início bocadomangue Mario Moscatelli

BALANÇO GERAL DO ANO 2008 – quase tudo na mesma

Segunda-feira, dia primeiro de dezembro, onze e trinta da manhã e lá vou eu para mais um sobrevôo. Chego na pista e ao lado de minha aeronave, está lá imóvel me fitando o novo helicóptero blindado da polícia civil. O sentimento de tristeza me sobe aos neurônios vendo aquela máquina e deduzindo que as coisas estão ficando cada vez mais azedas na minha cidade.
Mas esqueço do assunto, passo a mão na careca e peço ao nosso piloto para tocar em direção à laguna de Marapendi.

De lá até uma hora e quarenta de cinco minutos depois o que eu verifico que apesar de alguns avanços no assunto saneamento na baixada de Jacarepaguá, os resultados práticos, mesmo desses avanços continuam pífios diante do passivo ambiental existente.

Enquanto alguns moradores da região se preocupam com a periculosidade dos pobres remanescentes jacarés do canal das Taxas, a extremidade da laguna de Marapendi é merda 1 pura, não mais liquefeita, mas solidificada. Provavelmente daqui há alguns milhões de anos o sistema lagunar da região, ou melhor, toda a minha cidade, será uma grande fonte de petróleo. Mais para frente o canal de Sernambetiba, ajudado pelo vento leste espalha mais merda 2 da praia da Macumba até a então paradisíaca Prainha. Vargem Grande e Pequena vão consolidando sua vocação de casa da Mãe Joana, onde cada um aterra do jeito que quer e pode. É certo que o processo de impermeabilização do solo associado com o do assoreamento do já assoreado sistema de drenagem, irá gerar uma grande inundação na região. Isso é só uma questão de tempo. Até vejo já as matérias ouvindo experts 1 a respeito das causas da enchente, propondo soluções, os administradores públicos não fazendo nada de concreto ou talvez criando “comichões” de estudo e colocando a culpa nas forças da natureza como sempre.

Enquanto isso nas piscinas abandonadas de parque aquático, salvo engano, mosquitos devem já estar preparando seu mais novo ataque avassalador, visto que eu duvido que alguém vá tomar alguma providência de fato sobre o assunto.

Não sendo diferente, as favelas se espalham e multiplicam nos campos de Sernambetiba na área de influência do parque estadual da Pedra Branca, dentro da ótica difundida do empreendedorismo favelar. A cada vôo é mais um aterro, mais um barraco e mais um barraco que se transforma em alvenaria de dois, três andares, seja na baixada, no morro, na beira do rio ou sobre a pedra.

Enquanto isso é claro, experts 2 continuam nas masturbações filosóficas, antropológicas, escatológicas, de como resolver o problema. Pensa-se novamente na criação de “comichões” que não vão dar em nada, visto que nenhum político que almeje continuar na vida política de nossa cidadela, pode esquecer o poder que milhares de votos provenientes das favelas tem. Por isso fala-se muito e ação que é boa, quase nada. Então falar em remoção ou em políticas habitacionais à longo prazo são uma heresia eleitoral sem precedentes. O que a “türma” do assistencialismo e populismo que depende das urnas gosta de falar para seus futuros eleitores é de ecolimites que ninguém respeita, de ações educacionais, enfim tudo aquilo que até hoje não deu resultado prático. Se vocês têm alguma dúvida cheque depois as fotos tiradas.

A estação do arroio Fundo continua morta à espera da agilidade que o poder público em geral não tem, principalmente quando é para algum interesse público e não particular dele. Destaco que tenho certeza que o Ministério dos Esportes, nas pessoas que tem alguma ingerência nesse assunto incluída a pessoa do digníssimo ministro, odeia nossa cidade, visto que acompanhando o caso da tentativa da construção dessa estação, o mesmo ministério, tudo que pôde fazer para inviabilizar a sua existência, após os jogos Pan Americanos, tenham certeza que se esforçaram em fazê-lo, com qual interesse, isso eu não sei.

BALANÇO GERAL DO ANO 2008
"...dentro da ótica difundida do empreendedorismo favelar..."

Enquanto a burrocracia impõem seu “puder” esgoto in natura escorre sem limites para as lagoas da região e os compradores, que tentam morar na Vila do Pan, continuam ladeados por uma oceano de merda 3 trazido pelo arroio Fundo.

As águas pútridas do Arroio Fundo continuam se encontrando com águas pútridas do canal do Anil que por sua vez se encontram com as águas pútridas das lagunas do Camorim e Tijuca e dessa para a praia da Barra. Nenhuma novidade!

Sempre chama a atenção o volume de lama e lixo depositado na laguna da Tijuca e enquanto ninguém se mexe de fato, a situação só vai piorando.

As cianobactérias super-felizes e bem alimentadas por merda 4 vão se multiplicando preparando para breve sua chegada apoteótica na praia da Barra. Também sem nenhuma novidade!

Voltando ao empreededorismo favelar, as edificações denunciadas no Pavão-Pavãozinho continuam com suas estruturas fincadas na pedra, faltando apenas as paredes e o teto, com direito de vista para o mar, sem serem incomodadas. A mesma situação é a do lixão a céu aberto denunciado 20 vezes e que tenho certeza que ninguém vai tirar, até porque acho que as pessoas acostumaram a viver no meio da merda 5 . Depois o lixo invade a pobre Princesinha do Mar e ninguém sabe de onde vem o lixaréu.

Falando em merda 6 , a Praia de Botafogo era uma merda 7 só, visto que por onde deveria sair água de chuva escorria era merda 8 mesmo!

A mesma situação era encontrada como de praxe na marina da Glória como na saída do canal do Mangue, pintando com ares de “pós-mudernismu” as águas do futuro revitalizado porto do Rio de Janeiro. Apesar de saber aquilo que político tem na cabeça, o que eu não consigo entender é como se diz que se vai revitalizar uma determinada área com restaurantes, lojas, etc, etc, se o que rodeia esse mesmo lugar é merda 9 pura, boiando e fedendo! Vai ver que, sou eu que tenho a mucosa nasal delicada.

A estação da Alegria continua com sua obra, ao que tudo indica parada e a merda 10 nossa de cada dia, escoa bucolicamente para o assoreado canal do Cunha.

Falando no dito canal, depois de muita matéria na tv e no jornal a obra de desassoreamento do referido, continua no mundo do marketing e do factóide público. A pergunta é: Quando é que a estatal petrolífera vai iniciar ou pagar quem inicie o desassoreamento? Chega de papo e propaganda. Vamos aos “finalmente”!

Como já venho repetindo, água limpa na baía de Guanabara só no piscinão de Ramos, visto que no piscinão de São Gonçalo por enquanto só areia.

Pois bem, chegamos em dezembro de 2008, o natal da depressão econômica mundial, onde bilhões de dólares, euros, reais etc, etc vêm sendo derramados em mercados viciados e mau acostumados. O mesmo dinheiro que faltava em escala mundial para saúde, educação, alimentação, tecnologias limpas, recuperação ambiental, combate ao aquecimento global reaparece para ajudar um círculo vicioso de consumo que conduzirá inexoravelmente nosso pequeno oásis ao esgotamento até 2030, segundo o que especulam os experts 3 .

O resultado de mais um ano de muita denúncia é ainda a vitória por goleada do processo de degradação. Identifico claramente que o problema passa muito longe do técnico e do econômico, pois há solução para todos os problemas identificados com resultados práticos em alguns casos em até dois anos, bem como dinheiro nunca falta quando existe interesse político. O que tem faltado historicamente é aquela coisinha chamada vontade política e pressão da sociedade. Sem principalmente essa última, esqueçam, pois vamos nos afundar cada vez mais no fosso que cavamos com nossos próprios pés.

Enquanto isso o capítulo final da “ópera buffa inacabada” do atual prefeito, “A Cidade da Música”, vai sendo tocada a ritmo de escola de samba para que um dos piores administradores de nossa cidade possa inaugurar sua obra e deixar a dívida para os otários dessa cidade que acham graça de tudo.

Em 2009, continuarei pagando impostos para os serviços que não recebo e como não sou de ferro também continuarei fiscalizando a ineficiência do poder público e denunciando quantas vezes forem necessárias a casa da mãe Joana ambiental na qual nossa cidade se transformou.

E vocês vão fazer o que?

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o global

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