bocadomangue Mario Moscatelli

KATRINA, LATRINA E CIA.

Tanto lá como cá, a Natureza já de saco cheio de tanto ouvir falar às suas custas de economia, vem claramente, apesar de todos os avisos que teimamos em desacreditar, mostrando mais uma vez que não é Ela que precisa de nós e sim nós dela como bem exemplifica historicamente em diversos casos o livro Colapso.

Vendo e somando as imagens dos estragos materiais causados pelo Katrina, pelos corpos boiando nas águas fétidas, pelas cenas de completo descontrole da autoridade pública de lá, diante da barbárie que se instalou nas diversas cidades assoladas pela fúria dos ventos e da chuva, o rompimento dos diques, a inundação da cidade por água contaminada, estupros, saques, assassinatos, a fuga dos que puderam fugir, depois a vinda de Rita, com as imensas rodovias completamente engarrafadas, veículos abandonados por falta de combustível e mais destruição.

Literalmente parecia que eu estava assistindo um daqueles filmes catástrofe que os norte-americanos tanto gostam de fazer, tal como “Impacto profundo” ou “O dia de amanhã”. Enquanto isso, a autoridade máxima de lá que não titubeia em enterrar bilhões de dólares numa guerra baseada na procura das armas de destruição em massa que nunca foram achadas, com aquele “sorriso de aeromoça” típico dos que não perderam nenhum parente, assume os erros cometidos e sai distribuindo apoio financeiro para os sobreviventes. Enfim, político é político seja lá como cá, e o que interessa para essa gente doente, é como a imagem deles ficou na mídia bem como isso pode se refletir no seu futuro político.

Enquanto lamentamos a perda de vidas decorrentes dos furacões, não esqueçamos que a nação norte americana é a que mais consome energia, a principal poluidora do planeta e NEGA-SE em nome de sua ECONOMIA, em reduzir suas emissões de poluentes. Pois bem, se não há nação no mundo que possa enfrentar o frenesi auto-suficiente da nação norte-americana, então a Natureza o fará, visto que a mesma não se defende, se vinga.

É sempre bom lembrar às autoridades de lá, que há coisa de uns dois anos o pentágono, produziu um relatório, no qual o mesmo alertava a quem tivesse algum tipo de responsabilidade, que o tal terrorismo, eixo do mal eram “fichinha” diante do que estava por vir em detrimento das alterações climáticas globais. Parece que o tal documento deve ter servido para limpar as dependências sanitárias, pois mais uma vez, pouca gente de lá deu ouvido ao tal documento.


Por aqui, continuamos torrando nossos biomas por “superávits” crescentes, principalmente trocando biodiversidade por extensas monoculturas, igualzinho como fizemos com os ciclos de cana-de-açúcar, café e agora com a soja e não investindo praticamente NADA em obras de saneamento. Não esqueçamos que uns CEM MILHÕES de brasileiros não possuem sistema de saneamento e por isso nossos “ótimos” hospitais públicos ficam abarrotados por doenças de veiculação hídrica que poderiam ser evitadas se as autoridades de cá, não pensassem apenas na economia dos “superávits”, visto que mesmo pensando só nela, deveria ficar claro para as autoridades de cá, que segundo os “experts” para cada dólar investido em saneamento, economizam-se três dólares em saúde. Mas infelizmente eu sei, você sabe mas essa informação ainda não chegou aos caciques que tudo decidem. Enquanto isso, desconta-se CPMF, os hospitais continuam uma M., gente morrendo nos corredores e todo mundo faz de conta que está tudo normal.

Voltando para a biodiversidade, estima-se que existam aproximadamente 14.000.000 de espécies animais e vegetais em todo o planeta das quais conhecemos umas 1.700.000. Os números podem diferir entre os especialistas, mas de uma coisa não se tem dúvida, estamos no Brasil, torrando biodiversidade como se fosse mais uma vez dinheiro público, como se não valesse NADA, tanto filosoficamente mas principalmente economicamente, visto que segundo informações extra-oficiais, de nossa megadiversidade apenas conhecemos de fato 1%.

Fico olhando para os manguezais, restingas, costões ou quando mergulho para o fundo do mar e fico imaginando que na minha frente podem estar as moléculas que são a solução para tantos sofrimentos humanos, mas no entanto continuamos destruindo aquilo que nem conhecemos. Enquanto isso, nossa biodiversidade deve muito provavelmente estar sendo exportada pela eficiente biopirataria para o primeiro mundo, onde deverá ser devidamente patenteada e vendida para os idiotas daqui por meio de remédios e outros produtos.

Finalizando a cidade do Rio de Janeiro, “cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”, continua com sua sina fecal lagunar e praiana, onde ninguém se entende com ninguém e as lagoas e praias continuam sendo usadas como latrinas pelo “puder púbico”.
Ao olhar para a lagoa Rodrigo de Freitas, acabo encontrando mais uma nova espécie de ave e sinto claramente a certeza que se déssemos apenas uma chance, poderíamos avançar num lento mas certeiro processo de recuperação ambiental dentro de uma ótica de gerenciamento econômico e ambiental de fato sustentável de nossos recursos ambientais. No entanto quando olho para cima e vejo a Rocinha transbordando pelo maciço da Tijuca e assisto ao que acontece em Brasília, a ausência de políticas claras e factíveis de meio ambiente, planejamento familiar, transporte, saúde, educação, tenho a triste certeza que tanto lá como cá, nossa apatia não nos dará chance enquanto não selecionarmos melhor os administradores públicos e que enquanto isso nosso destino continuará sendo a latrina.

Mais uma vez, a decisão é só nossa........

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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