GUERRA VERDE
Não entendo toda essa comoção internacional frente à saída da ex-ministra. Além de sua admirável biografia como de sua não menos admirável atuação no senado federal, eu não estou bem ao certo qual o prejuízo que sua saída irá causar para a floresta amazônica e demais biomas brasileiros. Destaca-se que além da floresta Amazônica temos a Mata Atlântica, o Pantanal, o Cerrado, os Campos Sulinos, a Caatinga, enfim uma variedade de ecossistemas dentro desses biomas que tornam nossa colônia como, mais uma vez, uma potência mundial em biodiversidade e adversidade.
Concordo e discordo. Concordo que os recursos encaminhados às forças armadas são aviltantes quando comparados com a farra que outros setores VIPs do governo federal recebem para nada de produtivo fazerem pelo bem estar de nossa colônia. Discordo no sentido da pouca importância que esse tipo de abordagem dá ao serviço primordial das forças armadas brasileiras na proteção dos recursos naturais biológicos ou não. Não devemos nos esquecer que por de trás do interesse da proteção da biodiversidade, expressa pelos países-empresa do primeiro mundo o que norteia muito desse tal interesse “altruísta” são interesses econômicos poderosos. Neste contexto de mudanças climáticas, perda de biodiversidade, falta de alimentos, falta de interesse da classe política e de seus incompetentes administradores é que a ação saneadora das forças armadas, bem armadas e com a função de proteger de fato nossos recursos biológicos seria um claro sinal às nações-empresa que aqui a biodiversidade tem dono e está sendo gerenciada associada com institutos de pesquisa buscando nos diversos biomas a riqueza bioquímica economicamente incalculável. O que não tenho dúvida é que por aí vem uma verdadeira GUERRA VERDE , longe da utopia verde e de biografias de superação, vamos partir de fato para um confronto entre visões do usar até acabar e do gerenciamento sustentável. Será o confronto do olhar politicamente dominante imediatista, míope e de olho exclusivamente no dim-dim e a visão do aproveitamento das potencialidades dos biomas por meio de atividades econômicas ambientalmente sustentáveis, onde a floresta em pé possa valer mais do que transformada em capim. É uma GUERRA com todas as letras e armas, visto que, em virtude da incompetência administrativa secular, da real ausência do poder público e conseqüentemente da falta de políticas públicas em quase todos os setores onde houvesse demandas da sociedade, essa mesma sociedade organizou-se social e economicamente da forma que pôde e geralmente à margem da lei e do aproveitamento insustentável de seus recursos naturais, num caminho sem volta para o COLAPSO. Paro e penso nas lagoas da baixada de Jacarepaguá aqui perto de casa, verdadeiras latrinas da região e da baía de Guanabara onde trabalho com seu pífio programa de despoluição, onde já aconteceu de tudo menos a redução efetiva das conseqüências de sua degradação. Lembro que alguns gringos “bem intencionados” andam até alardeando que por cinqüenta bilhões de dólares poderiam comprar toda a floresta amazônica em nome da humanidade. Vejo a estação do Arroio Fundo ainda abandonada, boiando no meio do lixo e da merda que ela deveria estar removendo. Ouço e vejo a prática da escória da classe política brasileira e sinto medo do futuro. Enquanto conversamos, discutimos, negociamos e principalmente continuamos enlouquecidamente degradando, não apenas a Amazônia, mas todo nosso planeta perde biodiversidade MIL vezes acima do que se esperaria naturalmente, em resposta a nossas ações que continuam tirando 25% mais do que os processos naturais têm como repor. Finalizando, enquanto destruímos nossos manguezais tupiniquins, a tragédia de Myanmar retrata bem a resposta da Natureza em relação ao descaso da sociedade humana. Em recentes estudos, vários pesquisadores destacam que a perda de mangues agravou os efeitos do ciclone que se abateu na região, provocando a morte de milhares de seres humanos. Usado para toda e qualquer função que obrigatoriamente exigisse sua supressão, a área dos mangues do delta do rio Irrawaddym, entre 1924 e 1997 foi reduzida em 82,7%, aumentando ainda mais as conseqüências da ação do atual ciclone. Destaca-se que a existência dos mangues, quando existiam, protegia a costa da ação hidrodinâmica e conseqüentemente reduzindo sua ação sobre os vilarejos litorâneos, atualmente desprotegidos. Não há dúvida que estamos falindo rapidamente esse paraíso, esse oásis que vaga no espaço. Caso estejam satisfeitos continuem calados e sorridentes. Caso estejam preocupados, movam-se, pois o tempo se esgota e com ele o nosso futuro e o de nossos filhos. |
||
Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |