bocadomangue Mario Moscatelli

LIÇÕES DE MAIS UMA COPA

 

Agora que acabou a Copa do Mundo, com ela ficaram muitas lições que com toda clareza podemos utilizar em nosso dia a dia.
A primeira que esse tal “time dos sonhos” é a maior roubada de todos os tempos seja no esporte, na empresa ou no poder público. Ando cansado das vezes que aqui e acolá alguém consegue juntar algumas estrelas e aí o que acaba dando é um baita eclipse!
Não adianta, seja onde for, onde acontece a lastimável alteração da ordem entre o que é o instrumento e o objetivo, na certa vai dar no que deu. Onde o interesse pessoal fica acima do coletivo, onde as marcas, disso ou daquilo se colocam à frente daquilo que o grupo deveria almejar, pode acreditar que vai dar em naufrágio na certa. Reitero que qualquer sociedade que tem por ideal e regra o individualismo, naquela idéia de que “eu quero é me dar bem e que outros se fod......”, o resultado acaba na boate, comemorando a derrota no meio de lindas modelos/atrizes ou em cofres Suíços com milhões de euros/dólares desviados de hospitais, estradas, ambulâncias, meio ambiente etc.

Outra coisa, é que perder faz parte do jogo, agora o que também faz parte do jogo é a postura profissional que qualquer cidadão em qualquer atividade profissional tem que ter. O jogador de futebol que se apresenta num evento esportivo de tamanha envergadura, tem que ter a dimensão de que ele está representando um país/colônia no mínimo estranho, onde poucos são os motivos que de fato conseguem mobilizar milhões de “cidadãos” num senso de união que pouquíssimos ou mesmo quem sabe nenhuma outra razão consegue.

Tem gente que sabe o hino do time mas nem sabe o que é o hino nacional! É uma situação na qual o indivíduo e o coletivo se identificam mais com um timeco do que com seu país/colônia, sendo por isso capaz até de se matar ou matar alguém só por que torce por outra porcaria de time! Agora vê se você sabe de algum motim, revolta ou qualquer reação daquela gente que se assiste na televisão nos estádios se matando, por causa do roubo na previdência, roubo nas ambulâncias, mensalão e mensalinho?

É como se o povão fosse anestesiado para as coisas que realmente importam e por meio da válvula de escape do futebol, exigissem tudo que lhe é devido, numa completa esquizofrenia coletiva.

Mas voltando a Copa, o que se viu naquele pútrido jogo entre o Brasil e a França era o reflexo quase perfeito do que venho esbravejando. A apatia, o jogo burocrático apenas esperando o tempo passar para enfim voltar para suas agradáveis e luxuosas moradias européias, seu carrões de luxo, suas modelos/atrizes, seu eurodólares enfim para a vida que eles, jogadores, realmente merecem. É igualzinho como acontece como os nossos administradores públicos, que tocam a joça dessa colônia, onde quem denuncia, acaba sendo marcado como encrenqueiro e onde quando dá no que deu, ninguém tem culpa. Vocês assistiram à entrevista do jogador do meião? Aquele que devia estar marcando o francês que fez o gol? Segundo ele, não era da responsabilidade dele marcar o francês que entrou na avenida que ele e seus companheiros abriram para o gol europeu. Reitero que o discurso e a prática são IGUAIS à de todos que compartilham religiosamente do sagrado sacramento brasileiro da irresponsabilidade onde “filho feio não tem pai” e onde a responsabilidade do erro é SEMPRE dos outros. E assim eu acompanho há anos todas as desculpas esfarrapadas do poder público a respeito da degradação, sempre em crescimento em nosso estado. NUNCA NINGUÉM TEM CULPA DE PORRA NENHUMA! Vai ver que o culpado sou eu de ver toda a caca acontecendo de baixo e de cima e da minha educação que sempre privilegiou a responsabilidade, palavra pesada mas necessária para quem quer que as coisas mudem e para melhor.

Mais um exemplo recente da irresponsabilidade é o caso da favela do rio Piraquê onde eu mostro a zona lá de cima e o IEF singelamente afirma pela mídia que fiscaliza e fica por assim mesmo. Realmente fiscaliza, merda nenhuma, pois os barracos avançam sobre manguezais, apicuns são drenados e loteados e no mundo oficial, fora da realidade que encontro lá no alto tudo corre como deve correr, isto é, mais um curral eleitoral sendo criado, mais um favelão com milhares de iludidos onde algum espertalhão vai se tornar líder e representante desta cultura suicida de usar até acabar.

Enfim restou-me o consolo por ser filho de uma mãe napolitana arretada, torcedora do Fluminense (as cores são da bandeira italiana), ficar boquiaberto com o jogo entre Itália (trator de objetividade) e Alemanha, e depois com a tríplice vingança sobre a França (1998/2006/expulsão do carrasco).
Fica então para todos nós a lição que quem ganha o jogo, seja de futebol, do meio ambiente, da vida é quem quer ganhar, ganhar, ganhar (NUNCA a qualquer custo), que forja seu caráter para as batalhas e principalmente para as possíveis derrotas, organiza-se para o objetivo da vitória a curto, médio e longo prazo, luta, luta e se não atingir o objetivo, volta para casa com a consciência tranqüila que fez TUDO que podia ter feito.

É assim que meu avô Michelle ensinou ao meu bom pai Giuseppe, que este me ensinou e que eu agora ensino às minhas pequenas “padawans”.


Mario Moscatelli - Biólogo - moscatelli@biologo.com.br

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