Final
de ano e como de praxe vamos dar uma checada no que deu certo
e naquilo que continua na mesma em algumas chagas ambientais
de nossa cidade.
Sistema lagunar da baixada de Jacarepaguá – Não
há dúvidas que após pelo menos doze anos de muito
barulho e reclamação por parte da sociedade, as autoridades
estaduais, diga-se SERLA, em 2004 realmente estão colocando
a mão na lama e no lixo. Em parceria com a iniciativa privada
ou contando com recurso financeiro do FECAM, que finalmente está sendo
usado para a finalidade para o qual foi criado, a laguna da Tijuca
vem sofrendo uma “lipoaspiração” parcial,
onde aproximadamente entre um e dois milhões dos seis milhões
de metros cúbicos existentes de sedimentos e lixo estão
sendo dragados, criando um canal mais largo e profundo dentro do lamaçal
no qual se transformou a laguna da Tijuca.
O
objetivo, junto ao desentupimento de vários canais de
drenagem, atualmente completamente tomados por plantas aquáticas
(macrófitas) é de melhorar a circulação
de água no interior de todo o sistema lagunar da região.
O
trabalho está andando, mesmo diante das dificuldades técnicas
e da dimensão gigantesca do passivo ambiental
que precisa ser atacado.
Apesar dessas importantes iniciativas, problemas graves continuam sem solução.
São eles:
a -
A completa ausência de atuação
concreta do governo federal quanto à recuperação
ambiental da região que sediará a maior parte dos jogos
de 2007. A questão da permissão do governo federal quanto à obtenção
do empréstimo japonês pela prefeitura do Rio de Janeiro,
visando à recuperação da bacia hidrográfica
da baixada continua naquele reme-reme de sempre, onde sobra boa intenção
mas dinheiro que é bom, nada. Engraçado, dinheiro nunca
falta para socorrer banco falido, agora para questões de ordem
ambiental, só mesmo antes da eleição toda a simpatia
possível, depois é aquela eterna dificuldade de caixa!
Pois bem, já passou da hora do atual governo federal, que recebeu
expressiva votação em nosso estado, mostrar além
do blá-blá, realmente interesse em ajudar na prática
recuperar este patrimônio ambiental de nossa cidade. Se a prefeitura
não pode se endividar mais, então que o governo federal
assuma o empréstimo e divida a placa com a prefeitura e todo
mundo sai ganhando, do político ao caranguejo. O resto é conversa. |
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b -
As obras de saneamento continuam sendo tocadas, sendo que invariavelmente
correm boatos de toda a espécie, sobre atrasos, redução
da área de cobertura da futura rede, lançamento
de esgoto sem tratamento, enfim aquele enredo que invariavelmente
envolve o trabalho da estatal CEDAE. A última data que
ouvi nos jornais é que o sistema de tratamento, estaria
em funcionamento até final de 2005. Pessoalmente, por
aquilo que eu tenho acompanhado, só acredito vendo!
c - Infelizmente se o sistema de saneamento a cargo
da CEDAE não estiver em funcionamento até final de 2005,
quando boa parte das dragagens que vêm sendo efetuadas nos canais
pela SERLA, deverão estar sendo finalizadas, provavelmente estaremos
inaugurando uma nova cloaca na praia da Macumba. Aí será o
encontro “ecumêmico” dos excrementos de Vargem Pequena
e Grande com os lançados pelo quebra-mar. Espero que meu realismo
não se confirme, mas a recente história do saneamento
de nossa cidade é mais do que preocupante
d - Outro ponto importante, que parece que deverá ser
resolvido pela SERLA através da instalação de
painéis e distribuição de panfletos, é a
informação aos usuários do sistema lagunar quanto
seu potencial perigo à saúde pública. Tal perigo
se materializa não apenas pelas lagoas terem sido transformadas
em privadas gigantescas, como por serem o “lar” de algas
tóxicas. A população precisa ser avisada quanto
ao perigo que corre não apenas através do banho como
pelo consumo de peixes potencialmente contaminados. Só que aí criamos
um problema sócio-econômico, visto que temos ainda atividade
pesqueira na região e é aí que entra a ação
do ministério do meio ambiente, ainda adormecido para as questões
de nosso sistema lagunar. Devo esclarecer que estive por pelo menos
três vezes com a então senadora, atual ministra do meio
ambiente, quando por meio de palestra audiovisual e relatório
apresentei-lhe a situação terminal de nosso sistema lagunar.
Infelizmente o tempo passa e o tempo voa e ação que é boa,
mais uma vez nada. Neste contexto, da mesma forma que o ministério
apóia os pescadores em áreas contaminadas por derrames
de óleo, poderia agir apoiando economicamente os pescadores
que sobrevivem no meio de fezes, lixo e algas tóxicas no sistema
lagunar. Caso o ministério não tenha recursos, aí caberia
ao governo do estado assumir a situação visto que é ele
que é o principal responsável pela degradação
generalizada da qualidade da água das lagunas da região,
já que monopoliza os serviços de água e esgoto.
e - Outra situação que me preocupa é a
salinização da Lagoinha, visto que seu regime típico é de água
doce e conseqüentemente com sua fauna e flora adaptada àquela
situação. Tal salinização se daria segundo
o modelo matemático apresentado pela SERLA, por meio da desobstrução
do canal das Taxas que se liga ao canal de Sernambetiba e esse ao mar.
Não quero criar polêmicas, acho que há necessidade
de desobstrução de vários canais, só que
temos esse problema da Lagoinha que precisa ser analisado e resolvido,
não dando para ficar empurrando com a barriga ou fazendo que
não existe. É preciso saber se com a salinização
preconizada pelo modelo se a comunidade biológica local será afetada
e de que forma. Lembremos que as lagunas não são apenas
sistemas hidráulicos, elas são ecossistemas já extremamente
impactados e devem merecer avaliação constante quanto
a esse importante compartimento.
f - Espero que as ações de fiscalização
da SERLA continuem, bem como a da prefeitura também se intensifiquem
na baixada de Jacarepaguá, visto que do alto, percebe-se claramente
que todos os erros cometidos no resto da cidade quanto à ocupação
desordenada se repetem nessa região. Para isso seria mais do
que interessante que os administradores públicos deixassem a
política partidária de lado e deixassem os técnicos
trabalharem de forma articulada. Se for impossível por bem,
que o Ministério Público dentro de suas atribuições
aja de forma enérgica para acabar com essa mania de transformar
as questões ambientais em arenas de prepotência e falta
de interesse pelo bem público.
Lagoa Rodrigo de Freitas – Mais uma vez a SERLA
tem mostrado bastante esforço no sentido do gerenciamento do
ecossistema local, tanto pelos trabalhos de dragagem que continuam
ocorrendo (quando vão acabar?), na remoção de
plantas aquáticas empregando parte dos pescadores da colônia
de pesca, criando espaços culturais, operando e desobstruindo
o canal do jardim de Alah, no entanto temos importantes problemas ainda
não resolvidos.
a - Estou até hoje pasmo com a desativação
do sistema de monitoramento contínuo criado pelo então
secretário municipal de meio ambiente Eduardo Paes e desativado
em 2004 pela prefeitura em virtude do rompimento do convênio
que existia entre a prefeitura e o estado. Toda vez que passo pela
Lagoa e vejo os postes que captavam energia solar para abastecer o
sistema de monitoramento, o sistema de monitoramento e a base de análise,
tudo abandonado, apenas por que se rompeu uma porcaria de convênio,
fico enfurecido como se joga dinheiro público e boas idéias
no lixo, apenas por questões de ordem política. A qualidade
de vida da população e do equilíbrio ambiental
da Lagoa está acima de qualquer briguinha política momentânea.
b - Até agora eu gostaria de saber se o termo
de ajuste de conduta firmado entre a CEDAE e o Ministério Público
Estadual será concluído até o mês de março
de 2005. Visto que o prazo original se esgotou no ano passado, quando
o MP concedeu um novo prazo de mais 12 meses para a conclusão
das obras de saneamento da bacia da Lagoa. Pois bem, enquanto março
não chega, o excremento que descia de dia pelo canal da avenida
General Gárzon, agora só chega de noite e madrugada,
sem falar nos vazamentos mais do que conhecidos em frente ao Parque
da Catacumba e Cantagalo. Engraçado essa relação
do poder público com o cidadão. Se você atrasa
algum pagamento, é multa, mora, dívida ativa, carregam
o carro para o depósito, etc. Agora se é obrigação
de fazer da “metrópole” com prazo de execução
definido, pode esperar sentado, pois atrasa, vem CPI, precatório
e pizza, muita pizza. Democracia esquisita essa!
Praia de São Conrado e Copacabana – Na
primeira semana de chuva antes do natal, o quadro continuava aquele “bonito” de
sempre, com excremento misturado com lixo surfando da Rocinha para
a praia. Não tenho informações quanto ao término
daquela obra secular. Na minha querida Copacabana, segundo “auturidade” do
estado, é normal ter aquelas “belas atrações
turísticas” nas areias em formato de línguas negras,
uma coisa normal. Ninguém merece ouvir um comentário
infeliz desses, fruto da completa falta de interesse em resolver um
problema que se arrasta por décadas e que é resolvido
de forma tupiniquim cobrindo a sujeira com areia. Seria interessante
que os “experts” pensassem na criação de
um sistema de galeria de cintura, parecida com aquela que existe parcialmente
na Lagoa e que pegasse toda aquela “água” que vai
para a praia e a enviasse para o emissário de Ipanema. É possível?
O que não é possível é ter excremento boiando
nos piscinões criados por cada chuva que cai na outrora Princesinha
do Mar que nossas queridas “auturidades” transformaram
na Geni.
Baía de Guanabara – Como já disse
várias vezes, esse assunto é caso de polícia.
Já perdi a conta dos escândalos que existem associados
com o famigerado Programa de Despoluição da Baía
de Guanabara. Já teve CPI, denúncias, desembolso de aproximadamente
um bilhão e uns trocadinhos de dólares, agora horizonte
de finalização, por enquanto isso só para quem
acredita em reencarnação. Enquanto nossas “auturidades” pensam
nas próximas eleições, os rios Sarapuí,
Iguaçu, São João de Meriti dentre outros, são
verdadeiros, rios de excremento e lixo, exalando odores comparáveis
só com os encontrados no inferno. A boa notícia é que
a SERLA instalou um sistema de barreiras que EVITA a chegada do lixo à baía
de Guanabara, permitindo sua coleta concentrada e reaproveitamento
do material para reciclagem e geração de empregos. Espera-se
que essa boa idéia se generalize, atacando pelo menos parcialmente
o problema da chegada de lixo na baía.
Outra coisa que me despertou preocupação, foi o acidente na baía
de Paranaguá e a ineficiência do combate à poluição
gerada pela explosão e posterior vazamento de óleo combustível.
Fico me perguntando, diante do sucateamento de nossas estruturas ambientais se
as refinarias e portos localizados no entorno na baía de Guanabara tem
estrutura, planos, pessoal preparado para dar combate a potenciais acidentes.
Não quero ser leviano, mas aposto que se agora acontecesse novo acidente
com vazamento de óleo, estaríamos numa situação semelhante à de
1997 e 2000, quando a estatal petrolífera quase que asfaltou boa parte
da baía de Guanabara. Espero estar errado.
Finalizando – Foi triste mas não espantou
ter o órgão ambiental estadual FEEMA comparado com o
antigo DETRAN, em virtude do envolvimento de seus funcionários
com a emissão de licenças ambientais podres. Realmente
a atual administração estadual da mesma forma que fez
renascer a operacionalidade da SERLA deve ser obrigada por todos que
exigem melhorias na qualidade ambiental de nossa cidade que a FEEMA
novamente volte a ser a instituição que num passado não
muito distante foi uma referência internacional.
Nunca é tarde lembrar que o sistema de licenciamento em
nosso estado continua precisando urgentemente de uma ordenação
e articulação,
visando acabar com essa bacanal que mais uma vez TEM por único objetivo
transformar o meio ambiente num balcão de negócios
De
resto, um próspero ano novo, equilíbrio, saúde, paz e
dignidade!
Mario
Moscatelli -
Biólogo - moscatelli@biologo.com.br
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