início bocadomangue Mario Moscatelli

DANCING IN THE DARK

Depois de assistir a eleição da nova presidência do legislativo federal e com ele rever todas aquelas velhas caras cheguei à óbvia conclusão que por enquanto não vai ter mais jeito não. Enfim, aquelas figuras foram eleitas pelo voto de cidadãos, então tem que agüentar mesmo aquela maravilhosa qualidade de pessoas humanas que tanto têm o “vício da amizade”, conhecido em meu planeta como quadrilha. Mas isso é problema de semântica e de formação cultural planetária.

Fora isso, fui-me pelo OLHOVERDE no sobrevôo de fevereiro de 2009. Sempre com grandes novidades em relação à degradação generalizada de sempre.

Em paralelo aos comerciais institucionais dizendo da inauguração disso e daquilo, que as águas daquela baía vão deixar de receber não sei quantos milhares de metros cúbicos por segundo de esgoto, que tudo será devidamente tratado, que o valão de recepção na entrada da cidade vai ser dragado finalmente depois de muita promessa, que as coisas vão melhorar por que agora o governo X, Y e Z está fazendo e acontecendo e enfim tudo está sendo resolvido, pois agora é para valer, etc, etc. eu acabo ficando com cara de babaca diante do que eu presencio junto com os urubus, gaivotas marrecos e quero-queros.

Infelizmente lá do alto as coisas continuam praticamente iguais ou piores a cada sobrevôo e NINGUÉM toma qualquer providência de fato estrutural para os problemas identificados religiosamente em cada vôo. Confesso que cada vez mais me sinto como Cassandra, estupefata diante do que vejo e divulgo e onde quase ninguém mais dá a menor atenção para o assunto. Acho que acostumamos com o clima Mãe Joana e tudo vai andando inexoravelmente para o buraco enquanto os blocos desfilam e as mulatas requebram. Como diria minha esposa: “Agora Fudeu!”

Mas vamos para os relatos de nosso vôo sobre o purgatório de cada vez menos beleza e cada vez mais caos.

Após as fortes chuvas de domingo, o rio Sarapuí era sedimento e lixo puro, criando uma imagem jupteriana naquilo que um dia foi a baía de Guanabara. Enquanto “burrocratas” discutem assuntos mais importantes, uma ilha de uns 250 hectares ou 2.5 MILHÕES DE METROS QUADRADOS de lama e lixo vão sufocando a tal baía, igualzinho como no caso da lagoa da Tijuca. Não fosse só isso, não satisfeito com o estrago, o lixo vai para os manguezais que literalmente estão sendo dizimados, tanto pelo resíduo que vem da baía como daquele que vem dos lixões, já exaustivamente denunciados, mas onde nenhuma “auturidadi” de fato fez algo para reverter àquela zona. Qualquer dúvida acessem o maldito relatório de fevereiro de 2009 em plena folia carnavalesca, pois afinal ninguém é de ferro!

Chegando na estação de tratamento da Alegria, recentemente e novamente inaugurada pelo atual governo do estado, a situação continua a mesma tristeza de sempre, isto é, a estação de um lado e a merda escoando na frente dela pelo canal do Cunha. Muita propaganda em horário nobre, muito holofote, mas resultado que é bom, ainda NADA!

De lá para o porto do Rio de Janeiro, só tem lixo boiando por todo lado adornado por esgoto. Fica até engraçado de ver, poderosas voadeiras e luxuosos transatlânticos boiando no meio de tanta caca e lixo.

Fico imaginando o que os gringos devem pensar disso daqui, ou melhor, o que eles vêm fazer aqui. Enfim cada um gasta o tempo e o dinheiro da forma que mais lhe convém. A situação é a mesma na marina da Glória, insistentemente denunciada e onde NINGUÉM faz nada, ou melhor, todo mundo faz de conta que aquilo não é MERDA e tudo continua escorrendo numa boa para a “cloaquinha da Glória”.

DANCING IN THE DARK
>> Confira o último relatório fotográfico

A estação da Carioca continua parada, despejando uns 150 litrinhos de merda/segundo nas águas da baía e dessa para a praia do Flamengo para a alegria das hepatites A que faceiras se amigam com os fígados dos otários que se arriscam naquele caldo de bosta.

Apesar de inúmeras ações concretas de demolição no primeiro mês de governo, a municipalidade vai precisar de muita vontade política para segurar a sanha da ocupação desordenada que já faz parte do DNA do “mudernu” carioca do século XXI. Seja no Pavão-Pavãozinho, ou no canal do Cortado, as favelas continuam em seu vertiginoso crescimento. Espera-se que o “choque de ordem” nessa casa da mãe Joana que se tornou a cidade do Rio de Janeiro não seja apenas aquele período de factóides bombásticos típicos do início de cada governo, onde presidente visita favela, governador visita hospital, prefeito faz e acontece para tudo se acabar na mesma mesmice de sempre.

Enfim as águas das lagoas de Jacarepaguá e Camorim, muito bem alimentadas por caca o ano inteiro, como de praxe são os berçários de cianobactérias que felizes escoam para a praia da Barra através da lagoa da Tijuca. Enquanto isso as gigogas avançam sobre o espelho da lagoinha das Taxas e o esgoto que é lançado pelo valão das Taxas na lagoa de Marapendi, possibilita também nessa lagoa a proliferação de cianobactérias.

Lá do alto vejo pescadores no meio do lixo na baía de Guanabara e de cianobactérias no sistema lagunar de Jacarepaguá.

O sobrevôo durou duas horas e pelo que tenho passado nos últimos seis meses e pelo que venho acompanhando pelo OLHOVERDE nos últimos doze anos, me vem a clara sensação que aos poucos minhas esperanças de algo melhorar, vão escoando para o ralo da impunidade e da incompetência de Pindorama.

Sinto muito, mas como os animais que precisam sobreviver, temos de saber a hora de migrar...
Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o global

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