bocadomangue Mario Moscatelli

. . . O PODER NÃO CORROMPE, APENAS REVELA

 

Foi com essas palavras que uma nova dimensão de entendimento da realidade social, política , econômica e ambiental tanto local como global se abriu em minha mente nesta semana. Fantástica a reação emocional do que algumas palavras articuladas podem fazer sobre os espíritos em constante convulsão. Por muito tempo a frase “o poder corrompe” funcionou como uma linha divisória para os que ao possuir algum tipo de poder, um fantasioso infinito poder, se dobrariam em virtude de seu avassalador e irrecusável preço, isto é a corrupção daquilo que você acreditava, naquilo que você se inspirava antes de provar do veneno.

A provável verdade é que na maioria dos casos, quem se dobrou ao peso do poder, já estava dobrado ao mesmo, há muito tempo, apenas não havia tomado consciência de sua fragilidade moral ou nunca, até então, havia sido colocado sob o fogo cruzado das possibilidades espúrias e da certeza da impunidade.
Ouço Tears for Fears na maior altura e freneticamente fervem na minha mente os ensinamentos de meus pais e professores, bem como dos sucessivos escândalos que se multiplicam exponencialmente a cada semana que se passa. Fico imaginando o que poderia ter sido feito com os TREZENTOS MILHÕES DE REAIS que docilmente sem licitação nosso governo do estado do Rio de Janeiro entregou para ongs.

Soma-se ao meu frenesi mental o possível envolvimento de aproximadamente 1/3 dos deputados do congresso nacional na máfia das ambulâncias superfaturadas, lembro do mensalão, dos bizarros depoimentos de políticos, marqueteiros, aspones e das sucessivas absolvições. Me desespero ao lembrar do fosso amoral que a classe política cava todo dia com nossos recursos com a mais despudorada certeza que não vai pegar NADA para eles.

O som fica mais alto, relembro a pateticidade do rosto do pai da jornalista morta pelo assassino confesso, condenado e saindo escoltado pela polícia do fórum em direção à sua casa, livre, leve e solto, baseado no legitimado ESTADO DIREITO DE MATAR assegurado pelo capicioso emaranhado de leis brasileiras.
Sinto o odor de podre que há sete dias invade a baixada de Jacarepaguá, o saneamento que não acaba, as favelas que não param de crescer e Tears for Fears tocam sem parar, onde o que me atordoa é a capacidade de nossa sociedade absorver todo esse fosso de miséria humana sem nem ao menos se coçar, esboçar qualquer reação.

Acesso a internet e vejo on line a cidade de São Paulo em guerra civil, enquanto patéticos políticos discutem o que fazer em momento político e eleitoral tão delicado. Paralelamente a isso o número de mortos e ônibus incendiados só faz crescer, paralisando a maior metrópole da América Latina, onde a única certeza em meio à tanta dor e impunidade, é que todos nós, estamos colhendo o que plantamos durante décadas de descaso com a educação.

No interesse de imbecilizar para dominar, militares da ditadura e mercenários civis disso que chamamos de democracia, conseguiram seu intento, ou seja gerar 73% dos brasileiros adultos tecnicamente analfabetos e portanto incapacitados de reagir à altura de tanto e profundo desmando.

O ovo da serpente sempre esteve lá. Chocamos muito bem ele, com aquele conhecido jeitinho de deixar para lá, lacrando portas, contratando seguranças, se escondendo dentro de condomínios, atrás de grades, consumindo entorpecentes só de onda, entupindo prisões até superlotarem, transformando gente em sabe-se lá o que, não investindo em educação pelos motivos já explicados, até o dia em que o ovo quebrou e dele nasceu isso que vemos.

Isso ainda não é o CAOS, apenas um aperitivo do que pode vir se não virarmos a mesa democraticamente enquanto ainda houver tempo.

Em momentos excepcionais, precisamos de medidas excepcionais tomadas por homens e mulheres excepcionais. Infelizmente no momento só temos os momentos excepcionais......

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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