TEMPO REI
Tenho
tantas coisas na minha cabeça rodopiando que não
sei bem por onde começar.
Enquanto discutimos quem sabe mais, e de que forma poderíamos melhor montar
esse ou aquele projeto os manguezais que não têm mais tempo na vida
real, continuam sendo convertidos para os mais distintos fins sem qualquer amparo
ambiental e legal. Detalhe, toda essa bacanal acontece com a aparente conivência de quem deveria trabalhar no sentido do gerenciamento sustentável do ecossistema. Se tudo corresponde à realidade sem que tenha ocorrido nenhuma “carregada nas tintas” por parte de nosso colega cearense, parece que no estado do Ceará, legislação ambiental é coisa ainda desconhecida pelos órgãos ambientais bem como a ação do Ministério Público e da polícia federal se faz mais do que necessária e para ontem! Quando caí na besteira em minha palestra de falar em custos envolvendo atividades de recuperação bem como do envolvimento do empresariado carioca interessado em agregar valor aos seus empreendimentos, recuperando e gerenciando as áreas de manguezais, fui quase crucificado por caiçara, onde não se pouparam adjetivos pouco lisonjeiros à minha atividade de recuperação. No
meu entender além dos diversos problemas
estratégicos culturais
que temos de ultrapassar para de fato fazer frente à degradação
ambiental na região costeira, precisamos urgentemente de um divã coletivo,
visando acabar de uma vez por todas com essa mania de falso heroísmo
e altruísmo suicida nas causas ambientais. Parece que tem gente que
se acostumou a ver nosso time perder de goleada e não entende que
além das palmas
em eventos dos que comungam de nossas idéias, pelo menos em parte
delas, e de financiamento de estatal potencialmente degradadora, precisamos
de ferramentas
capazes em curtíssimo prazo de tempo para reverter à conversão
de nossos recursos naturais em monoculturas voltadas para o mercado exterior.
Precisamos procurar nas forças produtivas da sociedade áreas
de conexão, onde não apenas nosso desejo particular e o que
está previsto
nas leis ambientais, venham de fato proteger nossa galinha dos ovos de ouro. Lá fui eu para a maravilhosa e deslumbrante
lagoa da Conceição.
Não dá para descrever a emoção de avistá-la
lá do alto, com suas águas ainda cristalinas, com costões
rochosos, praias e sua vegetação perilagunar exuberante.
Não
satisfeito fui visitar a lagoa do Peri, quando tive nitidamente um insight
de espaço-tempo quando consegui ver como eram as lagoas Rodrigo
de Freitas e da baixada de Jacarepaguá. Simplesmente emocionante
e claramente revoltante! Ao
chegar ao Rio, pude ver uma barreira (ecobarreira) instalada
no rio
Irajá,
visando segurar o aporte de resíduos sólidos na baía
de Guanabara. Espero que esta boa iniciativa do governo do Estado do
Rio de Janeiro
venha a ser generalizada por outros rios, transformados em verdadeiros
transportadores de lixo em direção a baía. De algumas poucas coisas eu ainda tenho certeza: 1- Do jeito que o licenciamento ambiental vai indo, no estado do Rio de Janeiro, definível como o verdadeiro samba do crioulo doido, onde tem cacique demais para quase nenhum índio, a proteção de fato dos recursos naturais nessa “taba” sem o auxílio dos setores esclarecidos da iniciativa privada, inviabilizaram qualquer tipo de iniciativa de desenvolvimento de fato sustentável. 2- Do jeito que as “políticas” de meio ambiente vêm sendo regurgitadas por algumas “auturidades” em nosso país de quatro em quatro anos, podem ter certeza que não vai sobrar muita coisa para contar a história daqui a vinte anos, tornando nossa vida AMBIENTALMENTE INSUPORTÁVEL em nossa cidade. 3-
Se não mudarmos nossa abordagem estritamente
legalista no que concerne o gerenciamento ambiental e vislumbrarmos óticas
diferenciadas de otimizar a utilização dos recursos
naturais, vamos a cada evento acadêmico
continuar a choramingar patologicamente nossas agruras quanto à destruição
desse ou daquele ecossistema, continuando com as “terapias
em grupo”. Nosso
trabalho agora, nesse exato momento, individualmente ou coletivamente, é retardar
a explosão que está por vir, bem como reduzir
seus efeitos do jeito de cada um. Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
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