NAUFRAGANDO EM ÓLEO
Após várias tentativas de “asfaltar” a baía de Guanabara nos acidentes causados em 1997 e 2000, agora o ataque vem de cima, isto é, do pobre rio Caceribu, um dos menos contaminados da bacia hidrográfica daquela baía. A empresa que gerencia a linha férrea comunica, segundo o que está na mídia, que foram inicialmente 30 mil litros, os órgãos de meio ambiente disseram que foram 100 mil litros, agora (28/04) são mais de 60 mil, isto é pode ser 200, 300 ou sabe-se lá quantos “mils”. A empresa diz que avisou imediatamente, os órgãos ambientais afirmam que não foi bem assim e mais uma vez, como todas as outras vezes “filho feio não tem pai”. Dentro deste contexto quem paga mais uma vez pela falta de capacidade gerencial de dar conta das atividades potencialmente poluidoras que por acidentes podem causar danos ao “1/5 ambiente” são nesse caso, os rios, manguezais e a baía.
4-Além da obrigação de reparar os danos ambientais, econômicos e sociais, causados pelo desastre, o valor das multas aplicadas pelos órgãos ambientais será aplicado imediatamente na região do desastre ou vai desaparecer nas engrenagens burocráticas do poder público executivo? 5-Os órgãos ambientais têm fiscalizado periodicamente as principais, maiores fontes potenciais de poluição da baía de Guanabara? Existem relatórios dessas vistorias? 6-Se nesse exato momento acontecesse um desastre de grandes proporções em algum terminal de petróleo ou navio petroleiro nas baías de Guanabara ou da Ilha Grande, as empresas envolvidas nesse exato momento teriam equipamentos e pessoal suficientes para dar combate ao processo de degradação? Dar opinião depois que acontece a desgraça sempre é fácil, só que em nosso Estado, em virtude do sucateamento das estruturas de fiscalização e licenciamento, a degradação anunciada sempre está a um passo de acontecer na realidade. Foi assim em 1997 e em 2000 nos vazamentos dos dutos da Petrobrás, foi assim nos diques da empresa Ingá Mercantil que por inúmeras vezes vazaram metal pesado que nem peneira para os manguezais e águas da baía de Sepetiba, foi também nas mortandades de peixes em 2000, 2001 e 2002 na lagoa Rodrigo de Freitas onde enquanto a CEDAE negava o óbvio, depois por exigência do Ministério Público Estadual, ficou constatada que a rede de esgoto da região era outra verdadeira peneira e onde “o valor médio anual dos gastos realizados nos últimos quinze anos (1987-2001 / R$ 1,69 milhões) é equivalente a menos de 1% do faturamento operacional anual estimado para área de estudo em 2001” (Consórcio Fundação COPPETEC & Logos Engenharia S.A), isto é, faturar até acabar. Enquanto
a impunidade e a falta de gerenciamento se perpetuarem e
se ampliarem numa espiral sem
fim, diante de uma sociedade apática onde como diz a
propaganda “o melhor do Brasil é o brasileiro” que paga
não
recebe e fica quietinho no seu cantinho, o melhor é ir pensando
em se mudar para algum lugar onde de fato os impostos que você paga
diariamente sejam revertidos para a melhoria de sua qualidade de vida,
onde o poder público
por omissão ou ação não seja um dos protagonistas
da degradação ambiental e onde as leis sirvam para colocar
degradadores e administradores públicos omissos em cana. Acordem biólogos, a noite chegou, pelo menos para o rio Caceribu e seus manguezais. Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br |
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