bocadomangue Mario Moscatelli

CANSAÇO

São 00:32 de sexta e estou ainda sob a forte pressão do que assisti e participei na primeira audiência pública a respeito do tombamento da APA de Marapendi.

Reitero minha posição contrária em relação ao tombamento de uma Área de Proteção Ambiental. Tecnicamente não encaixa, por melhor que tenham sido as intenções do deputado estadual responsável pela proposta e que agora eu até compreendo sua estratégia. Mas por mais que me esforce não aceito. Inviabilizar a ocupação de uma Área de Proteção Ambiental é na prática em seu lugar criar uma Reserva Biológica ou Estação Ecológica, tipos de unidades com finalidades completamente diferentes para as quais foi criada uma APA.

Enfim depois de muita explanação, onde infelizmente QUASE NINGUÉM consegue ser objetivo em suas colocações, respeitando a paciência alheia e rodeando pelos mais variados assuntos por inúmeros e infinitos minutos, onde se apertar bem às quatro horas de parlatório, as mesmas poderiam se condensar em meia hora de fato de informações e propostas, onde no final acabei me estressando além da conta.

Inicialmente acredito que um grande número de pessoas que freqüentam essas audiências, de fato, entendam muito pouco do que se está falando do ponto de vista técnico. Sente-se no ar claramente aquele tiroteio de informações onde muitas vezes a audiência vira palco de autopromoção ou mesmo, terapia em grupo.

Depois de democraticamente ter ouvido longas e cansativas explanações sobre os mais variados assuntos, chegou minha vez de falar e confesso que acabei me destemperando na minha curta explanação.

Ando com nojo de alguns desses que considero “ambientalistas de auditório” que de vez em quando me torram o saco de noite me pedindo que interceda sobre esse ou aquele problema. Quando pergunto, o porque deles não se mexerem, inclusive repassando-lhes telefones dos meios de comunicação, os mesmos dizem que não gostam de se expor na mídia. Mentira! são um bando de cagões, que preferem colocar o dos outros na reta, e ficar de longe com a tal consciência ecológica tranqüila vendo o circo pegar fogo. Não foram poucas as vezes que de todo o lado choviam denúncias, e que quase praticamente ninguém que denunciava se dispunha a enfrentar o inimigo de frente. CAGÕES, isso é o que vocês são!

Pois bem, outro problema grave nessas discussões é que quando começam, nunca existe o tal maldito cronograma, isto é, quando é que vai se chegar à alguma conclusão? Se você não acreditar em reencarnação e se por acaso propor o palavrão conclusão, quase que te enchem de porrada, te chamando de fascista, comprado, etc. É incrível como o Brasil contraria a lei básica do UNIVERSO: início, meio e fim. Fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se, fala-se e aí porra? Qual a conclusão? Vocês podem ver no que está dando além de algumas renúncias de mandato, esse tsunami de CPIs. Estamos chegando ao GRAN FINALE onde tudo que se gastou com dinheiro do contribuinte não vai dar, salvo engano, em PORRA NENHUMA, em mais um estelionato para com a nossa cidadania.

Então lá fui eu falar que não concordava com o tal tombamento e que sugeria ao parlamentar que retirasse das proximidades da governadora, o documento de tombamento, para que o mesmo pudesse ser discutido com maior calma e tendo é claro um cronograma, no que fui interpelado pelo parlamentar sugerindo que também não ocorresse nenhuma edificação nesse período, com o que concordei plenamente. Mas claramente senti que o clima estava cada vez mais quente, quando vi o que me deixou destemperado.

Aquela cara lá no final do plenário de discordância como que eu estivesse falando a maior asneira de minha existência. Tudo bem, ninguém precisa concordar com aquilo que eu falo, nem em casa consigo unanimidade, mas sabe de uma coisa, ando cansado de como já disse anteriormente ter de agüentar estes autodenominados “ambientalistas”. Quer saber de uma coisa, outra coisa que também não suporto é ser chamado de ambientalista! Estudei por quatro anos Biologia e depois fiquei por quatro anos no mestrado em Ecologia, então desculpem, mas o que eu sou, além de um idiota que paga impostos é BIÓLOGO OU ECÓLOGO! Não sou açougueiro, não sou médico, não sou porteiro, eu sou BIÓLOGO e como tal na especialidade na qual trabalho, convivendo diariamente, como já disse em artigos anteriores, com áreas podres, esquecidas pelo poder público, pela sociedade e pelos tais “ambientalistas de auditório”, onde só consigo ressuscitar tais áreas, em decorrência de exigências do Ministério Público em Termos de Ajuste de Conduta de VERDADE com as empresas privadas, onde se rala muito no meio do lixo, esgoto e muitos, muitos cadáveres nos mais variados estados de putrefação, sem cabeça, sem mãos, todos escancarados, servindo de comida para caranguejos e urubus. Detalhe, nesses lugares eu NÃO VEJO esses AMBIENTALISTAS DE MERDA, digo de auditório.

Depois da finalização dos debates fui procurado por algumas pessoas e mais calmo ouvi algumas ponderações. Em resumo ouvi que a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro é , onde diversos vereadores são um bando de CANSAÇO e que é INCONSTITUCIONAL a alteração dos padrões de ocupação da APA sem as devidas consultas à sociedade etc, etc. Tá bom, então vamos botar para quebrar, respondi. O que de imediato me foi contraposto que não adianta, que isso e aquilo, que a justiça é uma e etc, etc e que o ideal é o tal tombamento para se ganhar tempo e discussão sobre o assunto, pois aquilo que se “tomba se destomba”.

Infelizmente, confesso que fiquei tonto, com nojo, chateado, lembrei da lagoa da Tijuca com seus 16 milhões de coliformes fecais, 6 milhões de metro cúbicos de lama e lixo, treze sofás e poltronas, seus inúmeros pneus e tvs, as dragas paradas, o saneamento de arrastando, o Pan Demônio chegando, as algas tóxicas, o valérioduto, as gargalhadas dos políticos e eu cheguei a uma conclusão: Estamos ferrados!

Ouvi também de gente que usa a questão ambiental para a proteção de sua privacidade repreensões, enfim uma sacanagem de todos os lados e eu ouvindo e lembrando mais uma vez do rio Sarapuí, Iguaçu, São João de Meriti e aquele zum-zum na minha cabeça que não para até agora.

Hoje eu precisava conversar com meu querido pai. Infelizmente não tenho a menor idéia onde ele esteja, ou se está em algum lugar além de dentro das minhas células. Mas está, e não é de hoje fazendo muita falta, principalmente seus conselhos que eu nunca seguia, mas que me faziam um bem danado.

Hoje eu realmente estou cansado, de tudo...........

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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