bocadomangue Mario Moscatelli

CIDADE EM CHAMAS

 

A cidade do Pan, com a comunidade do Pan, está pegando fogo!

Ouvindo os aspones de políticos da era pré Pan, que vociferam pela mídia, tudo aparenta tranqüilidade, num lindo processo de inclusão social e emocional, com velódromo, onde a cidade maravilhosa sairá rejuvenescida desse grande evento espetacular, reabilitada de boa parte de seus males seculares, que mobilizará toda nossa população em direção à um sonho de igualdade e fraternidade no “Rio quarenta graus, purgatório da beleza e do caos”.

Que bonito! Que lindo! Tô emocionado! Juro! Infelizmente toda a eloqüência de organizadores, políticos, aspones e puxa sacos não resiste à aqueles malditos sobrevôos que vira e mexe eu faço na região metropolitana por puro masoquismo.

Ninguém que lê pacientemente meus desabafos, tem dúvida que os ecossistemas do bioma Mata Atlântica são protegidos por inúmeros dispositivos legais exclusivamente na teoria. Seja em Jurubatiba dentro de unidades de conservação, seja em Paraty ou em Guapimirim, tudo é uma grande zona e mal gerenciada.
Pois bem, qualquer arrogância acadêmica ou de qualquer dirigente de órgão ambiental ou do que restou dos mesmos bem como de qualquer um que represente alguma estrutura pública que teoricamente deveria estar protegendo os escassos recursos naturais que sobraram em nossa região metropolitana no ATACADO e não procurando no VAREJO fiapos em ovo de codorna, ficariam envergonhados do CAOS no qual estamos nos chafurdando.

A cidade está em chamas! Sobrevoando a baixada de Jacarepaguá como o município de Duque de Caxias, você facilmente encontra lixões aterrando sabe-se lá mais o que, que tenha sobrado diante de tamanha falta de gerenciamento, total impunidade e a mais completa canalhice política diante de um verdadeiro genocídio ambiental.

As fotos mais uma vez estão aí para vocês todos se deleitarem, assistindo de camarote, bem confortáveis a destruição do que sobrou. Estou avisando: Quando chegar lá em cima ou lá em baixo, não adianta dizer que não viu, pois só vai piorar a sua situação diante do Senhorio desta pequena esfera, ainda sabe-se lá por quanto tempo azul.

Em Jacarepaguá, provavelmente uma formação de restinga arbórea é convertida em lixão e futura área de expansão da “comunidadi”, onde dezenas de caminhões compactadores, charretes, kombis e qualquer outro meio de transporte de lixo e entulho extravasa tranqüilamente seus rejeitos na terra da zona institucionalizada. É bonito de se ver o lixo queimando, os urubus voando, tudo na maior paz e tranqüilidade, bem zen, bem na beira da estrada para quem quiser ver. O “probrema” é que ninguém quer ver, ninguém quer se envolver, ninguém quer é porra nehuma!
Quando você chega lá do alto no rio Sarapuí (Duque de Caxias/Belford Roxo – estado do Rio de Janeiro – Brazil – América do Sul - planeta Terra), praticamente todas suas faixas marginais de proteção estão tomadas por favelas que lançam seus “detritos” diretamente naquilo que um dia teve água que nem os condomínios, loteamentos e favelas da baixada de Jacarepaguá.

Vai descendo e aí você imagina uma cena do Matrix na cidade das máquinas, ou como uma metástase invadindo rapidamente, devido ausência de tratamento eficiente, o que restou dos tecidos sãos de nosso paciente do qual dependemos mas insistimos em parasitar até a morte. São dezenas de lixões arrasando brejos e manguezais, fornecendo o futuro território para as próximas expansões das “comunidadis”.

Quando não é o lixão, a própria prefeitura procede à oficialização da degradação, onde salvo engano, a prefeitura de Duque de Caxias, aterra vergonhosamente aos pouquinhos, assim como quem não quer nada, um manguezal situado em frente a rodovia Washington Luiz e ao parque gráfico do principal jornal do estado. É uma total e completa zona!

Aí eu me pergunto, quanta grana que se gasta em operações de fiscalização cinematográficas, com não sei quantos agentes disso e daquilo, carros, helicóptero, submarino, porta-aviões, tudo com muita mídia e holofote é claro, mostrando aquela velha eficiência de horário nobre e no final das contas, pouco resultado prático, visto que só na próxima reencarnação vai ter outra fiscalização no mesmo lugar. Enquanto isso, bem debaixo de nosso nariz, há poucos quilômetros das sedes de nossos órgãos ambientais, a vaca, o caranguejo, o manguezal e a restinga vão literalmente para o aterro.

Ambientalistas de plantão e de auditórios bem comportados e principalmente seguros, alheios à toda e qualquer periculosidade, unam-se, mexam-se não apenas pela orla da praia, da Lagoa ou nos eventos celebrados com artistas ecologicamente corretos em parques vips, visitem o CAOS pessoalmente, façam relatórios, ponham o boca e o que vocês tiverem mais à disposição na reta! Vamos lá, o tempo acabou!

Agora é a hora da boa luta, não se espantem com o cheiro de podre nem com os urubus! Depois de dez anos, vocês também vão acostumar com o cheiro, as imagens e o medo.
Estou amargurado? Vocês acham? Tenho meus motivos. Mas eu não desisto! Reajo!
E vocês?


Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

> Duvidam do que eu vi lá de cima?
Então acessem www.biologo.com.br/MOSCATELLI/fotos2.htm

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