“A
BAÍA SÓ ERA LIMPA NO TEMPO DOS ÍNDIOS”
Frase do Senhor Vice-Governador e Secretário
de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro
Foi
com essa histórica asneira monumental que o senhor vice-governador
e secretário de meio ambiente do que sobrou ambientalmente do Estado
do Rio de Janeiro, fechou o conjunto de reportagens que retrataram o imenso
fiasco
que até o momento representou o caro e insosso Programa de Despoluição
da Baía de Guanabara desgovernado pelo “puder púbico do
istado”.
Inicialmente
para esse pobre biólogo nunca deu para entender
como diante do tamanho e da complexidade dos abacaxis ambientais que existem
em nosso Estado,
como uma só pessoa pode assumir dois cargos de tamanha importância,
isto é, vice-governador e secretário de meio ambiente. Algo deve
sair perdendo e esse algo eu tenho certeza que tem sido o meio ambiente.
É como
diz aquele ditado, “cada macaco no seu galho”.
Eu com certeza nunca darei aula de urbanismo, visto que
minha formação é na área
ambiental, ecologia e gerenciamento de ecossistemas.
Vá lá, que eu entenda algo de crescimento
desordenado da malha urbana e suas conseqüências
para com o meio ambiente, visto que desde que nasci vejo
favelas e mais favelas se proliferando que nem bactérias
e esgoto jorrando que nem chafariz em praias e lagoas
diante das “auturidadis” e experts no assunto
sem que de fato NADA tenha sido feito para controlar
essa situação.
Infelizmente
para acertar os tais acordos políticos e manter as áreas
de influência de cada corporação,
onde posso com ou na ausência de uma canetada criar “probremas” para
isso ou aquilo, tem sido uma constante nos cargos públicos
de relevância, colocar banqueiro em secretaria
de saúde, político escritor como secretário
de segurança e o resultado tem sido essa maravilha
que temos podido acompanhar. |
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Sorte
nossa que nosso secretário de meio do Estado além
de urbanista é mais um expert na área ambiental
e por isso devemos perdoar a entrevista dada por ele no jornal
O Globo em 06 de março de 2005, apesar do mesmo ter “escorregado
ambientalmente” na ocasião. Foi apenas um dia
infeliz para ele, dos muitos que nós contribuintes somos
obrigados a engolir goela abaixo todos os dias.
Nessa mesma linha de raciocínio, isto é, “A Baía só era
limpa na época dos índios”, e “As línguas negras
em Copacabana são normais” nossas queridas “auturidadis” gostam
de lembrar aos plebeus “ignorantis” de nossa cidade que na “Lagoa
sempre morreu peixe, desde a época dos índios”, demonstrando
profunda “capacidadi” “di” conhecimento “ambientau” e “históricu” de
nossa bela “cidadi” maravilhosa.
Enquanto analisamos nossos experts administradores públicos locais, regionais
e mundiais, que com aquelas exceções que devem existir estatisticamente,
a coisa vai indo de mal a pior. Vocês têm costume de ler o jornal
diariamente? Pois se têm, devem estar alarmados como semanalmente os alertas
vêm de todos os cantos, em relação à perda de biomas,
aquecimento global, perda de biodiversidade, elevação do nível
dos mares, falta de água potável para um BILHÃO de pessoas
e por aí vai. Na contramão das cornetas que tocam dos quatro cantos,
o atual império do norte, despeja bilhões de dólares em
armas na “terra das armas de destruição em massa”,
o sistema financeiro internacional arrota caviar no café da manhã,
o superávit brasileiro só faz crescer, que nem as filas do INSS
e dos hospitais de nossa bela cidade. Nessa bagunça toda, só para
aumentar a pressão do fundamentalismo, a onda criacionista só faz
crescer na cabeça dos que não residiam há 65 milhões
de anos naquela bela manhã, quando uma pedra vinda do espaço se
esborrachou na atual península de Yucatan e abriu espaço para a
tomada do planeta pelos mamíferos a “imagem e semelhança
de Deus”.
Não pensem que a irresponsabilidade e a boçalidade seja apenas
uma característica das “auturidadis” brasileiras, isso é que
nem praga, espalhada por todo o mundo, onde pela boçalidade e projetos
políticos de uns poucos, cidades, nações e quem sabe se
não tomarmos vergonha na cara, planetas inteiros são transformados
em desertos.
Estou apocalíptico demais? Talvez seja ainda conseqüência do
filme do Mel Gibson sobre a Paixão de Cristo. Confesso que após
acompanhar o flagelo daquele Homem que acreditava no que dizia e principalmente
contrariava os interesses econômicos locais, percebi que não mereço
ser chamado de cristão. No meu entender ser Cristão é um
estado de espírito muito distante do que encontro dentro de mim e vejo
por aí afora, um estado de certeza invejável, um alívio
dentro de um mundo envolto num processo suicida de usar até acabar, onde
sobram boas intenções, discursos e o que realmente importa é o
poder, seja ele das armas, das influências, do dinheiro e do consumo. Não
consigo ver aquele Homem nem a sua Mensagem, nas construções e
ações dos homens, em sua imponência e riqueza. Consigo na
verdade sentir algo nos mergulhos, quando fecho os olhos, deito no fundo arenoso
e ouço o som do mar, quando de fato sinto uma presença, ou várias,
longe da suntuosidade e das pretensões humanas. Do filme da Paixão,
ficou uma enorme admiração por Aquele que acreditou de fato no
que dizia e de fato fez a diferença na prática bem como um imenso
vazio por eu estar tão longe Dele.
Tenho uma certeza, temos de reagir à boçalidade e a impunidade
que pode em pouco tempo nos destruir, de forma progressiva expulsando democraticamente
a corja que insiste em comprometer nosso futuro e o de nossos filhos. Talvez
seja por aí um bom caminho de mostrarmos na prática que queremos
seguir alguns dos ensinamentos Dele.
Infelizmente dessa vez Pai não nos perdoe, pois sabemos muito bem o que
fazemos e deixamos de fazer.
Mario
Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br
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