Brasil, afortunado país de imenso litoral, uma extensão de 7.408 km para passar as férias. A gama de paisagens a escolher é impressionante; é de deixar em dúvida o mais decidido dos aventureiros. As opções vão de campos de dunas e recifes à baías e estuários. Contudo, para o viajante um dos mais nobres ecossistemas brasileiros, o Manguezal, passa geralmente despercebido.
“Um ecossistema de transição”. A conotação é a mesma tanto para cientistas quanto para turistas. O que pode ser denominado como um ecótono entre o ecossistema aquático e terrestre, para o passageiro é a paisagem que se vê pela janela do carro depois de descer a serra entre a cidade caótica e a tão almejada areia da praia.
Por que o valor do manguezal é tão subestimado?
Associado às margens, onde há o encontro de águas de rios com a do mar, ou diretamente expostos à linha da costa. É um sistema funcionalmente complexo, resiliente (altamente resistente) às constantes modificações da topografia, da salinidade e do teor de nutrientes do solo.
Reconhecido como “berçário” natural tanto para as espécies características desse ambiente, como para peixes anádromos e catádromos, além de outros animais que migram para esta área devido às condições propícias para alimentação, reprodução e proteção.
O substrato lodoso, salgado, com alto teor de matéria orgânica e pouco oxigenado pode até tentar afugentar o indivíduo que não quer afundar o pé na lama. Mas a bordo de um bote a vista surpreende.
A vegetação muito característica, com apenas sete espécies de árvores halófitas facultativas (tolerantes a salinidade); abrigam grande variedade de microalgas cerca de 200 mil representantes, em um único centímetro quadrado de raiz de mangue (UFRP) e epífitas como orquídeas, bromélias, samambaias e liquens.
Em meio a esta vegetação os mais famosos representantes da fauna do mangue são os caranguejos, mas peixes e aves como as garças são facilmente avistados. Se o viajante for cauteloso, silencioso e um pouco paciente pode se deparar com um papagaio-de-cara-roxa e até com um jacaré-de-papo-amarelo.
Aproximadamente 80% dos manguezais do país estão nas regiões Norte e Nordeste, especialmente nos estados do Amapá, Pará e Maranhão. Mas os litorais do sudeste ainda possuem sua porçãozinha resistente.
Aos aventureiros: sandálias tipo “papete” ou voltarás descalço.
E como sempre:
• Deixe apenas pegadas.
• Tire apenas fotos.
• Leve apenas lembranças.
Cristina R R Koszo. - koszocristina@yahoo.com.br
Bióloga - Mestre em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente. |