início bocadomangue Mario Moscatelli

YES WE CAN

Sim, sem dúvida nós podemos arrebentar com os mecanismos de homeostase planetários, aliás, não só podemos como estamos arrebentando, baseados em nossa arrogância e certeza de que os de sempre vão se ferrar e os que se dão bem, geralmente vão se safar.

Acompanhando as reportagens nas rádios, jornais e tvs, eu tinha a clara impressão que estava assistindo uma típica reunião de condomínio, daquelas onde a culpa é sempre do vizinho e naquele bucólico encontro é o momento das desforras pessoais e outros problemas de natureza psico-sócio-patológica.

Não dava para entender nem tão pouco aguentar nossa representante durante as negociações com aquela cara de saco cheio e dizendo que não íamos colocar nem um centavo em qualquer fundo internacional, pois somos um país pobre!

Me corrijo. É claro que dava para entender a presença da chefe da casa civil a frente das negociações, visto que é candidata ao posto do cefalópode e o evento era uma ótima oportunidade de mostrar sua eficiência ao nível internacional. Mas o tiro saiu pela culatra, já que a mesma não deve saber diferenciar amendoeira de goiabeira.

Infelizmente a conferência longe de querer de fato buscar uma solução factível e urgente para a questão climática planetária transformou-se num circo de horrores e de exibicionismos de nossos “líderes” mundiais. Bela porcaria de líderes, completamente míopes diante do que se aproxima. Mas destaco que a miopia é generalizada. Quase todos estamos completamente cegos!

O que dita, como sempre, os caminhos a serem seguidos são os interesses dos mercados, do fluxo do dinheiro, baseado numa lógica de consumo insustentável para a nossa realidade planetária. Segundo os que mandam no mercado, o sistema econômico só anda se for desse jeito, tomando, excluindo e consumindo mais do que o planeta pode fornecer e sem dúvida somos a maior ameaça ao mesmo.

Existem soluções técnicas? Não tenho a menor dúvida! Formas de energia limpa, comida para quem passa fome, saneamento para quem vive na “merda”, todas as chagas que presenciamos todos os dias estão a um passo de serem resolvidas, mas infelizmente o dark side é poderoso e nos domina, dentro e fora de nossas casas e vidas.

Quando ouço que vamos controlar o desmatamento da Amazônia, fico pensando da seguinte forma: Como fazer isso, com os meios disponibilizados até o momento? O poder público não consegue eliminar nem os lixões de Duque de Caxias que eu canso de fotografar e denunciar por estarem aterrando o que restou dos manguezais locais, como vão dar conta daquela imensidão?

Infelizmente a ficha não caiu. Extensas áreas do território nacional são a terra de ninguém, ou melhor de alguns poucos, onde o poder público não é nem miragem e, portanto se de fato quiserem paralisar os desmatamentos, não tenho qualquer dúvida que isso vai depender de um enfrentamento à bala. Sim, uma guerra, com o uso das forças armadas. Caso contrário continuarão sendo centenas de quilômetros quadrados de todos os biomas brasileiros sendo torrados, transformados em pastos ou em monoculturas.

Não tenho dúvida que por meio de nosso atual ministro de meio ambiente, um exímio negociador, estávamos muito bem representados, mas o buraco é mais embaixo e depende de uma coisa que em nosso país continua praticamente inexistente, que é massa crítica. Destaco que a ausência de massa crítica não é só sobre o meio ambiente não, mas sobre inúmeros outros assuntos que atingem mais claramente e diretamente no momento a vida da população e pouco se vê dela qualquer reação. Imagine então quando se fala erroneamente de alterações que serão mais sentidas para o final deste século! O problema que no meu entender não será para o final do século, mas para as próximas duas décadas a resposta em gênero e grau do planeta para com nossa irresponsabilidade.

YES WE CAN
> Imagens da degradação ambiental no RJ

aquecimento global

Perdeu playboy!

Enquanto isso, recebo um telefonema de uma senhora que do outro lado, elogia meu trabalho, diz ser minha fã e finalmente dispara sua indagação: “Meu filho se eu fugir para São Lourenço estarei salva das inundações? É que eu moro em Copacabana e se encher de água como vou fazer minhas compras?”. Informei a simpática senhora que em São Lourenço, pelo menos ela estaria afastada do problema da elevação do mar, mas infelizmente a caixa de Pandora que havíamos aberto havia criado uma roleta russa onde qualquer lugar que pensemos como abrigo terá seus prós e contras.

Desliguei o telefone e ficou na minha cabeça por todo o Natal aquele telefonema. Misturava-se com ele, os dados de crescimento das vendas de Natal, aquele desespero em comprar, os dados da revista “ISTO É” de dezembro sobre os variados cenários dependendo de quantos graus a temperatura vai subir, quem ganha e quem perde, a praia da Barra deixada imunda por seus porcos freqüentadores, os manguezais que insisto em recuperar e meus olhos iam sempre em direção às minhas duas filhas que felizes comemoravam mais aquele Natal.

Finalmente fecho o ano do OLHO VERDE com aquelas tristes fotos em anexo onde a esperança de algo se ajeitar até 2016, desbota no meu coração.

Se tomarmos por base a recuperação da Lagoa Rodrigo de Freitas, a mesma se deu num período de seis anos. Não há mais tempo para pensar. Se quisermos de fato uma melhora ambiental para o sistema de lagoas de Jacarepaguá e a Baía de Guanabara, os projetos já deveriam estar sendo preparados para que no máximo no meio ou final do ano de 2010 as ações começassem a gerar as melhoras esperadas e que organismo ambiental dilapidado, tivesse tempo para de fato se recuperar.

Se o negócio começara a murrinhar, corremos o claro risco de novo fiasco ambiental e olha que, isso no Brasil com a qualidade de políticos que temos não é uma coisa muito difícil.

Sim nós podemos, tanto nos salvar, como nos afundar no fosso que criamos com nossos próprios pés.

Não esqueçam de encomendar suas bóias!

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br - . . . . . . . . . . . www.osvinhos.com.br . . . . . . . . o global

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