início bocadomangue Mario Moscatelli

“LIXO PARA TODO LADO....”
– Legião Urbana

Quando vou jogar o lixo que é produzido dentro de minha casa, fico sistematicamente impressionado com o volume gerado. Por mais que me esforce na escolha de produtos que apresentem embalagens menos agressivas ao meio ambiente, tem alguns produtos dos quais você não escapa de se sentir parte da quadrilha que destrói o planeta.

Ao trabalhar na recuperação dos manguezais, estejam eles nas lagoas da baixada de Jacarepaguá ou na baía de Guanabara, aproximadamente 95% do tempo que gasto nesse trabalho está voltado exclusivamente para a construção de estruturas físicas que protejam as áreas em recuperação do lixo como da retirada do mesmo de dentro dos manguezais.

Não pára de chegar resíduos de todos os tipos (lixo domiciliar, lixo hospitalar, camas, mesas, cadeiras, tubos de imagem, sofás, gente morta – inteira ou em pedaços, animal morto) tamanhos e procedências, numa guerra sem fim a cada variação de maré. A coisa desanda de vez quando, chove torrencialmente e todo o lixo produzido e jogado em vias, terrenos, acaba entrando nas bacias hidrográficas e por fim chegam em quantidades inimagináveis nas baías e lagoas.

Semanalmente nas áreas que gerencio em parte da lagoa da Tijuca são oito à quinze pneus removidos dos sítios de plantio já devidamente limpos e mais de vinte toneladas de resíduos/mês retirados do espelho dágua e dos manguezais protegidos. Mas não tem jeito, a cada chuva mais violenta lá vem mais pneu, sofá, lixo doméstico e tudo mais que vocês possam pensar.

O estudo recentemente apresentado na revista Science afirma que nos oceanos praticamente não há local onde o plástico produzido pelo homem não tenha chegado.

Outro lugar que também não escapou de nossa mania de emporcalhar tudo por onde passamos foi o espaço. Em resumo, segundo notícia da BBC-Brasil, já em 2001, “os pesquisadores americanos Donald Kessler e Philip Anz-Meador, que estudam o lixo espacial, afirmaram há uma possibilidade de que, em vinte anos, já não seja mais possível realizar operações em órbitas mais próximas da Terra .”

Em seguida penso no aterro controlado de Gramacho e suas OITO MIL E QUINHENTAS TONELADAS DE RESÍDUOS DIÁRIOS, sua expectativa de vida, as probabilidades de acidentes, a politicagem que envolve a escolha de uma nova área para o novo aterro sanitário e sei lá, fico achando que apesar de toda essa história de reciclagem, ainda estamos muito longe de uma destinação adequada e inteligente para os resíduos produzidos pela nossa sociedade de consumo.

Nada contra a tal sociedade da qual faço parte e também consumo, mas vejo nela a impossibilidade de sobrevivência do espaço ambiental da forma como o temos tratado, isto é como uma verdadeira e gigantesca latrina, seja ela: oceânica, atmosférica, terrestre ou espacial.

Vejo desde o ato isolado do lixo jogado pela janela de carros importados como o de ônibus superlotados uma objetiva conclusão. Concluo que além do aspecto educacional, praticamente abandonado em nosso país, principalmente quando voltado para a maior parte da população mais carente, é que claramente além desse aspecto a cultura humana está comprometida com o desperdício, com a inutilização, com o gastar até acabar.

LIXO PARA TODO LADO
"...tanto para mim como para os caranguejos as coisas tem que melhorar muito, pois ainda estamos tratando nosso planeta como uma gigantesca latrina."


Não nego os avanços ocorridos nas últimas duas décadas más do ponto de vista dos lugares onde ando e trabalho tudo continua muito ruim e, portanto tanto para mim como para os caranguejos as coisas tem que melhorar muito, pois ainda estamos tratando nosso planeta como uma gigantesca latrina.

Falta bom senso e prioridades verdadeiras na cabeça da sociedade humana e de sua classe política, que como já disse no meu entender representa a escória da espécie humana.

Enquanto a casa não cai vamos empurrando com a barriga até enquanto der.

Quem quiser conhecer de perto o que eu digo está convidado a visitar as áreas nas quais eu trabalho e tirar suas conclusões visuais, olfativas e quem sabe também tomar vergonha na cara e tentar mudar alguma coisa enquanto ainda há tempo.

Há ainda tempo?!

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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