bocadomangue Mario Moscatelli

DESORDEM E DEGRADAÇÃO

Pois bem, tremulando por todo o território nacional nosso símbolo maior, a bandeira nacional tem por palavra chave “Ordem e Progresso” que na verdade quando se lança à vista rapidamente pelas principais notícias associadas com as questões ambientais apresentadas nos veículos de mídia é justamente o contrário que encontramos, isto é, “Desordem e Degradação”.

A série de matérias que recentemente foram apresentadas no jornal O Globo, relacionadas ao famigerado “Programa de Despoluição da Baía de Guanabara” que fez dez anos no mês de fevereiro, apresenta um quadro ambiental caótico bem como e principalmente a farra que se faz com dinheiro público, também considerado como LIXO pelos nossos “eficientes” administradores públicos. Eles sabem que de onde veio todo aquele “dimdim” que até o momento está longe de produzir as melhorias ambientais planejadas, vem mais, pois a paciência, digo brochura de nossa sociedade é tão grande quanto a insensatez e a falta de vergonha na cara dos gestores dos recursos públicos.

Pior é que se faz CPI, se gasta mais dinheiro com nossos deputados que chegam a conclusões aterradoras do se fez com o dinheiro, dos pífios resultados obtidos e punição que é boa até agora, NADA, pois como já disse, nossa sociedade ainda se arrasta nos princípios de cidadania. Os maus gestores dormem tranqüilos, pois estão sempre protegidos pela nossa histórica impunidade.

Meu bom e querido pai, um profundo entendedor do Brasil e de sua gente, sempre me dizia que em nosso país para se resolver algum problema, se esbarrava sempre em dois novos problemas.

O primeiro quando não havia dinheiro para resolver o problema inicial e o segundo quando havia dinheiro demais, pois o mesmo sumia na cara de toda a sociedade que essa manifeste qualquer sintoma de reação. É incrível essa gente como é mansa, esbravejava minha mãe napolitana, diante dos escândalos que viviam e vivem pipocando nos jornais.

Mais incrível que essa gente na verdade não é mansa, talvez mansa, adormecida, entorpecida nas questões realmente importantes, como quando se paga CPMF para a melhoria da rede hospitalar e os hospitais da cidade do Rio de Janeiro, um após o outro têm reduzido ou mesmo paralisadas suas atividades, com gente entulhada como ANIMAIS nos corredores de um matadouro oficial, num tipo de campo de extermínio tupiniquim. No entanto essa mesma gente mansa é capaz das maiores atrocidades durante idiotas partidas de futebol apenas por torcerem por equipes diferentes. Estranha essa gente, comem do veneno que plantam.
Em nosso país o MAL compensa, única e exclusivamente por nossa mais e completa apatia em relação a ações concretas que façam a metrópole perceber que a colônia não está mais para brincadeiras.

Aí surge a história dos madeireiros que fecharam a rodovia em resposta à ação do IBAMA. Os “empresários” fecharam aquilo que chamam de rodovia e o suprimento de quase tudo ficou paralisado até o momento que o governo federal literalmente “arregou”, ficando combinado que os “empresários e grileiros da madeira” locais irão assinar um termo de ajuste de conduta onde deverão assumir tudo que não fizeram até hoje. Espera aí meu irmão, você acha que esse mesmo pessoal que fechou a rodovia e ameaçou partir para o tapa vai cumprir o tal TAC? e quem vai ser macho para fiscalizar o TAC? Aí você se pergunta, onde está a porra da autoridade do governo federal, onde estão as tropas federais para colocar ordem nessa zona? Progressivamente fica claro que a questão ambiental fica bonita de ser defendida em seminários internacionais e nos palanques pré-eleitorais. Depois irmão, o ouro é de quem gritar mais alto e claramente os que desejam a utilização sustentável dos recursos naturais devem estar afônicos ou precisam partir também para interditar alguma rodovia, pois parece que é essa a linguagem que nossas “auturidades” entendem e temem.

Fora essas duas mega cagadas ambientais, convivo diariamente com os fictícios períodos de defeso, seja da sardinha ou do caranguejo. Se você pega o carro e percorre as principais rodovias que ligam os municípios de Duque de Caxias (baía de Guanabara) até Parati (baía de Ilha Grande), você encontra venda de caranguejo, macho, fêmea, gay, terrestre e alienígena, do jeito que preferir, sem que os vendedores sejam incomodados por qualquer ação fiscalizatória. A captura da sardinha também come solta na baía de Ilha Grande. Enquanto nossa eficiente fiscalização aguarda as embarcações no principal ponto de desembarque oficial, mais uma vez a farra come solta em outros pontos de desembarque. Pelo menos é isso que os pescadores que se consideram uns babacas por respeitarem os defesos ficam me contando e solicitando ajuda para acabar com a bacanal, como se eu fosse alguma criatura divina. Além disso para acabar com aquilo que sobrou, enquanto os “experts” discutem a validade ou não da instalação de recifes artificiais, se vai pintar de rosa ou roxo, os arrastões revolvem o fundo das baías e enseadas atrás do camarão, mais uma vez sem serem “incumudados” pelas “auturidades”. Pode arrebentar, aproveitar menos de 10% do que é arrastado para dentro das redes sendo os restantes 90% ou mais jogados mortos no mar, num verdadeiro genocídio que se perpetua há décadas, sem que alguém faça algo de concreto além de arrotar teoria em plenárias bem comportadas, refrigeradas com coffee break e muita fofoca. De manhã é aquele triste filme, cheio de carapicus, espadas, bagres e etc, mortos boiando nas águas ou depositados como lixo nas praias. Assim que a noite encobre os genocidas e as “auturidades” vão descansar de suas jornadas estafantes, a bacanal recomeça.

Sinceramente me pergunto que porra de lugar, nós queremos deixar para nossos filhos do jeito que a desordem avança alimentando a degradação, onde sobra apatia burocrática das “auturidades”, miopia da parte de ambientalistas preservacionistas histéricos, conservadorismo dos teóricos mal resolvidos e da voracidade dos desenvolvimentistas tarados associados aos despachantes ambientais de luxo. Fazer seriamente gerenciamento, implementando planos de gerenciamento de um ou mais recursos naturais, das unidades de conservação na maioria das vezes feitas apenas de papel, onde falta tudo e sobra discurso bem articulado e vazio de ação, ainda continua sendo uma miragem nesse deserto de interesses antagônicos e egos inflados.

É uma e vinte e sete da manhã, ouço Simple Mind, olho para a foto de minha querida prole e ouço o soar das trombetas, dos sinais que insistem em nos alertar, mas parece que estamos surdos e cegos.

Precisamos buscar aliados atuantes que entendam a gravidade de tudo que anda acontecendo. Acho particularmente que em face da importância as quais se revestem as questões de ordem ambiental local e global, já passou da hora das forças armadas brasileiras se somarem num esforço verdadeiro em terra, mar, rios e ar junto ao ministério do Meio Ambiente no sentido da proteção de nossos recursos naturais estratégicos, tais como a água e a biodiversidade, intensamente cobiçados e traficados internacionalmente. Para mim está muito claro que tem muita gente que só vai entender e se enquadrar na base da força.

O que mais posso fazer hoje?
O que mais podemos fazer?

Respondam-me, pois nessa madrugada quente e chuvosa, diante de Luke Skywalker, estou sem essa preciosa e tão importante resposta.

Desculpem a linguagem às vezes pesada desse artigo, mas é que tem horas que a paciência acaba diante de tanto desmando e irresponsabilidade e aí, escrevo do jeito que sinto, sem muita censura.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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