bocadomangue Mario Moscatelli

Eu acredito em fadas.

 

Hoje às 10:00, 22 de janeiro de 2004, me descontrolei e bati palmas para os engenheiros da CEDAE e para seus piões. Mandei vários deles à MERDA, em alto e bom som na frente do clube Piraquê que patinava em esgoto. Quando algum pião falou e gesticulou algo para mim, mandei-o calar a boca e ir trabalhar, pois quem pagava pelo trabalho deprimente que a CEDAE costuma fazer, sou eu e o resto dos que moram nessa cidade que se tornou uma bacia de fezes.

Enfim em meio a minha fúria vendo os milhares de litros de esgoto escoando bucolicamente para dentro das tristes águas da Lagoa, olhei para os lados e pude notar que as pessoas que passavam no meio do esgoto, me fitavam assustadas com minha exaltação, e eu as fitava angustiado diante de tamanha apatia, como animais que aceitam o seu destino, o abate sem qualquer reação.
Senti-me profundamente ridículo e só. Aparentemente só eu estava indignado naquele momento, no momento de mais aquele crime contra o que sobrou de nossa cidade. Saliento que naquele ponto de vazamento em frente ao Piraquê, só naquele ponto, eu já havia observado vazamentos de quatro a cinco vezes nos últimos três anos!

E as tais obras que teriam sido feitas pela CEDAE dentro do acordo com o Ministério Público Estadual? O que foi realmente feito? Alguém foi lá verificar a realidade dos relatórios que devem ter sido encaminhados? A realidade mesmo é aquela que vocês, que têm paciência de ler esses artigos, vêm acompanhando, isto é, os vazamentos de esgoto acontecem de forma corriqueira e para a estatal que se encontra acima do bem e do mal, que monopoliza os serviços de saneamento, não acontece aparentemente NADA!

Diante do que vem acontecendo não só nas lagoas, como nas praias da região metropolitana, o MAL ambiental COMPENSA no Estado do Rio de Janeiro.

Peguei minha moto, ainda verifiquei que o vazamento de um rio de MERDA também acontecia em frente a rua Frei Leandro. Liguei para Os jornais O Globo e JB, expliquei o que estava acontecendo mais uma vez, mas confesso que me senti gradativamente um palhaço, um idiota, gastando celular, explicando as mesmas coisas pela centésima vez e com a certeza que tudo aquilo não ia dar em nada, principalmente para os administradores públicos responsáveis pelo atual estado de degradação ambiental.

Pensei que num lugar onde as pessoas morrem normalmente por balas perdidas e não acontece NADA com as "auturidades" "responsáveis", a não ser aquela cara de tédio diante da mídia, como se quisessem dizer, foi-se mais um... Senti-me mal a tarde inteira, e fui ver para aliviar a pressão, Peter Pan no cinema.

A única coisa que me passa na cabeça é a frase chave do filme e o seu efeito repetitivo: "Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas... ...Eu acredito em fadas..."

Parece que diante de uma tarde que pensei em mandar tudo às favas, numa guerra perdida, esta frase surgiu como uma bóia de alento.

Eu acredito em fadas...

MARIO MOSCATELLI - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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