bocadomangue Mario Moscatelli

E A REVELAÇÃO CHEGOU...

 


Lembro daquele antigo samba da Beth Carvalho que dizia: “A Natureza está clamando / de tanto lutar não resistiu / e a poesia está chorando sobre o corpo do Brasil / As matas sumindo de nossa bandeira / o ouro cruzando as fronteiras do mar / o azul é só poeira / o branco em guerra está / e o nosso índio tombou / pouca gente lutou pela sua defesa / e o canto dos pássaros se calou / e o leito dos rios secou / o país todo é uma tristeza / e poeta que sou / num canto de dor / eu choro pela Natureza .....” Pois é, e essa música quase que profética era cantada por mim e pelos amigos do ginásio Guido de Fontgalland lá pelo ano de 1978, período em que defender a tal Natureza no mínimo era coisa de bicho grilo e acabava sendo encarada pelo regime militar como ato subversivo.

Sempre fico fazendo autocrítica para ver se eu não ando excessivamente apocalíptico seja em minhas aulas e nas minhas catarses. O problema que com essa mania de ficar fuçando tudo que é publicação, indexadas ou não, progressivamente tenho a certeza que eu sou é extremamente conservador em minhas conclusões. Quando sobrevoei a região metropolitana na semana do meio ambiente de 2006, para dar uma olhada no que estava acontecendo, o que se vê lá de cima é como de praxe estarrecedor. Vamos didaticamente por partes:

1- As favelas se proliferam sem qualquer controle, mas sempre chama a atenção seu crescimento em áreas de manguezais e apicuns, tanto pela cara de pau das ocupações como da passividade desta merda que chamamos de poder público que não faz nada para reverter o quadro. Exemplo disso é o que se vê na faixa marginal do “rio” Piraquê-Cabuçú (um valão de esgoto) que tem sua foz na baía de Sepetiba (pinico) bem como nos manguezais e apicuns ainda existentes. É barraco sendo construído dentro dágua, mangue sendo cortado e vias sendo abertas em pleno apicuns. Incrível como nenhum ambientalista cheiroso(a) ou ongueiro(a) de auditório se mobiliza para falar, denunciar e ter seus dois minutos de fama como protetor(a) do meio ambiente, etc. É como se não estivesse acontecendo nada, onde ninguém vê, ninguém denuncia, ninguém fiscaliza, ninguém nada. O detalhe mais promíscuo ambientalmente é que essa zona toda acontece do lado da Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba sob a “tutela” do Instituto Estadual de Floresta que não gerencia nada, pois não tem infra-estrutura alguma nem de pessoal nem material.

2- Chega-se na baía de Guanabara no município de Duque de Caxias e os manguezais mais uma vez são tragados por aterros efetuados pela prefeitura local, bem como por lixões e favelas. Você vê algum controle dos órgãos ambientais federais, estaduais e municipais? Se você vê me avisa, pois lá do alto a zona está comendo solta. Vai ver que o lugar é muito fedido e ninguém quer se aventurar também num lugar tão perigoso!

3- Passando pelo município de Seropédica fica-se de boca aberta vendo-se que no ponto de captação da água que nós recebemos em casa, após tratamento efetuado pela CEDAE, desembocam dois “rios” (valões de merda) produzindo um bucólico cenário fecal. Não dá para entender como ninguém mais uma vez faz nada para com aquele atentado à saúde pública de aproximadamente, salvo engano, de 70% da população da região metropolitana. Eu sinceramente não sei o que o pessoal da CEDAE deve fazer para transformar aquele patê de fezes em água potável.

4- A baía de Guanabara progressivamente encolhe com o assoreamento na foz dos “rios” que deságuam seu conteúdo pútrido na mesma. Calculo que na foz do Sarapuí-Iguaçú deve ter uma ilha de lama de uns um milhão e trezentos mil metros quadrados, lentamente engolindo a pobre baía. Suas águas pútridas durante os períodos de maré-baixa lembram as manchas da superfície de Júpiter com aquelas cores e criações psicodélicas dos anos sessenta. Das estações de tratamento que por enquanto não tratam, literalmente quase merda nenhuma, visto que a caca ainda não tem como chegar às estações, pequeno detalhe à cargo do nosso “mui” profissional governo do estado do Rio de Janeiro que não instalou os troncos coletores, sai uma água mais podre do que a que chega “in natura” pelos rios e canais. Enfim é um cenário kafkaniano produto do governo da “família adams” e de nossa total e completa apatia. Complementando o cenário, aproveitamos para verificar a marina da Glória, ponto turístico e importante apoio para as provas dos jogos Pan Americanos. Pois bem, de duas galerias de águas “pluviais” em pleno dia de sol, jorravam dois rios de fezes, sem falar na foz do pobre rio Carioca, outra imensa cloaca. Está lá, é só parar ver e sentir o cheiro de merda descendo de tudo que é cano que desemboca em qualquer corpo dágua da cidade e mais uma vez ninguém diz ou faz nada.

5- Finalmente na baixada de Jacarepaguá, mais uma vez tenho a amarga certeza que nossa grotesca classe política junto com os marketeiros de plantão, nos fizeram de otários com essa história que os jogos Pan Americanos iam ajudar a cidade do Rio de Janeiro, nisso e naquilo outro. Até pouco mais de um ano para os tais jogos, melhora mesmo, só se for no bolso de alguns, porque para a cidade até agora, ambientalmente falando, mais uma vez nada. As lagoas da baixada continuam um privadão e seus rios a mesma coisa. Solução que é boa nada até o momento. Por mais incrível que pareça, cortando a vila Pan Americana, existe um valão de esgoto privativo para os “atretas” se prepararem para as provas de sobrevivência em nossa cidade.

Aí passo eu diante da banca de jornais de manhãzinha onde paralelamente a leitura das últimas notícias como meu pão de batata misto com aquele maravilhoso mate gelado quando bato na manchete da Veja (21 de junho/2006) onde está estampada a seguinte frase:“OS SINAIS DO APOLIPSE – O degelo dos pólos nunca foi tão violento; - Ciclones agora açoitam o Brasil; - Os desertos avançam rapidamente; - O nível dos oceanos ameaça cidades”.

Penso em minha prole, o pão de queijo desce atravessado, eu me engasgo. Tomo um gole de mate e compro afoitamente a revista que de imediato é digerida pelos meus nervosos neurônios.

Leio e sinto uma tristeza profunda misturada com uma certeza amarga que tanto nas lagoas da baixada como nas baías de Sepetiba e Guanabara como em todo esse frágil planeta acabamos de acordar o monstro com nossa míope arrogância e agora temos de retardar e reduzir as conseqüências do que fizemos na hora errada e deixamos de fazer na hora certa.
Em resumo a matéria diz o seguinte:

1-O aquecimento global fez diminuir em 20% a calota polar ártica nas últimas três décadas, reduzindo o território de caça dos ursos-polares. Muitos deles ficaram sem alimento. A mudança radical de seu habitat provocada pelo homem está custando caro aos ursos. Recentemente, no Mar de Beaufort, no Alasca, pesquisadores americanos que há 24 anos estudam a região identificaram um caso inédito de canibalismo na espécie: duas fêmeas, um macho jovem e um filhote foram atacados e comidos por um grupo de machos. Estimativas apontam que os ursos-polares podem desaparecer em vinte anos.”

2- Nas últimas três décadas, o total de terras atingidas por secas severas dobrou em decorrência do aquecimento global. Na China, segundo o mais recente estudo da ONU, todos os anos 10 000 quilômetros quadrados em média – o equivalente a metade do estado de Sergipe – se transformam em deserto. Na Etiópia, secas anuais condenam 6 milhões de pessoas à fome. Na Turquia, 160 000 quilômetros quadrados de terras cultiváveis sofrem com a desertificação gradativa e a conseqüente erosão do solo.

3- No Oceano Atlântico, a temperatura da água está meio grau mais alta do que há vinte anos. Esse calor a mais altera o padrão de circulação dos ventos, provocando deslocamento de massas de ar seco para a região amazônica. A mudança impede a formação de nuvens, causando a escassez de chuvas. Em 2005, o fenômeno provocou a maior seca dos últimos quarenta anos na Amazônia. O Rio Amazonas baixou 2 metros. Mais de 35 municípios do Amazonas e do Acre ficaram isolados, sem comida, água, luz ou transporte. A grande seca pode se repetir a qualquer momento.

4-O norte dos Andes é a região de maior concentração de glaciares nos trópicos. Só no Peru existem 3 044 deles. Até a década de 80, essas geleiras incrustadas no interior das cordilheiras, remanescentes da era glacial, permaneciam praticamente inalteradas. Um estudo recente da ONU concluiu que houve uma drástica redução das áreas dos glaciares peruanos nos últimos quinze anos por causa das mudanças climáticas.

5-No Alasca, onde as temperaturas médias do inverno aumentaram 4 graus nos últimos cinqüenta anos, a paisagem se modificou por completo. A camada de gelo que cobre o mar desapareceu em algumas regiões. No passado, 10 milhões de quilômetros quadrados do Oceano Ártico permaneciam congelados durante o verão. Hoje, segundo estudos do Arctic Climate Impact Assessment, a área congelada é pelo menos 30% menor.

6-O excesso de gás carbônico na atmosfera está tornando os oceanos mais ácidos. Isso enfraquece os corais, viveiros do mar, e os plânctons, base da cadeia alimentar subaquática.

AS SEIS PRAGAS DO AQUECIMENTO

Seis mudanças de grandes proporções causadas pelo aquecimento global estão relacionadas a seguir. Todas estão ocorrendo agora, afetam não apenas o clima mas perturbam a vida das pessoas e têm como única previsão futura o agravamento da situação. É assustador observar que eventos assim, de dimensões ciclônicas, sejam o resultado do aumento de apenas 1 grau na temperatura média da Terra, uma fração do calor previsto para as próximas décadas.
• O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.
• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa nova realidade.
• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema veio para ficar.
• O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20 centímetros. Em certas áreas litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU estima que o nível das águas subirá 1 metro até o fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser protegidas por diques.
• Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da superfície do planeta é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao território do Líbano.
• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem anualmente por causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento global. Em 2030, o número dobrará.

E aí, se convenceu que as coisas estão mudando e possivelmente para pior? Se convenceu que quem você ama pode sofrer as conseqüências de nossa apatia diante de uma classe política genocida tanto localmente como globalmente que apenas entende a linguagem da força consciente do voto?

Pois se você não consegue se sensibilizar com tudo o que eu disse ter visto lá do alto como do que dizem boa parte dos especialistas em praticamente todo o planeta, realmente você anda precisando buscar ajuda psiquiátrica e continuar votando nessa merda de políticos que aí estão, pois eu tenho certeza que a seleção natural tem um plano muito especial para você como para os que “pensam” igual à você.

Enquanto isso os gastos militares atingiram o recorde de 1,1 trilhão de dólares no mundo em 2005 e boa parte das atenções do momento estão voltadas para as bolhas do Ronaldinho, para a banha do Ronaldinho, para os cravos do Ronaldinho, para a namorada do Ronaldinho, para o semblante do Ronaldinho etc, etc.
O futuro chegou e com ela a revelação.........

Vocês duvidam do que eu vi lá de cima? Então acessem www.biologo.com.br/MOSCATELLI/fotos.htm

Obs: para os leitores mais delicados, considerem o vocábulo merda, repetido inúmeras vezes, como fezes e ou caca.

Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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