bocadomangue Mario Moscatelli

NAUFRAGANDO EM FEZES

Incrível nossa capacidade de sermos currados sem esboçar a mínima reação!

Lendo “masoquisticamente” de forma diária a mídia em geral, você pode acompanhar em tempo real a desintegração moral, política e ambiental de boa parte das coisas que nos cercam.

Varia do nepotismo escancarado, escroto sem medo de ser feliz do poder legislativo, do aumento das verbas de gabinetes dos deputados, no maravilhoso mundo de Brasília que chega, salvo engano, a ordem de 50.000 mil reais por deputado, da festa do corporativismo onde deputados que tentam extorquir bicheiro, segundo informações disponíveis na imprensa, acabam sendo absolvidos ou em processo de redenção em nome de deus.

Um deus com d minúsculo, diferente com certeza do meu, enfim uma bacanal com aquilo que se chama dinheiro público para quem paga e lixo para quem gasta.

Enquanto isso a cidade do Rio de Janeiro, continua o ícone do quanto pior melhor, visto que nos transformamos no palanque das três correntes partidárias interessadas em se “sacrificarem” em nome da pátria que nos pariu.

Do lado municipal o PFL dos coronéis, do estadual o PMDB do Garotinho e a nível federal o PT saudações, cada um rezando e armando para que os outros dois se arrebentem, tudo de olho nas eleições do ano que vem. No meio de todo esse interesse cívico da classe política está a população, vítima da violência descontrolada, vítima da saúde sem saúde, onde a CPMF sabe-se lá para onde vai parar, a educação sem professores, ou com eles recebendo salários aviltantes, vítima de sua própria incapacidade de revoltar-se e colocar essa corja de incompetentes para trabalhar.

Enfim fica a pergunta o que funciona nessa porra toda? Com certeza o dia de pagamento dos polpudos contra-cheques mensais de nossa amada classe política, de seus aspones, amantes e demais associados, numa democracia onde, como já comentei, se você atrasar um dia algum imposto, é mora, multa, dívida ativa, enquanto que se é o poder público que deve, aí você recebe o tal do precatório, com o qual o nosso governo do Estado está tão acostumado a “pagar” suas dívidas, que só tem valor na casa da mãe Joana.

E o tal do meio, ou melhor 1/5 de ambiente? Tanto localmente, é só chover que as praias ficam aqueles piscinões de MERDA, onde nossos administradores públicos deveriam ser obrigados a colocar suas famílias e baba-ovos a pastarem. A Princesinha do Mar, transformada em Geni com dois gigantescos pênis negros (deixou de ser língua), iguais aos que defloram a praia de São Conrado, onde as tais obras de saneamento da MERDA que desce da Rocinha e periferias serão finalizadas para a próxima reencarnação.
Da baía de Guanabara vem uma boa notícia com a dragagem pela SERLA de vários valões que deságuam no canal do Cunha, mas o tal PDBG continua naquele marasmo de sempre. Na baixada de Jacarepaguá o processo de saneamento da região, também continua naquela tragicomédia onde filho feio não tem pai, nem cronograma e onde se eu puder dificultar para que vou facilitar.

Na linha do filho feio, algumas lideranças da região não gostaram da ação da SERLA, mais uma vez, visto que parece que o único órgão ambiental do Estado que funciona plenamente é ele, que alertou os condomínios que não vêm efetuando adequadamente o tratamento de seu esgoto que terão um mês para fazê-lo. Foi o suficiente para essas lideranças se revoltarem e afirmarem que as estações funcionam sim e quem polui as lagoas tanto são as favelas como a estatal CEDAE.

Pois bem, minha posição nesse assunto é a seguinte: 1- A poluição na baixada de Jacarepaguá é democrática, isto é, vem da favela, do loteamento, do condomínio, vem do shopping, vem do hospital, vem do Estado, do Município, enfim todos temos culpa por ação ou omissão. 2- É claro que existem situações nas quais as estações funcionam plenamente, em outras não funcionam, funcionam mal e por aí vai. Não dá para generalizar tanto que nenhuma funciona, como também que todas são uma maravilha. 3- Mesmo que todas funcionassem 100%, o seu sistema não teria capacidade de neutralizar o processo de eutrofização que ocorre no corpo lagunar, visto que nitrogênio e fósforo continuariam junto com bactérias e vírus a serem lançados nas águas lagunares. Se muito haveria uma redução da DBO, mas que no atual estado de degradação, não teria muita relevância. 4- Alguns novos shoppings têm adotado sistemas praticamente fechados, isto é, de reutilização da água previamente tratada em torres de refrigeração ou mesmo na irrigação das áreas verdes, reduzindo sensivelmente sua contribuição no processo de degradação. 5- É fundamental, é obrigação do poder público, diga-se, Fundação Rio-Águas, SMAC, SERLA, CEDAE, FEEMA e IBAMA, atuarem fiscalizando o lançamento de esgoto in natura ou fora dos padrões determinados por lei.

Não á favor, é OBRIGAÇÃO! Foi aí que parei para ver uma matéria na TVE (21/04/05) sobre esse assunto, quando vem um funcionário da SERLA ao vivo e diz que o objetivo da SERLA não é punir nem multar ninguém e sim conscientizar, blá, blá, blá...... Espera aí, quero que a PM também tenha a mesma postura quando pegar alguém sem ter pagado o IPVA ou a Receita Federal pegar algum sonegador, isto é, conversar, conscientizar, tudo muito lúdico e educativo.

Enfim o que ficou claro é que a SERLA colocou o galho dentro diante da reação das lideranças locais. Não adianta, esse papo de meio ambiente é muito bonito na televisão, agora colocar na reta e encarar essa maldita herança colonialista de usar até acabar, aí é que são elas, principalmente em ano pré-eleitoral. Enquanto o poder público declara que vamos rever nossas avaliações e que estamos aqui para educar, a MERDA corre solta para as lagoas.

Minha posição é clara, para resolver esses impasses no saneamento da baixada de Jacarepaguá, deve-se se criar uma câmara técnica juntando todos os órgãos envolvidos, capitaneados pelo MP Federal, visando resolver lá dentro qualquer pendenga de licenciamento. O resto é conversa para contribuinte idiota sonhar que um dia tudo vai dar certo.
Para não ficar só na bronca de sempre, queria indicar que há caminhos sólidos a serem percorridos no âmbito pessoal e coletivo. Semana passada, COMLURB, shopping Cittá América e alunos da Univercidade em mutirão, iniciaram o replantio de 1.500 metros quadrados de manguezais degradados da lagoa da Tijuca. O custo dessa recuperação? Talvez R$ 2.000,00, muito suor e vontade de ajudar, onde todos estavam unidos no sentido da recuperação de um pedaço de nossa querida cidade. O trabalho ainda não acabou, mas tenho a certeza que conseguiremos abater com essa e outras iniciativas semelhantes às promissórias vencidas de nossa culpa por tanta degradação.

Finalmente gostaria de fazer pública minha indignação em relação à correspondência recebida do Conselho Regional de Biologia, datada de 05/04/05, onde sou informado que tenho um único débito em aberto referente à anuidade de 2004 e tenho 30 dias para resolver a pendência (até aí tudo bem), caso contrário (aí que carregaram na tinta) “O não cumprimento da exigência acima mencionada, implicará na inscrição do débito em dívida ativa, bem como na abertura de Processo Ético-Disciplinar, que ao final poderá acarretar na aplicação da pena de Suspensão do exercício profissional pelo prazo de dois anos e, posteriormente o seu Cancelamento”.

Inicialmente gostaria de publicamente informar que tenho achado no mínimo tímida a ação do CRBio2 nas gravíssimas questões ambientais que assolam o Estado do Rio de Janeiro nos últimos anos, diferente da atuação do CREA, sempre presente em situações ambientais de importância local e regional. Os escândalos envolvendo os licenciamentos ambientais fraudulentos da FEEMA, os salários que ridicularizam os biólogos em órgãos públicos, e principalmente a falta de uma clara política de meio ambiente para nosso Estado, nas três esferas do poder executivo não tem parecido ser uma preocupação prioritária de nosso CRBio2. Ao contrário, copiando o procedimento normal do poder público, seu setor de cobrança só faltou, me condenar ao pau de arara e à fogueira, caso não acerte a conta pendente de 2004 com o CRBio2. A

credito que textos como o que recebi, não ajudarão em nada a arrecadação do CRBio2, mas na verdade aumentarão a descrença dos biólogos para com seus dirigentes de classe, entre custos e benefícios de sua existência. Sinceramente eu espero muito mais do que uma publicação periódica recebida em casa do CRBio2 bem como de cartas ameaçadoras. Tenham certeza que da mesma forma que acredito na importância de um Conselho Regional de Biologia forte e atuante, vou saldar minha dívida com o CRBio2, de uma única anuidade, vou cobrar pelo dinheiro pago a essa entidade de classe no sentido da mesma mostrar mais disposição nas questões de ordem ambiental e de classe no Estado do Rio de Janeiro.

Acordem biólogos, a noite se aproxima!

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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