem tão pouco de uma estrutura que a salvaguarde ou a conduza. Mas isso é teoria e maiores informações por gentileza acessem http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquismo.

Literalmente as pessoas que pensam estão fartas da amoralidade, da impunidade, do total descaso que a escória da humanidade tem tido pelo tratamento de assuntos que variam das necessidades mais básicas como a saúde e educação como pelas que garantam a sobrevivência da espécie humana como nas questões ambientais.

Literalmente o que aí está, consumindo bilhões, trilhões de todas as moedas, não está resolvendo quase que absolutamente nada, a não ser seus problemas e interesses políticos pessoais. Do jeito que está, nem Jesus salva!

Enfim V também está associado à voar, como o meu amigo piloto Erick Freitas fazia tão bem, mesmo tendo apenas 25 anos. Infelizmente por mais um daqueles detalhes do destino, o mesmo foi chamado para voar mais alto ainda e lá de cima ficar de olho na gente que tenta melhorar o que tantos insistem em destruir. Fique em paz meu amigo, pois por aqui em baixo o pau vai continuar cantando, pelo menos onde cidadãos e cidadãs usarem seus neurônios e não deixarem barato todo esse descaso com o planeta.

Mario Moscatelli - Biólogo

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