início bocadomangue Mario Moscatelli

Planeta Merda

O último vôo do OLHO VERDE me deu aquela sensação de terra arrasada, ou melhor, água arrasada.

Por onde olhei só encontrei merda, em sua forma pura e concentrada, diluída, merda com cianobactérias, merda com lama, merda com lixo, merda com merda, merda no ar, merda enterrada e eu lá voando sobre a merda. Que merda!

E pensar que pagamos caro por toda aquela merda! Novamente ela, poderosa, triunfante, sobre a criação da espécie dominante em minha cidade, o tal Homo fecalis, aquele que só pensa, fala, faz, come e se diverte na merda.

Suplantando o Homo sapiens, essa nova e triunfante espécie, transforma tudo que vê e toca em merda. Nada escapa de seu apetite sem fim por degradação e produção de metano e gás sulfídrico. Não suporta oxigênio, sua vida é nos terrenos baldios, lixões, palácios do poder e falcatruas com suas cortes de aloprados, onde tudo se mistura de qualquer jeito, onde o chorume escorre matando tudo e qualquer coisa que preste. Adora frequentar rios transformados em valões de esgoto, confraternizando-se com todo tipo de organismo decompositor, tendo como seu principal símbolo o típico político brasileiro.

O sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá continua arrasado. As lagoas continuam sendo adubadas por merda proveniente de sua bacia de valões de esgoto. Nada sobra diante de tamanha fúria de degradação.

Na lagoa de Marapendi o extravasamento de esgoto e cianobactérias provenientes do valão das Taxas, toma a parte final daquela lagoa.

Nas lagoas de Jacarepaguá e Camorim a água é cianobactéria pura e concentrada, misturada ao lixo proveniente dos valões.

A lagoa da Tijuca sucumbe e reflete a tragédia da luta inglória entre a CERTEZA DA IMPUNIDADE e a CIDADANIA CAPISBAIXA, sem muita esperança prática de reverter tamanha magnitude de degradação.

Quando se sobrevoa a baía de Sepetiba a bacanal ambiental continua a mesma de meses e anos atrás. Degradação sendo cuspida por todos os valões de esgoto.

Na baía de Guanabara a situação deixou de ser de calamidade e não tem mais como ser classificada. A estação da Alegria não conseguindo tratar tudo que pode, pois a merda que falta nela, sobra nos rios. Na estação de São Gonçalo, até mato cresce dentro da planta de tratamento visto que aquela obra além de ter enchido o bolso de alguém, nunca funcionou para nada. E olha que isso já faz aproximadamente quatorze “anus”.

Milhões, sei lá já quantos, talvez três ou mesmo seis milhões de metros quadrados de merda, lixo e lama se acumulam na foz dos valões Sarapuí-Iguaçú.

Um rio de merda flui para dentro e dentro da baía num desenho sinuoso, quase que psicodélico, parecido com a serpente de merda que flui no rio Guaxindiba dentro da Área de Proteção Ambiental Federal de Guapimirim.

No Pavão-Pavãozinho dois garis sem qualquer proteção estavam pendurados perto do abismo de lixo produzido pela favela local, arriscando a vida por absolutamente nada.

Ali estavam eles pendurados, jogando o lixo da encosta, morro abaixo para ser, quem sabe recolhido posteriormente. Mas acima deles, mais várias toneladas se acumulavam, numa luta sem fim. Se quiserem dar jeito naquele vexame, realmente as “auturidadis” terão de mudar sua forma de agir, pois com apenas dois pobres garis e mais um monte de porcalhões, nem em três reencarnações se limpa aquele lixão.

Talvez até 2016, quem sabe se não desviarem as verbas, não superfaturarem as obras ou mesmo abandonarem as obras após os eventos, licitarem direito os serviços, quem sabe pode ser que dê certo e a degradação seja de fato controlada.

São muitas dúvidas sobre o comportamento caracteristicamente patológico, doentio de nossos caros administradores públicos diante da passividade e aceitação de tudo que acontece nesse entreposto comercial por parte da sociedade.

nota de falecimento
"A lagoa da Tijuca sucumbe e reflete a tragédia da luta inglória entre a CERTEZA DA IMPUNIDADE e a CIDADANIA CAPISBAIXA, sem muita esperança prática de reverter tamanha magnitude de degradação".

Enfim cabe aos que não estão satisfeitos lutar até quando acharem que ainda possa valer a pena e aí cada um sabe seu limite.

Quem sair por último que apague a luz...

Mario Moscatelli – Biólogo – Professor de Gerenciamento de Ecossistemas do Centro Universitário da Cidade e executor do projeto OLHOVERDE

Compartilhe   . . .


artigo anterior
confira os arquivos

meio ambiente | ongs | universidades | página inicial

A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade dos mesmos