bocadomangue Mario Moscatelli

A BAÍA SÓ ERA LIMPA NO TEMPO DOS ÍNDIOS

“A BAÍA SÓ ERA LIMPA NO TEMPO DOS ÍNDIOS”
Frase do Senhor Vice-Governador e Secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro

Foi com essa histórica asneira monumental que o senhor vice-governador e secretário de meio ambiente do que sobrou ambientalmente do Estado do Rio de Janeiro, fechou o conjunto de reportagens que retrataram o imenso fiasco que até o momento representou o caro e insosso Programa de Despoluição da Baía de Guanabara desgovernado pelo “puder púbico do istado”.

Inicialmente para esse pobre biólogo nunca deu para entender como diante do tamanho e da complexidade dos abacaxis ambientais que existem em nosso Estado, como uma só pessoa pode assumir dois cargos de tamanha importância, isto é, vice-governador e secretário de meio ambiente. Algo deve sair perdendo e esse algo eu tenho certeza que tem sido o meio ambiente.

É como diz aquele ditado, “cada macaco no seu galho”. Eu com certeza nunca darei aula de urbanismo, visto que minha formação é na área ambiental, ecologia e gerenciamento de ecossistemas. Vá lá, que eu entenda algo de crescimento desordenado da malha urbana e suas conseqüências para com o meio ambiente, visto que desde que nasci vejo favelas e mais favelas se proliferando que nem bactérias e esgoto jorrando que nem chafariz em praias e lagoas diante das “auturidadis” e experts no assunto sem que de fato NADA tenha sido feito para controlar essa situação.

Infelizmente para acertar os tais acordos políticos e manter as áreas de influência de cada corporação, onde posso com ou na ausência de uma canetada criar “probremas” para isso ou aquilo, tem sido uma constante nos cargos públicos de relevância, colocar banqueiro em secretaria de saúde, político escritor como secretário de segurança e o resultado tem sido essa maravilha que temos podido acompanhar.

Sorte nossa que nosso secretário de meio do Estado além de urbanista é mais um expert na área ambiental e por isso devemos perdoar a entrevista dada por ele no jornal O Globo em 06 de março de 2005, apesar do mesmo ter “escorregado ambientalmente” na ocasião. Foi apenas um dia infeliz para ele, dos muitos que nós contribuintes somos obrigados a engolir goela abaixo todos os dias.
Nessa mesma linha de raciocínio, isto é, “A Baía só era limpa na época dos índios”, e “As línguas negras em Copacabana são normais” nossas queridas “auturidadis” gostam de lembrar aos plebeus “ignorantis” de nossa cidade que na “Lagoa sempre morreu peixe, desde a época dos índios”, demonstrando profunda “capacidadi” “di” conhecimento “ambientau” e “históricu” de nossa bela “cidadi” maravilhosa.
Enquanto analisamos nossos experts administradores públicos locais, regionais e mundiais, que com aquelas exceções que devem existir estatisticamente, a coisa vai indo de mal a pior. Vocês têm costume de ler o jornal diariamente? Pois se têm, devem estar alarmados como semanalmente os alertas vêm de todos os cantos, em relação à perda de biomas, aquecimento global, perda de biodiversidade, elevação do nível dos mares, falta de água potável para um BILHÃO de pessoas e por aí vai. Na contramão das cornetas que tocam dos quatro cantos, o atual império do norte, despeja bilhões de dólares em armas na “terra das armas de destruição em massa”, o sistema financeiro internacional arrota caviar no café da manhã, o superávit brasileiro só faz crescer, que nem as filas do INSS e dos hospitais de nossa bela cidade. Nessa bagunça toda, só para aumentar a pressão do fundamentalismo, a onda criacionista só faz crescer na cabeça dos que não residiam há 65 milhões de anos naquela bela manhã, quando uma pedra vinda do espaço se esborrachou na atual península de Yucatan e abriu espaço para a tomada do planeta pelos mamíferos a “imagem e semelhança de Deus”.
Não pensem que a irresponsabilidade e a boçalidade seja apenas uma característica das “auturidadis” brasileiras, isso é que nem praga, espalhada por todo o mundo, onde pela boçalidade e projetos políticos de uns poucos, cidades, nações e quem sabe se não tomarmos vergonha na cara, planetas inteiros são transformados em desertos.
Estou apocalíptico demais? Talvez seja ainda conseqüência do filme do Mel Gibson sobre a Paixão de Cristo. Confesso que após acompanhar o flagelo daquele Homem que acreditava no que dizia e principalmente contrariava os interesses econômicos locais, percebi que não mereço ser chamado de cristão. No meu entender ser Cristão é um estado de espírito muito distante do que encontro dentro de mim e vejo por aí afora, um estado de certeza invejável, um alívio dentro de um mundo envolto num processo suicida de usar até acabar, onde sobram boas intenções, discursos e o que realmente importa é o poder, seja ele das armas, das influências, do dinheiro e do consumo. Não consigo ver aquele Homem nem a sua Mensagem, nas construções e ações dos homens, em sua imponência e riqueza. Consigo na verdade sentir algo nos mergulhos, quando fecho os olhos, deito no fundo arenoso e ouço o som do mar, quando de fato sinto uma presença, ou várias, longe da suntuosidade e das pretensões humanas. Do filme da Paixão, ficou uma enorme admiração por Aquele que acreditou de fato no que dizia e de fato fez a diferença na prática bem como um imenso vazio por eu estar tão longe Dele.
Tenho uma certeza, temos de reagir à boçalidade e a impunidade que pode em pouco tempo nos destruir, de forma progressiva expulsando democraticamente a corja que insiste em comprometer nosso futuro e o de nossos filhos. Talvez seja por aí um bom caminho de mostrarmos na prática que queremos seguir alguns dos ensinamentos Dele.
Infelizmente dessa vez Pai não nos perdoe, pois sabemos muito bem o que fazemos e deixamos de fazer.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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